Publicado pela primeira vez nos Estados Unidos em 18 de agosto de 1958, o romance Lolita de Vladimir Nabokov chega em 2011 tendo vencido as polêmicas e as diversas recusas de editoras, e incluindo termos como ninfeta e lolita em gírias de diversas línguas. Conta já com duas adaptações para o cinema (uma de 1962 dirigida por Stanley Kubrick, outra de 1997 dirigida por Adrian Lyne) e um número infinito de leitores que se apaixonaram pela personagem Dolores Haze tal como ela é descrita pelo professor Humbert Humbert.
Lolita está na lista do Time dos 100 melhores romances de Língua Inglesa de 1923 até 2005. Está em quarto na lista da Modern Library dos 100 melhores romances do século XX. Aproveitamos o aniversário da publicação nos Estados Unidos para falar um pouco deste livro tão marcante.
Liv: Lançado em 1955, o livro de Vladimir Nabokov causou alarde e ainda causa. É um romance com longas doses de drama psicológico, contando a história de Lolita, a doce adolescente de doze anos que não era tão pura como se imaginava. A cada nova página, o livro se torna cada vez mais denso e de difícil leitura, pois o leitor tem a ótica dos acontecimentos narrados por Humbert, que terminou em um sanatório. O livro em si foi moderno para a década de 50 e de certa forma ainda é moderno para o século XXI, porém é uma leitura interessante e arrojada, com um narrador-protagonista obssessivo, frio e calculista, entrando assim no imaginário coletivo como uma das histórias mais importantes do século XX.
Luciano: O tão famoso quanto polêmico livro de Vladimir Nabokov, Lolita, é definido pela Grande Enciclopédia Soviética como ‘um experimento combinando literatura erótica com uma novela de costumes’. Eu concordo: o livro, afinal, assume tons eróticos e indecentes, mas eu vejo o relacionamento de Humbert Humbert e Dolores Haze apenas como uma faceta sintomática de uma doença social que vai muito mais fundo do que confusões perversas e funestas ao se vivenciar o amor e o sexo.
Dindii: Um dos pontos primordiais em Lolita é o fato da história ser contada em primeira pessoa pelo personagem Humbert Humbert (e não poderia ser diferente. É isso que deixa o livro tão acalorado e polêmico). O personagem faz uso de requinte na linguagem, educação e vários ponderamentos para convencer o leitor de que, afinal, ele está certo. Aos seus olhos, ele não é um criminoso ou louco, mas sim alguém mal interpretado por uma sociedade que permite uma pessoa de vinte e poucos anos se relacionar com meninas de dezesseis, mas não de doze ou treze. Além do mais, não são todas as crianças que o despertam interesse, mas sim as nymphets, que não são necessariamente as mais belas, mas tem diversas características e comportamentos que, para Humbert, tornam seus desejos justificáveis e urgentes. Para completar, ainda existe o fato de que Dolores Haze é muito parecida com seu antigo amor de quando era criança, Annabel Lee. Analisando de fora, Annabel também pode ser fonte para justificar o interesse de Humbert por todas as outras nymphets. O relacionamento inesperadamente interrompido dos dois fez com que Humbert envelhecesse fisicamente com o passar dos anos, mas sua referência de sexo, prazer e amor ideais ficaram presas ao passado.
Izze: Dolores Haze não seduz só Humbert Humbert. Ela seduz o leitor. Engane-se quem pensa que ela é uma pré-adolescente inocente e ingênua, levada a se relacionar com um homem mais velho contra a sua vontade. Ela é, na verdade, imatura como qualquer garota, com uma falta de experiência que pode acabar contando como ingenuidade, como se ela fosse uma vítima. Contudo, Humbert Humbert não se deixou levar apenas pelo jeito de ninfetinha, que tanto lhe agrada, e sua beleza. Lolita também teve sua parcela de culpa, que não é ser bonita demais a ponto de enlouquecer um marmanjo. Ela também tem seus desejos a serem satisfazidos pelo professor, e ao ler o relato de Humbert Humbert, o leitor é conquistado, levado a adorar Lolita quase que da mesma forma. É daí que parte a compreensão da obsessão dele pela garota, a acreditar em sua paranóia, a entender a dor que o abandono dela provoca, a compreender a busca incansável para tê-la de volta. Perturbador, não? Sim, e por isso mesmo um livro tão marcante e importante para a literatura. Se Humbert Humbert tivesse resistido ao charme de Dolores e fosse apresentado como um pecador resgatado das garras da tentação, dificilmente estaríamos falando sobre Lolita agora.
Lucas: Lolita é daqueles livros que se saboreia cada frase. O lirismo e a elaboração gramatical e semântica de Nabokov são de um refinamento digno de Humbert Humbert, o homem que se enamora da sensual Dolores Haze, Lolita para os íntimos, cuja história dá corpo ao enredo do romance de 55. O romance de Nabokov é contado pelo próprio Humbert Humbert, um europeu, depositário dos valores tradicionais da cultura européia e dono de um pendantismo refinado e afetado, que vem a América resolver pendências testamentárias da herança de algum parente seu, e acaba conhecendo a célebre Lolita, a “labareda” em sua “carne”. Lolita, embora tenha se tornado famoso pela polêmica do envolvimento de um homem adulto com uma “ninfeta”, tem muito mais do que isso, revela um pouco da tensão existente entre o novo e o velho continente com uma prosa vívida, de personagens muito bem lapidados que acaba deslindando dimensões diversas sobre erotismo, paixão, sexo, condenação, razão e justificabilidade (ou não) de certos atos. Uma obra-prima!
Felippe: Falar sobre Lolita não é uma tarefa tão fácil quanto aparenta. O lado fácil é comentar sobre suas contribuição para a literatura e para o vocabulário – ao inserir duas palavras de conotação sexual: a própria lolita e ninfeta, ambas representando meninas que se desenvolvem e despertam desejos sexuais em homens mais velhos desde os nove anos até os 14. Ler um Nabokov é uma experiência viciante justamente por amarrar temas e estilos variados em uma mesma história, vemos um embate entre a inocência e a prudência, entre a imaturidade e a sexualidade, falso moralismo e as tradições. Há tanto em Lolita para se falar que essa obra não se resume a um romance psico-sexual, é a tragédia de um homem que alcança seu desejo depois de muito esforço e planejamento para ter de pagar as consequências.
Anica: Lolita é uma romance forte, e permanece atual. Choca o amor de Humbert Humbert pela menina recém-saída da infância, mas choca ainda mais o modo como Nabokov transfere a atenção do leitor não para a questão da idade da personagem (embora isso seja constantemente lembrado na história), mas no amor obsessivo do narrador. Aliás, oportunidade sem igual de estudar um narrador em primeira pessoa que busca absolvição através do relato – é interessante observar como às vezes ele retrata Lolita como uma menina interesseira, como se buscando uma justificativa pelos seus atos. A conclusão da história é simplesmente esmagadora, e o que é admirável: não era surpresa, já era contado no início o que aconteceria. E com essa bela obra Nabokov acabou por criar uma das personagens mais fortes da literatura comtemporânea: você pode encontrar quem não tem lido Lolita, mas todos sabem o sentido que esse nome carrega.
Annabel Lee por sinal é um poema muito mais antigo de Poe.
Lolitas aos milhares
se estendem ao longo de praias.
besuntadas por olhares
por grana não podem fugir à raia.
Assisti ao filme que foi feito em 1997, o livro sempre é melhor ainda vou comprar já esta na minha lista.
Gosto desse misto de conceitos expresso na trama como romance, drama, sociedade,
Adorei a visão de cada um, parabéns para a equipe!!!