Anteriormente em Verão Infinito…
Verão Infinito #0
Uma semana voou e vocês nem sentiram 90 páginas, fala sério. “Mas, Felippe, foram mais de 100 se contarmos todas as notas de rodapé.”
Cri, cri.
Nessa primeira semana de Verão Infinito – e hoje começa realmente o verão no Brasil – muita gente conheceu pela primeira vez alguns personagens de Graça Infinita e certos temas que serão explorados ao longo da narrativa.
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OS ANOS
Como deu para notar os anos são contados de maneira diferente em Graça Infinita: primeiro, todos os anos são patrocinados; segundo, o tempo no livro não passa de maneira linear ou cronológica. Passamos pelo Ano Feliz, AFGD 1, AEMT 2, ALCA 3 , ACDTB 4, e vários personagens aparecem, sendo protagonistas das histórias ou meramente citados.
Para quem sentiu certo estranhamento quanto aos títulos dos anos, logo pode se sentir um pouco mais aliviado, de uma maneira bem cômica, quando conhecemos o adido médico do Príncipe Q____,. Nesse trecho é explicado que alguns monumentos como a Estátua da Liberdade carregam os produtos do ano vigente (quem não pensaria naquela estátua idosa com uma fralda geriátrica?).
O calendário subsidiado segue a Lua e não o Sol (explicado na nota de rodapé 304 sendo ela um complemento da nota b da nota 39), o que explica, assim penso, o símbolo no começo de todos os anos subsidiados.
A melhor forma de saber mais ou menos quando acontece um ou outro ano é pela idade de Hal Incandenza. Em Ano Feliz, por exemplo, ele está à beira dos 18 anos, no AFGD com 17; no AEMT tem 10 para 11, etc.
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O CARTUCHO
Até agora não nomeado, o cartucho assistido pelo adido médico aparece em pílulas durante a leitura. É claro que para quem leu a quarta capa já sabe do que se trata mas não quem mandaria para um médico estrangeiro esse filme.
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A FILMOGRAFIA DE JAMES O. INCANDENZA
Uma das minhas partes favoritas dessa primeira semana foi, e espero não estar sozinho nessa, ler toda a filmografia de James Incandenza (Sipróprio). Esse gênio, ou louco – tem pessoas que dizem ser os dois –, e suas ideias mirabolantes para o audiovisual até chegar em sua obra-prima, ou derradeira filmagem, Graça Infinita (V?). 5
Entre os meus filmes favoritos estão: O homem que começou a suspeitar que era feito de vidro, O século americano visto por um tijolo e Homo Duplex (sobre homens do século XX que se chamam John Wayne, mas não são John Wayne).
Essa nota segue como uma das mais importantes, talvez a nota-chave, para o decorrer do romance.
Além do cinema, o gênio não era apenas da área audiovisual. Como bem acompanhamos, ele fundou a Academia de Tênis e também participou de diversos programas do governo. Muitos o chamam de Dr. James O. Incandenza. Quando começou sua carreira como documentarista especialista, passou todos os seus bens e patentes para C.T.
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KATE GOMPERT
A apresentação de Kate, nessas 90 páginas, foi uma das minhas favoritas. Primeiro por passar pelo delicado tema da depressão, doença que poucas pessoas fazem um esforço para entender. Segundo pela franqueza com que DFW trata do assunto.
“Não é vontade de me machucar, é vontade de não sentir dor” (pág. 83)
Esse “não sentir dor” ou apenas parar de sentir é um dos temas abordados por Andrew Solomon em O demônio do meio-dia. Aqui vemos um pouco das angústias de David Foster Wallace como uma pessoa que sofreu durante anos com a depressão, aqui ele se expõe. Ele partilhou isso em outros de seus textos, e um dos meus favoritos é o conto “A pessoa deprimida” 6, em que ele transforma a depressão em uma pessoa. E aqui não acontece o mesmo? Kate não é a personificação da depressão ou da própria doença em Wallace?
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ORIN, MARIO E HAL
“Estou sentado num escritório, cercado de cabeças e corpos.” (pág. 7)
Hal conhecemos desde a primeira página do romance. Grande parte da sua participação nessas primeiras noventa páginas mostram um garoto complexo, de alto QI, mas com momentos de lapsos – ou de ausência? –, em que parece que ninguém a sua volta o entende. É jogador de tênis (um dos melhores, figurando entre os grandes em rankings de jogadores) e viciado em maconha – e se não fosse por que diabos passaria por tantos apuros para fumá-la?
