Existe um fetiche em torno dos livros novos. A capa intacta, a lombada lisinha, pronta para ser dobrada na leitura, o cheiro que emana daquelas páginas imaculadas, sem que olhos humanos tenham “gasto suas letras”. Tenho certeza que todos os leitores poderiam cantar loas ao livro novo, arrolando suas qualidades e atrativos, mas o motivo que me levou a escrever esse artigo foi outro: livros de sebo.

Já deve ser do conhecimento de boa parte dos leitores do blog e membros do fórum que tenho uma queda por coleções, principalmente aquelas padronizadas, com capa dura, numeradas, com dourações na lombada e na capa. Sim, eu sei que isso é coisa de nerd, mas fazer o que? Eu tenho essa mania, e os sebos são templos que ainda mantém disponíveis para quem tiver tempo, dinheiro e paciência para garimpar essas preciosidades.

Em minha vida bibliófila de “traça de sebo” (já ouvi também a expressão ‘rato de sebo’) me deparei inúmeras vezes com as edições do Círculo do Livro. Não são propriamente uma coleção padronizada, com a capa igual ou sob o mesmo título de coleção, mas possuem características que eu aprecio muito. Já que estamos falando sobre livro de papel (ainda mais em tempos de Kindle e e-readers em geral), é interessante mencioná-los, inclusive por ser uma experiência editorial curiosa, a qual, quem sabe, voltará a acontecer algum dia.

Dando uma olhada na Internet, descobri que a editora Círculo do Livro surgiu em 1973 com uma parceria com uma grande editora alemã, a Bertelsmann. O sistema de funcionamento implicava que, para participar, era preciso a indicação de um dos sócios, de modo que o novo sócio do “clube” passava a receber o catálogo e tinha de fazer ao menos um pedido por ciclo ou período, que era quinzenal.

A experiência conseguiu reunir um número bastante expressivo de sócios-leitores, algo em torno de 800.000 (segundo a Wikipedia, que cita como fonte o livro O livro no Brasil: sua história, de Laurence Hallewell), mas acabou por ser encerrada em fins da década de 80.

As edições do Círculo do Livro são mais “esguias” que as convencionais, possuem capa dura e, ao que é possível constatar pelas edições comumente encontradas em sebos, bastante resistentes. A seleção de títulos é muitíssimo variada, congrega gostos dos mais diversos, tenho certeza de que qualquer leitor encontrará algo que o agrade ou que chame sua atenção em meio a tantas opções.

Além das características dessas edições que já apontei, as capas se apresentam como um show à parte, há desde as mais legais (na minha opinião):

até aquelas mais… digamos assim, mais “estranhas” (também conhecidas como “bregas”):

Na época em que foram lançados, esses livros tinham alto valor competitivo na questão do preço, inclusive pelo volume com que produziam e o esquema de “clube”, que assegurava uma vendagem mais estável. As várias edições que pululam pelos sebos carregam ainda os preços baixos de outrora, sendo que dificilmente você encontrará edições do Círculo do Livro por mais que R$ 10,00 ou R$ 15,00 (conquanto existam alguns livreiros que peçam R$ 20, R$ 25 ou até mesmo R$ 30,00 por tais livros), fazendo com que o montante da compra seja uma bagatela.

Clássicos, best-sellers, autores conhecidíssimos ou obscuros, com títulos dos quais você nunca ouvira falar ou nomes tarimbados do senso comum; tudo isso pode ser encontrado em meio ao catálogo extremamente eclético do Círculo do Livro. Quem sabe algum dia não poderemos ter uma iniciativa parecida com essa para deixar os leitores brasileiros com água na boca… Enquanto isso não acontece, vou continuar escarafunchando as prateleiras dos sebos, tanto os reais quanto os virtuais.