Andrei Tarkovski é sem dúvida um dos maiores cineastas que existiram nesse mundo. Uma visão e um tato para criar atmosferas, contar histórias e deixar uma marca registrada. Eis que logo após ter assistido A Infância de Ivan (Ivanovo detstvo, 1962), há pouco mais de dois anos, indicam um livro, Esculpir o Tempo, do próprio cineasta contando sua maneira de fazer filmes e quais as mensagens que ele tenta transmitir em cada um.

Em Esculpir o Tempo, Tarkovski transcreve, no início do livro, cartas de pessoas que acabaram de assistir A Infância de Ivan, uns muito revoltados dizendo que o filme não faz sentido e outros tornando-se adoradores das mensagens que o filme passa. A partir dessas críticas o cineasta mostra sua visão e sua vontade de fazer filmes com algo mais, algo que remeta não apenas ao que se vê no filme, mas ao que a pessoa sente. Tarkovski cita várias das cartas de seus fãs que se identificaram com o filme e que sabem exatamente o que ele quis passar. Considerando-o um gênio sobre transmitir emoções. Mesmo assim os não-admiradores atiram pedras citando que a falta de conhecimento cinematográfico do diretor é o que faz seus filmes não trazerem diversão e coerência. Outro ponto abordado pelo cineasta ao citar a criação de personagens.

O livro em si não é uma autobiografia que conta sua história pessoal ou para tentar explicar seus filmes, ou até mesmo tentar convencer as pessoas sobre como são únicos. Longe disso. Apesar de carregar esse peso por causa das anotações e esboços apresentados, a maneira com que Tarkoviski descreve o processo criativo e a construção das idéias e como transportar suas visões para a experiência audiovisual, acabam tornando-o em um manual para escrever roteiros. Suas visões particulares sobre poetas, escritores e cronistas russos (todas as citações tem tradução e no idioma original nos apêndices) e como esses textos o ajudam a compor uma história e até mesmo transpor os excertos literários para as telas.

Tarkovski fala de sua principal preocupação quanto a fazer filmes: Transmitir o tempo no filme sem ter que apelar para recursos de montagem, e nesse ponto o cineasta ensina como fazer um roteiro sem deixar furos construindo uma narrativa concisa, profunda e plurilateral.

“…as personagens mais interessantes são aquelas exteriormente estáticas, mas interiormente cheias da energia de uma paixão avassaladora.” (Andrei Tarkovski)

TARKOVSKI, Andrei. Esculpir o Tempo. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1998. 314 págs. Preço sugerido: R$ 59,70.