A pista que recebemos sobre essas “ausências” de Hal está no dia 1º de abril de AEMT. Ele está no consultório de um “conversador profissional”, quando do nada percebe algo suspeito e diz que aquele é Sipróprio (seu pai). Isso vem a se confirmar na filmografia de James O. Incandenza com o filme Era um grande prodígio estar ele no pai sem conhecê-lo, que fala justamente sobre um pai que finge ser um “conversador profissional” para descobrir por que seu filho finge que é mudo.
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“Essas piores manhãs, de piso frio e vidros quentes e luz impiedosa – a certeza que a alma tem de que o dia terá não que ser atravessado mas como que escalado, verticalmente, e de que ir dormir de novo no fim do dia vai ser como cair, de novo, de algum lugar alto e íngreme.” (pág. 51)
Orin é jogador de futebol. Aliás, uma das melhores cenas dessas primeiras páginas, entre muitas, é como o jogo de futebol americano mudou após a Reconfiguração. Aliás, imaginar a cena de jogadores vestidos de mascotes para jogar é impagável. Ele tem nojo de insetos e trata suas companhias, em sua grande parte mães (MILF’s), pelo carinhoso apelido de Cobaia 7.
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“Ô Hal?”
“…”
“Ô Hal?” (pág. 45)
Mario (Bubu), como todos devem ter percebido, tem sérios problemas mentais e físicos, mas isso não tira nem um pouco o mérito de ser um dos personagens mais humanos. As passagens protagonizadas por ele sempre dão um toque de leveza – dando um fôlego ao humor negro – nas piadas. Cada vez que Bu, ou Bubu, abre a boca é delicioso. Nessas horas é possível perceber o peso (metafórico) de Graça Infinita.
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Nota sem relevância: chateado por chamarem de ONANITA e não ONANISTA, o novo-super-continente da América do Norte.
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NOTA DE RODAPÉ 35
“Ou seja, presumivelmente, “de-Georg-Cantor”, sendo Cantor um teórico de conjuntos do começo do século XX (alemão também) e mais ou menos o fundador da matemática transfinita, o homem que provou que certos infinitos eram maiores que outros infinitos, e cuja Prova Diagonal de lá por volta de 1905 demonstrou que pode haver uma infinidade de coisas entre qualquer duas coisas por mais próximas que elas estejam uma da outra, Prova D. essa que embasa solidamente a noção do Dr. J Incandenza, da estética transestatística do tênis sério.”
Essa infinidade de coisas entre duas coisas serve como dica de como Graça Infinita tem detalhes dentro dos seus detalhes. Se algo passar despercebido, podemos muito bem perder o fio da meada, não ter a última peça do quebra-cabeça. E aqui cabe um spoiler para denunciar como o livro se constrói através de todas essas infinidades de temas, todos parecem colados, parecem os mesmos, e se repetem, mas faz parte do macro e do micro temático e estrutural. Fiquem atentos às lacunas. 8
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MAIS PERSONAGENS
Erdedy, o viciado que espera. Um dos grandes chamativos é a passagem de Erdedy esperando a mulher cenógrafa trazer para ele maconha. A paranoia dele é contagiosa. Um dos pontos altos do livro.
Tommy Doocey, o traficante de lábio leporino, que guarda cobras em um aquário. Como mora em um trailer, aparentemente é o traficante de Erdedy (ou da fonte de dele).
Don Gately, o viciado que invade casas para roubá-las e comete dois crimes igualmente sujos: prender um velho resfriado em uma cadeira e amordaçar-lhe a boca, culminando numa morte sufocante de catarro; e enfiar a escova de dentes do seu arqui-inimigo bem no meio do seu OPA, PRÓXIMO PERSONAGEM!
Dr. Charles Tavis, a.k.a. CT, irmão adotivo da matriarca dos Incandenza e diretor da academia de tênis no AFGD.
Avril M. Tavis Incandenza, é a mãe de Orin, Mario e Hal. Ela assumiu as responsabilidades da academia de tênis depois da morte de James O. Incandenza.
Jim Troelsch, membro da academia de tênis.
