Em pouquíssimo tempo uma banda daqui de Curitiba, ‘A Banda Mais Bonita da Cidade’, atingiu renome internacional (eles saíram até em um jornal italiano) graças a um videoclipe exaustivamente divulgado através de redes sociais. A maioria das pessoas acha isso extremamente ‘legal’, uma prova de que ‘as redes sociais não servem apenas para besteiras, mas também divulgam cultura’.

Imre Kertész, laureado com o Nobel de literatura, em um texto de sua coletânea de ensaios e conferências, ‘A Língua Exilada’, fala sobre ter visitado Viena e que, ao ver que um cinema pornográfico, ao final da sessão, tinha um único cliente saindo, pensou sobre o quão sombrios são esses tempos, em que ‘nem a pornografia é importante’.

Ambas as coisas pertencem a um mesmo mundo, apesar da aparente impossibilidade. De um lado, os entusiastas da banda indie que, graças a uma coisa ‘simples como a internet’, ganhou fama. De outro o pessimismo resignado do sobrevivente do Holocausto que vê que nada mais no mundo tem a importância que deveria nem mesmo- pasme!- a pornografia.

Pessoalmente eu partilho do (des)entusiamos do húngaro. Vivemos em tempos de bandas ruins, poemas vazios, um teatro insosso e uma literatura fraca. O cinema é feito para ser rápido, construído a partir de emoções pré-concebidas. As artes visuais tornaram-se um amontoado de clichês.

Existem, felizmente, algumas exceções. Não me cabe aqui enumerá-las. Não me cabe decidir o que é bom e o que é ruim- não passariam de opiniões, afinal. Mas posso tentar explicar porque eu acho que as coisas são assim, ao menos no que se trata de literatura- é sobre isso que eu falo aqui, afinal.

Talvez a culpa seja das democracias. Em um mundo em que todos têm voz, ninguém tem mais o que dizer. De onde tiraríamos um Kertész, um Borowski ou um Soljenítsin? Certamente a vida hoje em dia é muito mais simples, o que torna o criar artístico muito mais complexo.

Ou não. Existem escritores excelentes que emergiram em tempos e locais democráticos. Pense em qualquer bom escritor vivo hoje e que não é oriundo do leste europeu ou dos países árabes- provavelmente será alguém que invalida o último parágrafo.

Poderia, então, ser o fato de a literatura (e as artes de modo geral) ter perdido importância? Por exemplo, quantos escritores do século XIX e começo do século XX eram médicos? Hoje em dia, porém, se eu levo algo que não seja o grande hit de auto-ajuda do momento ou algum livro técnico para um plantão, eu sou considerado praticamente um alienígena.

Ou, quem sabe, é o fato de os leitores terem se tornado mais ávidos pela celebridade do que pela obra em si? Acho que foi Foucault que citou, em um artigo, um escritor do século XIX que escreveu um romance e depois suicidou-se, buscando promover sua obra. Algo mais ou menos semelhante ao que fez Darby Crash, vocalista da banda punk The Germs. Ambos acabaram esquecidos. A causa dessa obliteração, porém, foi diversa: o tal escritor era simplesmente ruim, já Crash teve o azar de morrer exatamente um dia antes de John Lennon.

Mas, pessoalmente, eu acredito em outra hipótese, muito mais simples. Como já disse meu bom amigo Tiago, falta ódio aos poetas de hoje. É difícil escrever bem quando se está ocupando amando tudo, tentando se manter feliz a todo custo e sorrindo para todos.

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