Na sexta-feira do dia 12 fui ao Auditório do Ibirapuera assistir ao show do cantor Di Melo, o Imorrível, com a banda dos amigos Charlie e os Marretas e, devo dizer, foi sensacional.

Pra quem não sabe, Di Melo é um pernambucano, autor de um único disco, homônimo, de 1975, que tem como hit a fantástica “Kilariô” (“raiou o dia eu vi chuvê em minha horta…”). Já Charlie e os Marretas é uma banda paulistana composta por alguns jovens apreciadores do bom funk – não só o de James Brown, dirão no seu site oficial, como também aquele proveniente de New Orleans, da África e do Brasil.

Depois desse show, me peguei pensando que a música brasileira tem sim, ao contrário do que se ouve por aí, um futuro próspero. Ora, quem sou eu para bradar uma frase profética dessas por aí. De fato, não sou nenhum oráculo, mas só de pensar nas bandas jovens que vêm fazendo sucesso recentemente, tenho confiança de que essa profecia irá se realizar.

Digo isso porque não raro já ouvi coisas do tipo “a música brasileira nunca será a mesma depois da Tropicália”, ou “impossível surgirem outros Chicos e Miltons no Brasil”. Será? Muito dessa desilusão tem relação com o sertanejo universitário, ou com o funk carioca, que fazem um enorme sucesso no país e fora dele, mas são consideradas produções de baixo rigor musical pela elite.

Independente da reverberação nacional e internacional de Michel Teló ou de MC Catra, creio que o Brasil tem abertura para todo tipo de gênero musical, não só por causa do seu público heterogêneo, mas também pelas inúmeras referências presentes país afora. E essa é uma das maiores belezas dos trópicos.

Gils convivem com É O Tchan, que por sua vez convivem com Ivetes e Daniela Mercurys, que são do mesmo estado de Caetano, que é irmão de Bethania, que cantou com Erasmo Carlos, que por sua vez era amigaço de Robertão e era contemporâneo de Tim Maia, que nasceu no mesmo lugar que Jorge Ben, que flertou com a Tropicália dos Mutantes, do Tom Zé, do Caetano e do Gil.

A música não é de uma nota só e a brasileira muitos menos. Por isso, acho muito difícil e demais desilusório dizer que não nos resta mais esperança no ramo, sempre tão cultuado e bem feito por aqui.

Mas, então, quem representa esse futuro tão ilustre?, perguntarão os desesperançosos. Não quero citar somente Criolo e Emicida, os highlights dos jornais de hoje, que também considero muito bons, mas sim um pessoal mais novo do tipo: O Terno, Trupe Chá de Boldo, o já citado Charlie e os Marretas, Garotas Suecas, Memórias de um Caramujo, Filarmônica de Pasárgada, Mustache e os Apaches, Pitanga em Pé de Amora, Bixiga 70, Primos Distantes, 5 a seco e tenho certeza que muitos outros.

E digo isso não só porque o som desse povo me agrada, ou porque vou com a cara deles. Digo isso porque esse pessoal está aparecendo nas rádios, nos programas de tv, nas Viradas Culturais, em festivais como o Planeta Terra e outros. Independente do seu gênero musical, são bons artistas, têm rigor, criatividade, estilo próprio. Estão ganhando prêmios e estão tocando com músicos há muito estabelecidos e reconhecidos por seu talento, como Tom Zé, Di Melo e Lenine. Além disso tudo, todos disponibilizam download gratuito em seus sites oficiais, o que mostra que eles já estão um passo a frente, porque entenderam seu público.

Espero que a minha profecia se torne realidade e que eles prosperem de acordo com a minha aposta. Enquanto isso, vou acompanhando seu progresso de perto, enquanto ainda é possível.

Ficou curioso? Ouve:

– 5 a seco – Feliz pra Cachorro

– Primos Distantes – Dragão

-Filarmônica de Passárgada – O seu tipo

– O Terno – 66

– Trupe Chá de Boldo – Na Garrafa

– Garotas Suecas – Banho de Bucha

– Bixiga 70 – Tema de Malaika

– Charlie e os Marretas – Watergate

http://www.youtube.com/watch?v=HPd6Sz2vx1w

– Memórias de um Caramujo – O Voo

– Pitanga em Pé de Amore – Choro (Bate Boca)