Michael Pemulis, membro da academia de tênis e um ser um pouco perturbado. Tem um jeito tão seu que até criaram o verbete Pemulisiano.
Gerhardt Schtitt, técnico e diretor esportivo da academia de tênis. Um alemão com tendências fascistas, muito admirado por James O. Incandenza e também por Mario, com quem tem uma relação mais próximas que de outros membros e alunos da academia.
Míni Ewell, um alcoólatra. Encontramos ele durante suas desintoxicação e ficamos sabendo um pouco sobre a sua história. No final dessa primeira aparição de Míni, sabemos que mais pessoas foram atingidas pelo cartucho rolando em looping no apartamento do adido médico.
Remy Marathe, é membro do AFR – os assassinos cadeirantes – cuja explicação é mostrada numa nota de rodapé. Aí a importância de nunca pular as notas, uma história dentro de uma história. Nessa mesma parte conhecemos um pouco mais sobre o grupo separatista e de onde vem – Quebec9.
M. Hugh Steeply, contato de Marathe. Praticamente um agente duplo.
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Nota com, ou talvez sem, mas com certeza curiosa, relevância: Bob Hope (a.k.a. maconha em Graça Infinita). Um comediante famoso dos EUA, ganhou dois Oscars Honorários e apresentou várias vezes os prêmios da academia.
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NOTAS DE RODAPÉ 21 e 211
“Tudo bem, eu sou paranoico – mas será que sou paranoico o suficiente?”
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ESTILO E NARRATIVA
Entrar nesse mérito talvez seja necessário. Durante uma conversa com outros membros, muitos me falaram sobre erros de revisão do livro. Pois bem, às vezes um livro gigante como esse pode ter um ou outro erro. É bom lembrar que DFW adorava fazer brincadeiras com a linguagem, erros de concordância, abreviações, etc.10.
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BÔNUS TRACK: 3 entrevistas com David Foster Wallace
O futuro da ficção na era da informação
Entrevista na época do lançamento de Graça Infinita
Essencial para entender um pouco o humor de DFW e outras coisas
- Ano da Fralda Geriátrica Depend ↩
- Ano do Emplasto Medicinal Tucks ↩
- Ano dos Laticínios do Coração da América ↩
- Ano do Chocolate Dove Tamanho-Boquinha ↩
- A filmografia está na nota de rodapé 24 (se estende por subnotas). ↩
- Breves Entrevistas com Homens Hediondos ↩
- Aliás, meio suspeito ele ter essa preferência por mães ↩
- Aqui um pouco do Infinito entre os infinitos https://www.youtube.com/watch?v=swxf6IeRgZw ↩
- lugar citado diversas na narrativa, grande parte na maneira jocosa como falam ↩
- se rolar alguma dúvida, podem deixar aí nos comentários ↩
Massa esse primeiro texto. Se em 90 páginas já aconteceram tantas coisas, imagine no resto. Eu já passei das 90 pq o livro nos ensina a ser muito mais compulsivo. O trecho da espera de Ederdy é das coisas mais sensacionais que li recentemente. Talvez tirar aquele trecho e falar que era um livro já valeria o livro (claro, ainda existiriam coisas por vir). Como o trecho de Kate Gompert, totalmente angustiante e lá no fundo bonito. Em certos momentos ela chega a convencer o leitor que a o suicídio é o fim da depressão, mesmo.
A filmografia é a melhor da história do cinema.
Em certas passagens que mostrava um tipo de relação “familiar” entre os personagens eu fiz bastante link com a prosa do Jonathan Franzen, achei bem próxima. (a amizade talvez tenha influenciado, ou eu me influenciei por saber desta amizade).
A nota 35 é uma das favoritas até aqui, também.
Enfim, que venham as próximas 90 páginas.
abs
Eu considero, nessa nova releitura, essencial para entender muitas coisas, pelo menos para quem está na primeira leitura. Acho uma dica importante.
Quanto a Kate, é um dos momentos mais atordoantes. Não sei se é porque li muita coisa sobre depressão esse ano, mas mexeu comigo ainda mais dessa vez. E a fala que eu separei sintetiza um dos maiores ápices de uma depressão: a vontade de não sentir. Afinal, o que você sente? Não é apenas dor, pode ser uma ausência, pode ser uma ansiedade, uma obsessão. Quase um niilismo físico.
