Apesar de todas as probabilidades e estatísticas tentarem me demover da ideia, há alguns meses decidi organizar minha biblioteca por cores. Apesar de possuir apenas duas prateleiras e uma escrivaninha, obtive um resultado razoável.

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Até que, na manhã de um domingo, a parte mais colorida da construção, aquela que formava um papel de parede roxo-rosa-bege-amarelo-laranja-vermelho-marrom, devidamente emoldurado por um friso preto e cinza, desabou. Do nada.

Digo: sei que o universo está em constante movimento e que o bater das asas de uma libélula na Ucrânia provoca a queda de uma pilha de livros em Curitiba. Ainda assim, eu e meu irmão pudemos assistir ao tobogã de papel, certos de que estávamos longe o bastante para não sermos acusados de causadores diretos do acidente. Pegos de surpresa.

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Diário da queda

Tudo bem, eu já planejava limpar todos aqueles livros de qualquer forma.

Tudo em cima da cama.
Tudo em cima da cama.

Da outra vez, o trabalho durou alguns dias. Eu tentei rechear bem as cores, às vezes buscando no armário alguns volumes cujas lombadas ajudassem a compor o visual – sim, minha biblioteca é retrógrada: num mundo em que todo mundo está saindo do armário, mais da metade dos meus livros está escondida em um.

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Qual a necessidade de pegar “A trama do casamento” só para inflar a parte rosa?

Desta vez, resolvi ser prático: só deixar visíveis os que não li, os que estão pela metade (tirando os abandonados definitivamente) e os que li mas vou resenhar. E fui empilhando alguns.

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Antes de começar o tsundoku

Pilha de bons livros lidos: armário.

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Pilhas de livros lidos que não tenho intenção de folhear novamente (mas que guardo para poder emprestar): armário.

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Pilha de livros emprestados (biblioteca e amigos): prioridade na leitura (sempre que possível), é bom deixá-los separados para não perder as datas de devolução.

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Pilha de romances do autor estudado no mestrado: é bom separá-los, em local de fácil acesso.

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Pilha de Grandes Esperanças: as lombadas nunca vão combinar, mas um dia as grandes esperanças passarão à realidade e eu lerei o bendito Dickens.

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Os restantes, meio que juntei sem muito critério – muitos com lombadas de cor semelhante caíram juntos – e formei quatro pilhas entre o box The Complete Calvin & Hobbes e os boxes da trilogia Millenium e da edição mais lindona de Guerra e Paz que há. #tsundoku. Livros costumam ficar bonitos juntos, seja da forma que for, para quem gosta da coisa. #bookporn.

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* * *

Mas uma biblioteca colorida não é apenas isso. Biblioteca não é só o que se tem, mas o que se lê. Além disso, talvez por influência dum panfleto da UFPR anunciando as inscrições para o vestibular, eu passei a associar as cores à palavra “diversidade” – o panfleto é da época em que a primeira turma de cotistas ingressou na federal. Tenho experimentado um pouco disso nos últimos dias.

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Digo: é muito bom finalmente terminar de ler aqueles romances legais que achei que nunca concluiria1 por não me controlar e sempre ler muita coisa ao mesmo tempo. Mas também é legal notar como certas leituras, que antes precisavam de “cotas”, agora são feitas naturalmente: contos de novos autores2, poesia3, livros escritos/feitos por mulheres4. Ou ver a retomada do gosto em devorar uma boa HQ5.

Talvez seja a hora de me acostumar a novas cotas (alguém me indica uma lista de autores não caucasianos ou de autores de países esquisitos dos quais nunca ouvimos falar?) ou de parar de somente acompanhar as resenhas de seus blogs favoritos e passar a ler os livros que indicam (por falar nisso, vocês já conhecem o Queerlist?).

Talvez seja a hora de um bom desafio literário: eu adorei o do Livrada! para 2014, por exemplo. Ele abarca um monte de preconceitos que temos: tem quem não curta os novinhos, tem quem não goste de poesia, tem quem se recuse a ler um livro com mais do que 500 páginas. Eu gostei tanto do desafio que estou empenhado em deixá-lo ainda mais desafiador: pretendo cumprir todos os itens com o mínimo de leituras possível. Tal como ler Em segunda pessoa, de Aline Zouvi: “um livro de contos” (4); “um livro de poesia” (7); “um livro escrito por alguém com menos de 40 anos” (8) – a autora nasceu em 1990; “um livro escrito por uma autora” (15). em segunda pesso

Recentemente comecei a ler dois, ambos escritos por mulheres (15). Um deles poderia ser enquadrado na categoria “um livro que algum amigo te enche o saco pra ler” (14) – não que algum deles tenha realmente enchido o meu saco, apenas implicaram com a minha implicância com o título: A elegância do ouriço, de Muriel Barbery (convenhamos: o título não diz nada). O outro é “um livro escrito originalmente num alfabeto diferente do seu” (9): Kitchen, de Banana Yoshimoto.

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Eu sei que (a) li bem pouquinho dos dois, (b) ambos não se parecem muito com o que o resto do que tenho lido ultimamente e (c), apesar das pequenas incursões de cor nas capas, nestas predomina a cor mais sem graça do mundo: o cinza. Mas não nego que ambos têm dado uma cor especial aos últimos dias.

No final das contas, é isso que indico. Seja na biblioteca, seja nas leituras: mais cor, pfvr.

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Mais Great Expectations:

* Uma canção

* Um filme (trailer)

* Um seriado (abertura)

  1. Digam a Satã que o recado foi entendido, Daniel Pellizzari; As lembranças, David Foenkinos; Uma teoria provisória do amor, Scott Hutchins.
  2. az mulerez, Natércia Pontes; Em segunda pessoa, Aline Zouvi; Colcha de retalhos, Rodrigo Domit.
  3. Solidão de Caronte, Homero Gomes; As coisas, Arnaldo Antunes; Ligue os pontos, Gregorio Duvivier; Cardume, Carlos Moreira; Senhorita K., Marcos Bassini; Em segunda pessoa, Aline Zouvi (sim, o livro é de contos E poesia); Poemas, Sylvia Plath.
  4. az mulheres, Natércia Pontes; Azul é a cor mais quente, Julie Maroh; Opisanie Swiata, Veronica Stigger; Em segunda pessoa, Aline Zouvi; Remy, parceria entre Julia Bax e Diogo Bercito.
  5. Azul é a cor mais quente, Julie Maroh; 100%, Paul Pope; Batman Ano 100 (v. 1 e 2), Paul Pope; Heavy Liquid, Paul Pope; Battling Boy, Paul Pope; Remy, Julia Bax & Diogo Bercito; O pequeno Song, Ricardo Tokumoto; Super Almanacão de Férias da Turma do Ryot Gomba, Ricardo Tokumoto & Luís Felipe Garrocho; Lôcas: Maggie, a mecânica (Love and Rockets), Jaime Hernandez; The Ticking, Renée French; The G.N.B. Double C (The Great Northern Brotherhood of Canadian Cartoonists), Seth.