“For sale: baby shoes. Never used.”

Esse é o melhor trabalho de Ernest Hemingway. Não sou eu quem disse. Ele quem disse, juro. Um desafio numa mesa de bar valendo a rodada.

Quantos de nós hoje em dia nos entregamos ao prolixo? Eu mesmo já estou sendo prolixo. Quero enrolar o leitor para fisgá-lo e permanecer o máximo de tempo possível dentro do meu espaço. Só que os apressadinhos já pularam para a última linha, que pode ser a melhor ou pior que escrevi. Talvez o recheio seja melhor. A piada talvez esteja inserida no meio e não quando as risadas nos estimulam a rir forçadamente.

De acordo com Enrique Vila-Matas, escritor de tantos livros, como Suicídios Exemplares, Doutor Passavento, Bartleby & Cia, entre outros, grande parte de sua obra se sustenta em rascunhos. São obras inacabadas. Obras que buscam no passado algo para semear o presente instante. Em seu livro “pocket”, História Portátil da Literatura Abreviada, ele fala sobre um grupo de escritores que querem criar uma literatura condensada – sem excessos – e leve para ser transportada em maletas pelo mundo.

Prolixidade é ruim? Claro que não. Cimentar o assunto, dar um mingau para dar sustância às palavras, é essencial em alguns casos. Imagino que a prolixidade e a ironia são como um preto básico no guarda-roupa de qualquer mulher: vão bem com tudo, mas é preciso ter classe para usar.

Ser profundo não é escrever linhas de mais ou de menos.

Ser inteligente não é citar Foucault, Proust ou Joyce.

Ser bobo não é perceber no fim de um texto que ele não fala nada.