Concordo em gênero, número e grau. A narrativa do trecho sobre a Kate Gompert é de uma sinceridade e vulnerabilidade bem diferentes, mesmo. Dá pra sentir que houve uma tentativa de, se não entender, pelo menos jogar os demônios na página para ver como eles ficariam vistos de fora. Foi, pra mim, uma das melhores e mais eloquentes tentativas de explicar o que se sente quando a depressão toma conta – ou quase.
Essas 90 primeiras páginas pertencem a Kate Gompert. A essa (pouca) altura dividi os livros (sim, porque tem livro dentro de livro ali) em AK e DK (antes e depois de Kate). Pouco importa Hal, Orin, Mario e o esculacho de mil personagens que se alternam em loucuras das mais variadas. Nada se aproxima de Kate. Tudo que vem dela é tão dorido, tão tão incrivelmente dorido que dá vontade de arrancar as páginas pra abraçá-la com a devida atenção.
Superado esse momento desabafo:
Eu tô me sentindo hipnotizado por DFW. Engoli as 90 primeiras páginas em pouco tempo e desde então fico ruminando tudo que aconteceu. Tento ler outra coisa, mas no meio da história alguma porcaria louca pula na minha cabeça e eu preciso, educadamente, pedir licença, oi, por favor, afasta um pouquinho, só posso voltar a você mais tarde, guenta aí. Vou assistir à televisão e no canto da tela, onde antes ficava o logo da emissora, agora fica uma espécie de cadeirinha em marca d’água. E eu pego de volta o tijolo laranja, mas lembro, segura aí, vai com calma, respira, DFW precisa de um pouco de ar também (pelo menos eu preciso enquanto leio ele) .
Só pra terminar dois pontos:
1) a espera de Erdedy é sufocante, lá pelas tantas eu me peguei quase em apneia, segurando o danado do fôlego porque o raio do homem tava doido entre o telefone, e o trabalho e o interfone e as lembranças e os bongs.
2) Orin – e seus copinhos-matadores – e a verborragia seletiva de Hal são sensacionais.
3) (em forma de adendo-nota-de-rodapé): “Tudo bem, eu sou paranoico – mas será que sou paranoico o suficiente?”: tô remoendo isso até agora. Nesse ritmo, antes das próximas 90 páginas paranoico viro eu!
Abraços (até a próxima semana)
onde se lê ‘cadeirinha’, leia-se ‘caveirinha’
É incrível a forma como ao tratar do vício ele faz o leitor ter uma confluência deste vício com o livro. Esse é o que de mais bonito o livro esta se tornando até o momento. E o que todo escritor procura, também. (poucos conseguem).
Realmente, dá uma vontade extrema de abraçar Kate Gompert. Muitas vezes o “silêncio” do médico seja essa vontade.
1) a parte do Erdedy mostra muito como o DFW é um puta narrador. E você descreveu muito bem o sentimento que traz essa parte: sufoco. Você não consegue sair daquela situação e às vezes sente essa ansiedade que, aliás, nunca termina. Talvez alivie porque temos de passar para outra história.
Um adendo: em The Broom of The System, primeiro romance do DFW, rolam histórias dentro de histórias e muitas vezes elas são tão empolgantes e bem escritas que você esquece que aquela não é a história principal.
2) Concordo!
3) Eu imagino muito um Rei Lear só de imaginar aquele pôster.
Incrível! Eu, que trato meus livros com um cuidado maternal, me vi usando de marca texto nas páginas cheirosas do meu livro. Um pecado, crime, sacrilégio, talvez? Talvez, mas não resisti.
Pelo tamanho considerável, nos primeiros dias me vi meio sem jeito até mesmo pra segurá-lo, já que qualquer coisinha pode deformar a lombada.
Cada um dos links que falam sobre o livro e sobre o DFW nos leva a infinitos outros e é indescritível a ansiedade em que fiquei antes de começar a ler.
O mais impressionante é a naturalidade dome DFW pra tratar das coisas naturais, daquilo que é inerente a cada um de nós como seres humanos. A descrição de sensações e situações, cotidianas ou não, te puxa pra dentro da narrativa e te assola com uma força absurda! Acho que é impossível ler Graça Infinita sem deixar (como se você tivesse que deixar alguma coisa!) que o texto mexa com você. Ele te toma e sem pedir licença; é perturbador. Arrebatador. “Lúgubre”, se me permitem a alusão!
