Uma semana em que todo mundo (inclusive eu) compartilhou uma matéria do IG que fala sobre os jovens workaholics. Um mundo onde ninguém na faixa dos 20 anos vive sem Facebook, WhatsApp, Instagram e e-mail corporativo. 

Em meio a este mundo, que provavelmente é meu, seu e de uma galera, morreu Chorão. Notícias pingaram aqui e ali dizendo que não há evidências ainda de que o pó branco encontrado seja cocaína, mas com a polícia científica na foto que ilustra os textos.

Enquanto isso, o Amarante produz seu disco, a Banda Mais Bonita da Cidade divulga sua passagem por São Paulo e o Daft Punk “vaza” sua nova música.

http://www.youtube.com/watch?v=xGDDfx8tJiA

O que virou, hoje, a indústria musical? Ainda é uma indústria? Ou virou um centro hiperativo de boas e más ideias sendo compartilhadas o tempo todo no Facebook? Por que Chorão, aos 43 anos e responsável pela trilha sonora da vida de boa parte dos atuais adultos brasileiros, ainda precisava fugir de sua realidade e acabou cometendo esse “suicídio inconsciente”?

É mais do que comum andar pela zona Oeste de São Paulo e dar de cara, o tempo todo, com alguém com o violão nas costas. São artistas vindos de todos os lugares do país para tentar uma chance num cenário como São Paulo – com espaço e público para todo mundo, com shows sem cachê para animar a população de segunda a segunda. São músicos arquitetos, jornalistas, advogados tentando conquistar um espaço que Chorão tinha, mas que, de alguma forma, não era o bastante.

Falta filtro, falta bom senso. Falta investimento em educação (porque ser músico é também estudar para isso) e falta investimento (honesto) em cultura. Explico.

O excesso de informação confunde o público. Filtre. Ouça coisas novas, porque elas ajudam a expandir seu conhecimento. Ouça coisas boas e ruins a ponto de saber diferenciar. A ponto de abraçar uma causa e ir aos shows, comprar o suado EP feito com as próprias mãos. Você fez isso com o EMICIDA, por que não pode fazer com outros bons nomes? Tenha bom senso. Tenha sensibilidade. Uma coisa não é ruim porque é pop. Uma coisa não é boa porque é rock. Isso é uma questão de execução e influência comportamental.

Talento e dom também precisam de professores. Não adianta ter o dom de escrever se você não foi alfabetizado. Entende? Músicos não são vagabundos, eles estudam bastante para que o som que você ouve seja limpo ou propositalmente sujo. Um disco não é uma pizza. Leva meses para sair e deve ser tratado com o mesmo carinho com que foi feito.

Há investimento em cultura sim. Há editais, há projetos. E há uma máfia gigante por trás disso tudo, que tira de quem está na luta entre outros empregos e a música para dar àqueles que possuem influência. Não dá para generalizar, é óbvio. Mas existe sim um desrespeito à arte.

Aí então, alguns dois ou três produtores que já possuem cacife o suficiente mandam e desmandam no grande mercado de shows e no pequeno mercado de discos, enquanto velhos guerreiros vivem de Ecad. E o Chorão provavelmente teria continuado batalhando seus shows por um cachê que passa bem longe do Luan Santana, e a banda que acabou de ganhar um VMB e um prêmio Multishow é chamada para fazer um espetáculo de graça, pela “relevância” do evento.

Não se paga aluguel com relevância.

#RIPChorao