Outro dia, era uma quarta ou quinta-feira, ele ouviu que ela queria um motivo. Com certeza ela queria que ele desse um e para pedir um motivo, com certeza, era quarta-feira. Era uma quarta-feira e chovia, porque era maio. Era o mês cinco porque ele engoliu o choro, segurou para não derrubar nenhuma lágrima quando a viu pedindo um motivo para ele amá-la. Ele olhava para o chão, para o teto, para a janela com gotículas de chuvas de maio; esfregava a mão no queixo e depois no cabelo – atordoado -, enquanto ela parecia decidida a querer um motivo olhando diretamente para ele, transpondo sua alma errante e hedionda.

Ele entrou dentro de si, vislumbrou seu coração batendo rapidamente, seus pulmões inflando com o ar, o estômago revirando numa dança, os rins filtrando a ansiedade e os músculos se contraindo involuntariamente. Ao voltar a córnea e acostumar-se com a luz, ele respirou mais uma vez e a puxou para perto.

– Se precisasse de motivos, seria apenas para não voltar a te amar. Meu motivo é você. – e a beijou como num filme francês dos anos 40.

Ela mordeu o nariz dele. O motivo era besta. O sangue jorrou.