No começo é um pouco confuso, ao mesmo tempo em que senti uma familiaridade com cada um dos personagens, pois tudo é abordado de forma natural, de um jeito que te insere no contexto, a repentina mudança no cenário, tempo, personagem te deixa meio perplexo.
As sacadas de DFW são geniais! A criatividade, tudo tudo! Não vou conseguir me segurar e ler apenas 90 paginas por semana (muito menos fazer essa pausa de natal!), mas vou sempre acompanhar o andar da carruagem aqui no Posfácio.
A lista de filmes de Incandenza é sensacional, fiquei completamente maravilhada lendo tudo aquilo! Ele trata do natural, de medos e ansiedades tão comuns de um jeito incrível, pequenas frases que uma leitura desatenta não te permitem saborear…
Meu fluxo de pensamento é descontínuo e confuso, eu sei, mas é que eu estou apaixonada. E eu não sei gostar de alguma coisa sem ficar obcecada.
É um livro maravilhoso que dá vontade de terminar logo e ao mesmo tempo, de não terminar nunca.
Júlia, adorei a parte em que você cita como o texto mexe com a gente. Um dos meus contos favoritos do Wallace tem meia página e acho que sintetiza tanta coisa sobre a vida e fala diretamente com a gente.
A Radically Condensed History of Postindustrial Life
“When they were introduced, he made a witticism, hoping to be liked. She laughed extremely hard, hoping to be liked. Then each drove home alone, staring straight ahead, with the very same twist to their faces.
The man who’d introduced them didn’t much like either of them, though he acted as if he did, anxious as he was to preserve good relations at all times. One never knew, after all, now did one now did one now did one.”
Ele está no livro Breves Entrevistas.
Quanto mais gente ultrapassar, mais intensas ficarão as teorias. Não quero que ninguém se prenda. Tem bastante gente que leu o livro no original e mesmo assim vai participar. Vale a experiência de uma leitura coletiva e online – mais pós-moderno que isso não existe (por enquanto).
Se terminar logo, releia. 😉
Aos leitores viciados e aos viciados leitores,
na edição Graça Infinita em ebook vê-se um erro quanto ao número correspondente da nota de rodapé com a edição física. Assim a nota 304 mencionado por Felippe Cordeiro corresponde a 305 no ebook. O erro da edição digital começa a partir da nota 111 que se transforma em 112¹ quando a data 20 de junho² AL-LQM³ é suprimida por “111.de junho AL-LQM”.
Notas
1) e aí sucessivamente…
2) página 1035 do catatau.
3) referente a carta-física que a sra Avril Incandenza manda pro Orinª
a) Nada de spoilers sobre o conteúdo da carta.
Augusto, valeu pela observação! Mandei essas informações para a editora =)
Augusto, o erro foi corrigido pela editora e estará disponível na Saraiva, Kobo/Cultura e Amazon. As outras livrarias infelizmente não aceitam alterações nos arquivos neste período do ano, então quem comprou o livro pelo iBooks receberá a atualização depois do dia 29 e, nas demais livrarias, só depois do dia 5.
Um abraço
Felipe, quem já comprou receberá alguma atualização, você sabe? Reparei isso do erro na numeração hoje
Sim, se você já adquiriu recebe a atualização. Só depende saber qual local você comprou.
Comprei meu ebook pelo Kobo mesmo e fiz o download direto. Já sincronizei o Kobo duas vezes, mas as notas continuam erradas (inclusive, não pude aproveitar bem esse texto por ter me perdido nas notas 211 e 304). Alguém sabe como corrigir o problema? Devo entrar em contato com a Cultura? Obrigada!
Eu não quero ser a pessoa chata que vem aqui só pra reclamar da tradução, mas “Ano Feliz” foi dose. Glad é uma empresa. Eles fabricam sacos de lixo e embalagens. Sim, a palavra é um adjetivo que significa feliz, contente, satisfeito, mas não faz muito sentido traduzir ela nesse contexto.
Enfim, prometo que eventualmente farei comentários mais úteis; é que tudo de relevante que eu tenho pra dizer meio que poderia ser considerado spoiler nessa altura do campeonato. Em todo caso, gostaria de oferecer a opinião de que não é absolutamente necessário ficar anotando obsessivamente cada detalhezinho da trama pra tentar entender perfeitamente como tudo se encaixa. A confusão às vezes é parte do ponto e tem um sentido temático.
