Joe Sacco é um jornalista maltês que se destacou com suas inúmeras reportagens sobre regiões em conflito, em especial a guerra na ex-Iugoslávia e o conflito árabe-israelense. Apesar de o tema ser batido, a minúcia com que ele descreve os acontecimentos, geralmente a partir dos pontos de vista menos favorecidos, e o modo que escolhe para isso- quadrinhos- são seus grandes trunfos.

Uma de suas obras principais é Palestine, lançado a princípio em nove edições e depois completo em um livro, lançado pela Fantagraphics. No Brasil, a versão completa foi editada pela Conrad, em dois volumes, sob os títulos de Palestina: Uma Nação Ocupada e Palestina: Na Faixa de Gaza.

Nela Sacco conta sua primeira viagem aos territórios palestinos ocupados por Israel, entre dezembro de 1991 e janeiro de 1992, no final da Primeira Intifada. De lá para cá são praticamente 20 anos de ocupação e, apesar das negociações de paz e de mais uma Intifada, pouquíssimo mudou- sendo que o relato de Sacco vale não apenas pelo quesito histórico, mas também pode servir para se ter uma idéia de como é a vida nesses lugares.

Os livros, aliás, dividem-se justamente nesses tópicos: enquanto Uma Nação Ocupada se foca no contexto histórico-político da coisa, Na Faixa de Gaza retrata o modo como se vive lá.

Ele visita hospitais, escolas, casas e esconderijos, mostrando não o conflito e o dia-a-dia dos árabes que viviam sob o julgo israelense, e como essas duas coisas se mesclam: temos, então, histórias sobre condições de vida subumanas, sobre orgulho destroçado e sobre refugiados e prisioneiros.

Não é apenas a dificuldade para se conseguir um trabalho, para se comprar comida ou ter luz elétrica que atrapalha a vida dos palestinos. Além da pobreza e da falta de recursos de maneira geral, eles vivem em um estado constante de medo, oprimidos ao mesmo tempo pelo risco de serem vítimas de balas perdidas e pelo medo de que os israelenses decidam levá-lo e torturá-lo, por achar que sabem algo sobre as guerrilhas.

Os aspectos ‘internos’ da vida palestina também são abordados. A situação das mulheres, bastante variável dependendo do andar da guerra e de se quem detém o poder é o Hamas ou o Fatah, recebe um capítulo inteiro, assim como a vida daqueles que emigraram e sua relação com o mundo que abandonaram.

O foco, porém, é na experiência pessoal do autor. Ele não se ilude ao pensar que pode ser totalmente neutro ou alheio ao que acontece ao seu redor. Apesar de seu objetivo ser apenas o de assistir e relatar, torna-se inevitável que ele participe da ação, e isso torna o livro ainda mais interessante.

Palestina: Na Faixa de Gaza é uma das obras venais de Sacco, um dos mais importantes quadrinistas e um dos mais importantes jornalistas de nosso tempo. Revolucionária em sua forma, é um dos documentos mais interessantes e informativos sobre o tema.

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