Os dias passam na Terra do Cinema (também conhecida como Rio de Janeiro) e quem acompanha o Festival vai descobrindo truques para chegar aos locais de sessão, quais cinemas têm mais fila e quais são vazios. Além disso, para quem não conhece muito bem a cidade, essa é uma ótima oportunidade de visitar os mais importantes centros culturais.

Nesses últimos dias, tive a oportunidade de conhecer o lindíssimo cinema Odeon, na Cinelândia, uma sala imensa, com estrutura de teatro de ópera e com um belo lustre pendendo sobre nossas cabeças (alou, Fantasma da Ópera!). Também fui ao antigo Roxy, em Copacabana, e na adorável sala dois do Centro Cultural da Justiça Federal, na Avenida Rio Branco; também belíssimas e históricas. Mas nesta sexta feira, montei acampamento no meu querido e conhecido Cine Estação, em Botafogo.

SEXTA FEIRA, 5 DE OUTUBRO

Às 16hs: Nós e Eu, de Michel Gondry

Dizer que esse novo projeto de Gondry é experimental é desconsiderar toda sua filmografia. Gondry sempre foi experimental, ainda assim, esse filme é um ponto fora da curva, não pela técnica, mas pelo tema: Num ônibus que corta o Bronx, dezenas de alunos de uma escola pública fazem o último trajeto até suas casas, antes das férias de verão. As multi-estórias envolvendo esses jovens de periferia são contadas através de recortes, junções e sobreposições de imagens que parecem impossíveis. Como já feito em Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, Michel monta uma série que efeitos visuais desconcertantes, criando a estética que lhe é muito pessoal. Destaque para uma ponta de Spike Lee.

Às 18hs: Tabu, de Miguel Gomes

Na crítica do filme francês Os Intocáveis, discorri sobre a supremacia de distribuição no Brasil de filmes desse país e critiquei o fato de que poucas obras independentes de outros países chegam por aqui. Tabu é um bom exemplo.

Nesse filme dividido em dois, conhecemos, na primeira parte, Aurora, uma senhora viciada em jogos de azar, cismada de que sua empregada Santa lhe enfeitiça com macumbas, que pede ajuda à sua doce e extremamente católica vizinha, Pilar. Na segunda parte, praticamente toda narrada, com pouquíssimos diálogos, conhecemos a juventude de Aurora na África, onde viveu com o marido, além de um tórrido caso extraconjugal e uma tragédia que explica seu comportamento depressivo e a velhice solitária.

Exibido no panorama Imagens de Portugal, o filme de Miguel Gomes é uma pequena joia em preto e branco, que remete a A Fita Branca, de Michael Haneke, mas certamente com mais humor e espirituosidade.