Pensei um pouco sobre o assunto e, de primeira, pensei que as marcas que deram para traduzir, o Galindo colocaria alguma coisa semelhante a português. Como o caso de Happy Meal virar McLanche Feliz. Enquanto Whopper é conhecido por aqui pelo nome original.
Glad não existe no Brasil, ou pelo menos não fora do Sam’s Club, e isso pediria uma tradução.
Claro que estou chutando porque isso ou aquilo.
Quanto a anotar os detalhezinhos, tenho achado divertido nessa releitura. Algumas coisas passaram despercebidas. As anotações são boas para não se perder em algumas histórias.
E, sim, espero que você participe. Ainda mais se for pra ser do contra.
O problema de traduzir nesse caso é que perde sentido ao invés de ganhar. Dava pra deixar no original e colocar uma N.T. ou sei lá.
E eu não sou contra fazer anotações (embora não faça nenhuma), whatever floats your boat, etc. É que eu vejo isso sendo recomendado com muita ênfase em todo lugar onde esse livro é comentado, o que pode acabar fazendo as pessoas (a) acharem que sem isso o livro é impossível de entender, quando está longe de ser o caso, e/ou (b) se preocuparem demais com a cronologia e a trama, deixando meio de lado os temas e como o ritmo da narrativa os reflete. Não existe um jeito “certo” de ler esse livro, claro, mas a cronologia fragmentada e a mistura de estilos gera um efeito bem específico que eu descreveria como tentar fazer sentido do universo enquanto se zapeia por canais de TV ou algo assim, wink wink nudge nudge.
Eu estou esperando para ver se tem algum trocadilho com o pai do JOI, que arranjou um emprego como “Man of Glad” (que não deixava ele nada satisfeito)
Uma coisa que achei muito curiosa foi que o livro imediatamente me remeteu ao filme “Os excêntricos Tenenbaums”. Fiquei com uma pulga atrás da orelha e fui procurar algo na internet – achei alguns textos que cuidavam dessa relação, relatando fatos e tratando tudo como algo mais do que mera coincidência. Infelizmente não me aprofundei na leitura por ter medo de spoilers 😉
Realmente o trecho da espera de Erdedy foi uma das partes mais emocionantes do livro. Acho que mexe muito porque acaba tocando em algo muito humano que todos nós, no fundo, temos – essa ansiedade meio doentia que é mais ou menos exacerbada em cada um de nós, a depender do momento, do objeto esperado e do estado psíquico em que nos encontramos.
Outro trecho que achei incrivelmente delicioso é o que trata do roubo à casa do diplomata, especialmente quando ele relata que normalmente nas casas de famílias ‘comuns’ os panos de prato ficam guardados duas gavetas abaixo daquela que guarda a pradaria do cotidiano. Adorei porque aqui em casa é a mesa coisa e, segundo uma pesquisa rapidinha que fiz com amigos e familiares, com eles é a mesma coisa. DFW é um gênio inclusive nas pequenas coisas! 🙂
Se puder divulgar o texto, quem sabe não o usamos mais pra frente?
Sim, há detalhes impressionantes em coisas que ele escreve, tanto no Graça quanto em outros livros. Gosto muito das sensações que ele descrever em “Forever Overhead”: https://posfacio.com.br/2012/04/11/contos-essenciais-para-sempre-em-cima-david-foster-wallace/
Tô fascinado pelo livro. A espera de Erdedy, a forma como ele enlouquece determinados trechos da narrativa. Me deu bastante interesse pela Geração X (um projeto de doutorado, quem sabe?). Curiosamente, nesse mesmo período conheci Beavis & Butt-Head. Não sei até que ponto DFW e o desenho da MTV dialogam (até porque estou conhecendo ambos ao mesmo tempo), mas, poxa, foi ótimo ter conhecido os dois ao mesmo tempo.
Allan, essa é uma boa pergunta. Seria bom você tentar extrair a Gen X do Graça Infinita ou de algo da obra do DFW. Em algumas entrevistas, ele não sabe explicar ou mensurar a tal da geração X. Porém, entendo a comparação com Beavis and Butt-Head e acho bem válida. Só não sei se tem uma ligação direta ou indireta propositalmente.
