cialetras_homem_escuroImagine um universo paralelo, ou melhor, um país, onde grandes acontecimentos não ocorreram e outros estão simplesmente implodindo o sistema político. Dessa forma somos apresentados a um dos lados da moeda nos EUA sem os ataques de 11 de Setembro, mas onde uma Guerra Civil é iminente após as eleições de George W. Bush. Owen Brick tem uma missão: matar August Brill, seu criador.

August Brill é um crítico literário confinado em uma cadeira de rodas, em suas noites solitárias e, de insônia, ele narra a história de Brick. Brill vive com a filha e a neta, ambas viúvas. Usando um exercício metalingüístico (que ultimamente tenho achado muito comum em obras atuais), Paul Auster coloca-se no seu personagem e mesmo sem saber, é tão inválido quanto ele (idealizações banais, reflexões pouco construtivas e diversos clichês são espalhados na primeira parte do livro).

Embora Owen Brick forneça um ótimo material, apesar de risível, a ser analisado, ele simplesmente some após a primeira parte. Na segunda parte do livro, Brill recebe uma força muito maior, saindo da melancolia conformista e indo direto para refúgios reflexivos junto a sua neta, uma estudante de cinema, com quem divide sessões de filmes e sua melodramática história de vida.

Dentre os clássicos analisados pelos dois, “O Mundo de Apu” (Satyajit Ray) contrasta com a realidade americana (tanto a verdadeira quanto a paralela apresentada no livro) como com a história do acidente de August Brill. Todavia, “Ladrões de Bicicleta” (Vittorio de Sica) e “A Grande Ilusão” (Jean Renoir) todos interligados pelas suas temáticas (e por objetos inanimados, uma ótima observação vinda de Brill, num dos momentos mais brilhantes do livro), ou será pura coincidência Satyajit ser discípulo, quase inegável, de Renoir?

E ainda mais, o que todos nós pensamos antes de dormir, ou em momentos de insônia, quando estamos desarmados? Não é uma obra-prima pós 11 de Setembro, mas trata com imaginação e sutileza as memórias de Brill, o homem no escuro.

AUSTER, Paul. O Homem no Escuro. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2008. 165 págs. Preço Sugerido: R$38,00


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