Mesmo que em recente pesquisa aponte-se que os homens dominam o mercado editorial como escritores, como resenhistas (ou críticos, como queira) e como personagens, não podemos esquecer que as mulheres são marcantes no mundo das letras; não caberia a uma simples introdução falar de todas elas.

Grande parte das mulheres da literatura são sofredoras, e os maiores exemplos estão nas peças de Shakespeare. Ofélia, prima de Hamlet, enlouquece após a morte do pai. Antes disso já sofria com a indiferença do primo, e ainda termina por se afogar. Depois, para citar apenas mais um caso, temos Julieta e sua luta para ficar ao lado do seu amor, Romeu. O final trágico, todos sabem.

Outra grande mártir foi Hester Prynne, a adúltera de A letra escalarte, obrigada a andar com uma letra A (de adúltera) para que todos da cidade saibam quem é. Uma prova de fidelidade e luta de Hester é que ela não revele quem fora o pai de sua filha bastarda, tampouco a nova identidade do seu marido, o corno. Aqui a culpa, as crenças e moralidade são colocadas em cheque.

Mantendo o tema adultério, temos Anna Karenina, personagem imortal de Leon Tolstói, uma mulher festeira e sensual, mas também mãe dedicada e mulher recatada. Conhecer seu percurso é viver numa montanha-russa com essa personagem, amando-a e odiando-a, tudo ao mesmo tempo.

E se vamos falar de adultério: Capitu, traiu ou não?

A literatura também presenteou leitores com mulheres fortes e independentes. Jane Eyre, personagem que dá título à obra, é um exemplo de força feminina. Enfrenta uma tia diabólica, se apaixona, descobre segredos terríveis sobre o marido e decide fugir; e até passa fome. Um símbolo de libertação e independência do casamento.

Nos exemplos atuais temos Katniss, de Jogos Vorazes, que para proteger a irmã se oferece para participar do reality show que dá nome à série. Desde o princípio Katniss precisa tomar decisões difíceis, de vida ou morte, literalmente, baseando-se apenas em suas próprias convicções – não que ela também não se divirta atravessando com flechas seus inimigos.

Outra personagem forte dos últimos tempos é Lisbeth Salander, da Trilogia Millenium. Os livros da série trazem temas pesados como tráfico de mulheres e estupro, que precisam ser enfrentados por uma personagem forte e inteligente, uma punk-hacker que passou por traumas irreparáveis na infância e não hesita em se envolver em grandes investigações. A inteligência e independência, aliadas a sua força, dão vida a uma personagem determinada, odiada por aqueles que tentam subjugá-la.

Não podemos esquecer que a galeria de mulheres inesquecíveis tem Hermione Granger (Harry Potter), Éowyn (O Senhor dos Anéis), Lyra Silvertongue (Fronteiras do Universo), Catherine Earnshaw (O Morro dos Ventos Uivantes), Clarissa Dalloway (Mrs. Dalloway) e a minha favorita de todos os tempos, de Grande Sertão: Veredas, de quem é melhor não falar muito (aqueles que leram o clássico brasileiro entenderão).

E menções desonrosas: Bella Swan e Anastasia Steele.

Não vamos esquecer, porém, das grandes escritoras. A editora Cosac Naify tem uma seção totalmente dedicada às Mulheres Modernistas e conta no seu catálogo com nomes como: Virgínia Woolf, Flannery O’Connor, Gertrude Stein e Natalia Ginzburg. A Companhia das Letras também tem seus títulos, um pouco mais puxados para “histórias reais” como Infiel, de Ayaan Hirsi Ali; As Boas Mulheres da China, de Xinran; Olga, de Fernando Morais; e Não Há Silêncio Que Não Termine, de Ingrid Bittencourt.

Porém não adianta ficarmos apenas na literatura, a homenagem não deve ser apenas uma lista de indicações. Lembremos que pelos idos de 1857, trabalhadoras de indústrias textil de Nova Iorque exigiam direitos de trabalho e condições dignas de trabalho. Era 8 de março.

Um grupo de 120 funcionárias, entre 14 e 32 anos, foram queimadas vivas num incêndio causado pelos proprietários da fábrica e pela polícia. As mulheres exigiam direitos trabalhistas, profissionalização e o fim do trabalho infantil. Os donos trancaram todos na fábrica para não aderirem à greve. Era 8 de março.

Por isso, antes de ser um dia a se comemorar, é um dia para lembrar da luta das mulheres que – reais ou ficcionais, da literatura ou do cinema – serão sempre grandes mulheres.