Aff, esse final ficou super mal escrito – culpa da pressa! Foi mal 😉
Existe legenda para o terceiro vídeo?
Rômulo, até onde eu sei, a única coisa de DFW que tá legendada em português é o proverbial discurso de formatura, de resto, não conheço mais nada. Só que há uma outra entrevista com legendas em espanhol, e tá bastante legível. Caso te interesse, segue o link: https://www.youtube.com/watch?v=nQUUQC90dDM
Obrigado, amigo. Assistirei à entrevista.
Essa nessa entrevista que ele antagoniza com as críticas que saíram logo após a publicação e celebrização do Infinite Jest, expondo certo incômodo com a maneira como interpretaram suas ambições autorias e literárias..
“I didn’t read a whole lot of the reviews, but a lot of the positive ones seemed to me to misunderstand the book. I wanted it to be EXTRAORDINARILY SAD and not particularly post-modern or jumbled up or fractured and most of the people — the reviewers who really liked it seemed to like it because it was funny or it was erudite or it was interestingly fractured, and so on […]”
Não tenho muito a acrescentar à discussão, apenas deixo duas observações:
1) O trecho do Erdedy é fantástico, de longe o meu favorito até então, junto com o do Don Gately;
2) Don Gately esse que, sem querer, descobri ser citado por Hal no final do “Ano Feliz”, no inicio do livro (pagina 21), to curioso para ver como essa ligação entre os personagens se desenvolve.
Até dia 04 🙂
Luiz e você guarda isso para você? Shame on you. Divide com o resto da galera e como você percebeu isso.
Só não esqueça de colocar SPOILER e /SPOILER =D
Hahahah, eu tinha marcado a página com um post-it por causa dos nomes que apareciam, esses tempos tava repassando as páginas marcadas e me deparei com ele ali, na última linha. SPOILER Além dele também são citados o John Wayne (assim como aqueles do filme do Sipróprio), os pais e alguns personagens que provavelmente não apareceram ainda na história. Depois que descobri isso to marcando com marca-texto todos os nomes que me aparecem, facilitando para achá-los e fazer as ligações entre os personagens. E meu deus como tem ligações: Kate Gombert e Pemulius; Tommy Doocey e um monte de gente (citaram ambos aqui embaixo); Roy Tony da Wardine e do Reginald e os viciados; o Coitado do Tony que, aparentemente, roubou o coração da segunda cidadã americana a receber um coração artificial (eles citam a parte de trás da biblioteca de Boston); Steeply e Orin; DuPlessis e Luria que são citado pelo Sipróprio no capítulo do conversador profissional; etcetcetc. Se eu não sou dos mais observadores para o lance gramatical e para as referências que falam que o livro tem, eu me divirto pra cacete procurando essas ligações. /SPOILER
Socorro, o que foi o trecho da Kate?
Sensacional, não somente pela forma como DFW escreve sobre a depressão, mas também pela forma como o autor vai nos inserindo na mente do médico, angustiado que está em não demonstrar suas falhas para a paciente.
Quando vi aquela página preenchidinha e sem parágrafos do Erdedy, suspirei. Mas que nada, foi só começar a ler pra ver que eu já estava diante de uma das minhas partes favoritas do livro <3
Mas kd comentários pra história dos AFR? MELIOR GRUPO TERRORISTA (NSA, é ficção, mim deixa).
Eu por acaso vi O Estranho Mundo de Jack nesse Natal, e bem quando eu lia sobre o Marathe.
Resultado: só consigo imaginar ele com o look do Dr. Finkelstein do filme do Tim Burton: http://fc03.deviantart.net/fs71/f/2012/034/1/1/all_hearts___dr__finkelstein_by_lynxgriffin-d4oktlb.jpg
1-A leitura da filmografia me fez lembrar do ” Epílogo para monstruos” de La Literatura Nazi en América do Bolaño, os dois livros são de 1996.
2- Curiosidade , existe uma tenista chamada Kate Gompert e consta que ela acionou judicialmente David Foster e seu editor.
A explicação de Gerhardt Schtitt para o tênis (esporte) merece algumas releituras.
Uma frase, dentre as tantas que anotei:
“O prazer feliz da pessoa sozinha, não?” pg 88.
.
