erza-pound-abcliteraturaSapequei um livro das estantes da biblioteca da faculdade. Lembro bem da dica da mestra: “Para quem quer aprender a escrever há um livro obrigatório.” E lá estava, quatro, cinco… todos se mostrando, como vira-latas num canil. Um do lado do outro, capa branca, letras vermelhas. Vários exemplares do Abc da Literatura me olhavam. E lá fui eu. Peguei um e trouxe para casa.

Viveremos uma semana juntos, eu e o Pound. Não o leio como um romance, consulto. Farei dele um manual durante sete dias. Desde os testes, exercícios, das indicações poéticas, tudo… Passarei os olhos apenas, não o lerei como um romance, consultarei.

É daqueles livros-anões que dizem muito. Denso e sedimentado. Eu e Pound travaremos batalhas a cada página. De que isso trata, afinal? O cara é louco? Esse Pound é bom mesmo. Livro obrigatório, sem dúvida. O título diz Abc da Literatura, coisa pouca não há de ser. Mas e essa coisa de dar testes, se dirigir tanto ao aluno como ao professor? De classificar os tipos de escritores, cheio de juízo de valor, de opiniões? Estranho, coisa de nariz empinado. Petulância de autor. Mas o Pound é bom, já dizia a mestrinha. Travaremos batalhas a cada linha.

As referências, as sedimentações, as indicações são profundas demais. Mas… e se não forem? E se forem rasas, superficiais simplesmente por estarem em um Abc disso ou daquilo, e não em um tratado filosófico/etico/retórico completo sobre algo? Nada disso, a profundidade é imensa. Opa, se é! E isso é o pior e o melhor dessa prosa toda: saber que Ezra Pound está a milhas de você e que, mesmo assim, posso travar batalhas com ele, página à página. Sorte a minha.

Sobre o autor: Gabriel Noleto é estudante de jornalismo e pode ser encontrado no blog Depois do Lance.

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* O título faz um trocadilho com as palavras em inglês book (livro) e pound, que serve tanto como nome de uma medida (a libra) como também para o sobrenome do escritor Ezra Pound.