Ô abram alas (e desliguem os aparelhos sonoros) que a sessão vai começar!
A terra do samba, cidade maravilhosa e, desde treze de setembro, cidade em que resido recebe o maior e mais importante festival de Cinema do país. Com mais de quatrocentos filmes, divididos em dezenove mostras e exibidos em vinte e quatro praças – incluindo sessões ao ar livre na praia de Copacabana e os inéditos eventos no Complexo do Alemão –, o Festival do Rio este ano promete estar mais forte do que nunca.
O Cristo, de braços abertos no alto do morro, abraça a arte, e eu, paulista recentemente convertido em carioca, abraço essa cidade, cruzando de ponta a ponta para acompanhar o maior número de filmes possível. Pena que os horários se sobrepõem e em muitos momentos me vejo na encruzada de escolher entre dois filmes que me interessam. A 14° edição do Festival teve início oficial no último dia 27, com a exibição do filme ‘Gozaga – de pai para filho’, de Breno Silveira, no clássico Cine Odeon, na Cinelândia. No dia 28 começou oficialmente a minha maratona, selecionando os filmes que me interessam e cruzando com surpresas pelo caminho. Vamos à agenda desse primeiro dia:
Às 14hs: ‘Lay the Favorite’, de Stephen Frears
A surpresa foi encontrar uma Rebecca Hall (a Vicky, de ‘Vicky Cristina Barcelona’) como nunca antes vista, irreconhecível como uma stripper ingênua que se torna bookmaker em Las Vegas, trabalhando para o personagem de um quase-patético e sempre limitado Bruce Willis – que é o pior do filme, junto com uma travada Catherine Zeta-Jones.
Baseado numa história real, o roteiro desinteressante parte de nada para lugar nenhum, além de uma edição confusa e corrida no inicio. Apenas na última meia hora é que a trama tem uma guinada, tornando-se, pelo menos, intrigante – mas certamente esperava mais do todo-poderoso diretor de ‘Ligações Perigosas’ e ‘A Rainha’.
Às 16h40: ‘Quarto 237 – teorias loucas sobre ‘O Iluminado’’, de Rodney Ascher
Esse entra na categoria dos tesouros achados sem querer em meio à centena de filmes. Depois da sessão morna de Frears num cinema do Catete, corri pra Cinelândia para assistir a um filme nacional, mas confundi os horários, a sessão do tal filme seria só às 19h30, depois desse documentário americano intrigante já pelo título. Sem ter o que fazer, assisti ao filme, e adorei.
Com colagens de vários filmes e narrações de desconhecidos apaixonados pelo Cinema de Stanley Kubrick, o diretor constrói diversas teorias insanas sobre os simbolismos de ‘O Iluminado’, o maravilhoso filme de terror que me fez ter medo de Jack Nicholson por muitos anos. As teorias passam de referências ao holocausto ao massacre indígena e até à participação de Kubrick na farsa americana da viagem à Lua. Um prazer e divertimento aos fãs do diretor.
Às 19h30: Premier de ‘Augustas’, de Francisco Cesar Filho e a exibição do curta ‘Fim de Noite’, de Dagmar Klingenstein
Contando com a presença dos diretores dos filmes exibidos, além do júri do Festival, de outros cri-críticos (mais ou menos) profissionais como eu e outros artistas (mais ou menos) famosos, essa foi a primeira sessão em que não houve problemas técnicos – nas outras tivemos problemas de projeção e até o barulho de um ar condicionado quebrado que interrompeu um dos filmes.
O curta da diretora francesa Dagmar Klingentein incita um longa, prende a atenção e é interessante ao mergulhar na melancolia de seu protagonista. Termina inesperadamente, deixando um interesse por mais estória – mas não sei se há.
Já o longa de Francisco é muito menos marginal do que esperava. Por ser ambientado na mítica Rua Augusta (o que me fez sentir saudades de Sampa) e acompanhar um escritor desajustado, esperava algo mais denso ou, pelo menos, mais bem construído. A trama rasa mistura elementos desconexos: prostituição, rituais neoxamânicos, música cubana e usar como cenário dessa estória a Augusta não me pareceu muito acertado. Destaque negativo para o protagonista, Mário Bortolotto, que constrói um personagem bobo, até mesmo irritante.
E esse foi o primeiro dia da minha maratona cinematográfica, correndo muito e sem credencial. Espero partilhar com vocês um pouco do dia a dia dessa corrida pelos filmes, além da minha opinião sobre cada obra e mais curiosidades do evento. Para esse sábado, tarefa difícil: escolher entre o clássico-cult ‘Fuga de Nova York’, com Kurt Russell, na Mostra John Carpenter ou o novo da oscarizada Marion Cortillard, ‘Ferrugem e Osso’. E aí, qual vocês escolheriam?