Não merece só releitura, merece ser aplicado a todas camadas da vida. A ideia de sermos nosso maior adversário não é inédita, mas é incrível como ele encaixou muito bem esse pensamento na teoria do esporte.
“‘vocês tem que perguntar se o Bob está na cidade. E se eles tiverem erva eles normalmente dizem Quem espera sempre alcança. É tipo um código. Tem um menino que faz você pedir por favor ´pra ele cometer um crime. Os traficas que duram algum tempo no mercado tendem a ser mais para o paranoico. Como se uma coisa dessa fosse enganar qualquer um que tivesse informação suficiente para acessar a frequência do telefonema’. Ela parecia decididamente mais animada. ‘E um cara em particular com umas cobras num aquário lá num trailer em Allston, ele…'”
(fala de Kate Gompert com referências ao Pemulis e ao Doocy)
Putz, obrigado! Acabei de ler a parte do Pemulius e ia vir perguntar quem tinha citado o lance do pedir por favor, reli quase toda a parte do Erdedy achando que era ali e não tinha achado.
Outro errinho (creio) na filmografia imensa diz respeito à como o ano da barra Dove tamanho boquinha é referida num dos filmes (acho que o Low-Temperature Civics — nele tá como “pequeno”, não boquinha). Acho que era isso. Li na livraria, não posso conferir. Ficou parecendo que eram anos diferentes: são?
Gostei da parte da Wardine, li duas vezes ela… Wardine lembrou parte da história da minha mãe, por isso gostei dela.
O Ritmo narrativo desse capitulo em especifico (Ano Chocolate Dove Tamanho-Boquinha) é semelhante ao capitulo do irmão autista do “Som e fúria” o Benjy, ele é doce é ,Wardine, também é e a sua passagem pra maioria passou batida, essa pobreza que ela carrega não está tão próxima de nós como Kate e a personificação da melancolia. Ou Hal que apresenta problemas com a perda (pra mim esse é o verdadeiro vício dele), gostei do James, ele era um artista, e como tal não tinha total controle da sua obra.
Venho tendo dificuldade pra me entregar ao livro, ainda tenho finais em janeiro e isso vem me desgastando, peço desculpa por ser um retardatário, e por favor não se esqueçam de Wardine, ela é a micro-história que esquecemos todos os dias por aqui (no Brasil). E me desculpem, desde já, por ver o mundo literário de forma aleatória, pretendo publicar o post dessa segunda no sábado. E depois seguir junto com vocês.
Desculpa aí, pelos erros ortográficos, HAHA
Alô, Brasil!
Concordo muitooo que Clenette, que é a voz narrativa da história de Wardine, se parece com Benjy. Eu fiquei com essa sensação de familiaridade, mas não tinha conseguido fazer essa ligação até agora. Acho que não apenas Wardine, ou Clenette, mas também Reginald são ingênuos.
É uma passagem muito rápida, mas bastante complexa, muitas informações incompletas.
Sobre Roy Tony, o assassinato, o parentesco dele com Wardine, o parentesco dela com Clenette, que vai ter nenê!
ê laiê!
Ola Fernanda,
O confinamento dessa família é ainda mais tragicômico que na trilogia do Polanski, não vejo uma saída feliz pra Wardine e sua trupe… Gosto da forma que ele escreve, DFW nunca entrega os pontos com facilidade, nós temos que manter o nível pra entender o que ele quer nos passar. Achei tremendamente interessante, também o fluxo de consciência que ele emprega.
Pra cada capitulo, ou personagem estou ouvindo um ritmo de música diferente. Você(s) costumam fazer isso, também? haha
Larguei na página 120. Se não achei a graça até aqui, não acredito que ela está pela frente.
Buenas,meio atrasado, mas vamos lá. Piro na capacidade de ele criar vozes tão diferentes para as personagens – e de usar isso para diferenciá-las. Algumas descrições são de um domínio de observação impressionantes – o movimento de luz e sombra conforme o sol entra pela janela, por exemplo, e o rastro de pequenas partículas que os fiapos deixam. Talvez por causa do humor embutido nele, tenho achado o livro mais melancólico do que triste. E o uso das notas de rodapé é incrível: ou para testar nossa paciência, ou para nos divertir ou para mostrar um pouco mais do eixo da história. A narrativa na parte de Ederdy é a melhor – também achei. E ler o trecho da Kate sabendo que o DFW se matou é de arrepiar.