Muita gente já deve ter ouvido, no auge da adolescência, que amor de Carnaval não sobe a serra – pelo menos é essa a expressão que usamos aqui em São Paulo. Nessa idade, para quem viaja para o litoral, o comportamento é típico: meninas desfilam, meninos assobiam ou batem palmas e alguns se dão bem, outros não, mas no fim é só Carnaval – por mais que um sentimento desperte, é tudo efêmero. Tal estudo antropológico só é possível se você passou por esse momento e se uma vez na vida deixou um amor inacabado. Carnaval, da estreante Luiza Trigo, lançado pela editora Rocco, conta a história de encontros e desencontros durante esse período festivo com uma diferença: quando não quis mais encontrar, a protagonista Gabi achou muito mais do que festança em Recife.

Gabi teve altos e baixos em relacionamentos, não perde tempo para explicar porque mantém e termina um. Faladora, ela explica as surpresas do destino, os amores rápidos, os flertes marcantes e os sentimentos que afloram em encontros inesperados. Ao encontrar as primas em Recife, a cidade que tanto ama no Carnaval, decidida a se divertir e, em falta de palavras mais apropriadas, “tocar o puteiro” entre fofocas e degustação de comidas típicas.

Narrado em primeira pessoa, Carnaval é uma história infantojuvenil na visão de uma garota, ou seja, é um exemplar de chick-lit que pode muito bem ajudar a acabar com aquela fantasia masculina de que meninas são puras e não pensam besteira. Outra vantagem é que Gabi é uma narradora que conta tudo com entusiasmo e seus diálogos e confissões são quase reais – por vezes muito açucaradas e em outras se afastando disso, numa ambiguidade que parece um deslize leve da escritora em querer equilibrar para não soar deveras feminino -, muitos adjetivos usados, como “superindelicado”, parecem críveis. Esse descompasso também é presente em alguns momentos onde alguns diálogos soam forçados por parecerem jovens se conhecendo através de conversas travadas que deslancham em assunto triviais.

O grande atrativo, no entanto, é a descrição física e sensitiva de Recife pelos olhos da protagonista. Quem nunca esteve na cidade com certeza se encantará pelas minúcias descritas pela autora através de sua personagem – uma recifana de coração, praticamente.

Como é narrado por uma garota, não haverá muitos leitores masculinos para esse exemplar. Quando Gabi se vê apaixonada outra vez, caímos no universo feminino de realização, e isso é muito, muito longe do que os meninos querem saber, e não é só de conversas femininas ou suspiros apaixonados que o livro se sustenta. Luiza Trigo abusa de referências musicais e cinematográficas.

Carnaval é um livro para meninas sim, claro que nada impede um garoto de ler e gostar, afinal, a curiosidade da humanidade masculina não será sempre entender as mulheres? Pois bem, Luiza Trigo entrega com sinceridade o seu relato sem abusar de sentimentalismo e sem cair no vulgar, mas nada impede do livro transpirar tudo isso.

TRIGO, Luiza. Carnaval. Editora Rocco, 2012. 146 págs.