Escrevi isso no twitter há alguns dias. Pessoas que me seguem e que têm uma relação especial com os livros me deram RT. E achei que este seria o tema ideal para a minha coluna de estreia no Posfácio: os vários elos de uma corrente de trabalho, prazer e coincidências que a literatura proporciona em nossas vidas.

Talvez você não me conheça. Meu nome é Lu Thomé, e eu ganho dinheiro com literatura. Não tanto quanto gostaria, mas o suficiente para me manter na área e me considerar feliz. Sou editora, assessora de imprensa para o mercado editorial e ghostwriter (aqui também atuo como conselheira psicológica de “autores” em crise – mas isso é um tema para o futuro). Faço o que gosto num mercado que admiro. E é sobre esse mercado que falarei sempre por aqui.

E como foi que entrei nele? Pelos livros, claro. Uma leitura chama outra. Um livro te apresenta outro. Um livro te apresenta um amigo, que te indica outra leitura. Que te faz conhecer um escritor pessoalmente. Que te envolve num mercado de vendas, livrarias e porcentagens. Que te faz pensar mil maneiras de encurtar o caminho entre o livro e o leitor, para que os ciclos comecem e se renovem.

Eu sempre li. Sou leitora desde criança, frequentando a biblioteca da escola com prateleiras mais altas do que meus olhos podiam alcançar. Fiz jornalismo e não me afastei dos livros. Já formada, conheci um padrinho especial: o poeta Sergio Napp. Ele me emprestou livros, me ensinou a comentar sobre eles, me falou sobre autores clássicos e contemporâneos. Me deu o empurrão que eu precisava para cursar a Oficina de Criação Literária do Luiz Antonio de Assis Brasil na PUCRS. Este, por sua vez, me ensinou a olhar a literatura com ainda mais profundidade e descobrir que, antes de tudo e para sempre, sou, essencialmente, uma leitora.

Foi na Oficina que conheci amigos, que me apresentaram amigos, que me mostraram o projeto de criação de uma editora. Surgia a Não Editora, ideia compartilhada com Antônio Xerxenesky, Guilherme Smee, Gustavo Faraon, Rodrigo Rosp e Samir Machado de Machado. No seu blog, Samir contou essa história quando a editora completou três anos (agora ela está com cinco). Foram as demandas da Não que me especializaram em comunicação para o mercado editorial, me apresentaram novos autores e me fizeram ver novos jeitos de fazer literatura, em especial com o desafio de vender. Através da editora, conheci a Taize, que me apresentou o Pips, que me fez o convite para que eu mantivesse este espaço no Posfácio.

Fiz este primeiro texto para me apresentar e para desejar, claro, longa vida e muitos livros ao Posfácio. Iniciativas como essa são mais do que necessárias no nosso mercado editorial. Nas próximas colunas, escreverei sobre temas desse mercado. Escritores que ganham fortunas. Todo mundo escreve e ninguém edita. O que faz o sucesso ou o fracasso de um livro. O ghostwriter, esse incompreendido. Quem mexeu no meu texto. O editor e o cálice de fogo.

E por que Página 28? Gosto do número e gosto de páginas. E achei interessante fazer um “o que estou lendo ao produzir cada coluna”. Sempre na página 28.

Até a próxima!

Na Página 28 de Palmeiras selvagens, de William Faulkner:

“Talvez o que realmente os interessasse fossem os relatos das turmas de prisioneiros, brancos e negros misturados, trabalhando em dois turnos contra a contínua maré crescente; histórias sobre homens, ainda que negros, sendo forçados como eles a fazer um trabalho pelo qual não recebiam outro pagamento senão a péssima comida e um lugar numa tenda de chão de barro para dormir – histórias, retratos, que emergiam da voz do condenado mais baixo: os brancos respingados de lama com suas inevitáveis carabinas, negros em fila como formigas carregando sacos de areia, escorregando e escalando a íngreme parede do dique para jogar a fútil carga nas faces da inundação, e voltar outra vez.”