Do Leme ao Pontal, Ipanema, Arpoador, Botafogo, praia do Diabo, da Macumba, da Urca, a Vermelha e é claro, a mais famosa do mundo, a de Copacabana. O mar abraça o Rio, invade lindamente a Baía de Guanabara e é uma das principais causas que fizeram desse cenário um dos mais belos do mundo – apesar de todos os pesares.

Hoje, porém, outro tipo de mar entrará em pauta, que mesmo com as diferenças, de alguma forma ainda se relaciona às águas do Atlântico e também embeleza a cidade de um jeito estonteante: o Museu de Arte do Rio, o MAR, recém inaugurado na região portuária da cidade.

Com custo de R$ 80 milhões, parceria entre a prefeitura do Rio e a Fundação Roberto Marinho (eles estão por toda parte!), o MAR é a primeira dentre as obras de revitalização urbana e sustentável da zona portuária a ficar pronta. O projeto completo, chamado de Porto Maravilha, com orçamento de R$ 7,6 bilhões, inclui a reestruturação de ruas e avenidas, implantação de ciclovias, plantio de árvores e outras obras de infraestrutura que contemplarão uma área de aproximadamente cinco milhões de metros quadrados – com destaque à construção do Museu do Amanhã no píer Mauá, obra empreendedora que tem tudo para se tornar referência artística mundial.

Tais ações obviamente estão relacionadas aos importantes eventos que ocorrerão na cidade a partir deste ano. Entre a Jornada Mundial da Juventude (logo mais em julho) com a presença do papa e as Olímpiadas de 2016, o Rio de Janeiro abrigará a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e pelo menos mais um Rock’n’Rio, além de a cada ano centenas de milhares de novos foliões no Carnaval.

O MAR, inaugurado em 1° de março, aniversário de 448 anos da cidade, pela presidente Dilma Rouseff, está localizado em região histórica, na praça Mauá, intimamente relacionada ao passado escravagista, e na esquina da principal avenida da cidade, a Rio Branco.

A estrutura de quinze mil metros quadrados é ousada ao unir por uma passarela dois prédios muito diferentes, o palacete Dom João XVI, de 1916 e estilo eclético, e a obra moderna assinada pelo escritório Bernardes + Jacobsen. Porém, o destaque arquitetônico que fascina é a cobertura em formato de onda, pesando 800 toneladas, assinada pelo jovem Bernardo Jacobsen.

A visita ao museu começa justamente pelo seu ponto mais alto. Os visitantes, logo depois de comprarem o ingresso (R$ 8 a inteira, grátis às terças), são levados de elevador à cobertura de Bernardo, sendo arrebatados pela vista da cidade. De lá é possível ver a ponte Rio-Niterói, logo ao lado, a construção do Museu do Amanhã, além das montanhas banhadas pelo Sol e, é claro, o mar dessa cidade tão maravilhosa.

A partir daí, a visita segue em direção ao solo, descendo andar por andar. Os salões de exposição são acessados por escadas e o objetivo desse fluxo é fazer com que o espectador tenha a sensação de estar mergulhando no Rio, mergulhando no mar e no MAR e, sobretudo, mergulhando na arte.

Mergulhar na arte no MAR não é tarefa difícil: são oito salas de exibição, com três mil obras (acervo ainda em construção) e uma biblioteca já com cinco mil títulos. Entre os artistas, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Nicolau Facchinetti, Adriana Varejão (de novo ela) e até uma escultura de Aleijadinho (a primeira a ser exibida num museu carioca), além de peças feitas por membros de comunidades locais, como a incrível Mini favela, dos meninos do Projeto Morrinho (imagem abaixo).

Projeto Morrinho

Um dos doadores mais importantes nessa estreia do MAR foi Jean Boghici, marchand romeno que reunia em seu apartamento em Copacabana obras importantíssimas, distribuídas de forma aleatória e insana, com modernistas ao lado de artistas espontâneos ao lado surrealistas ao lado de abstratos… O formato foi mantido pelo museu, que na mostra O Colecionador, com organização de Daniela Thomas (diretora de Insolação, 2009) e outros, respeita o estilo da coleção, fazendo um agrupamento em forma de sístole e diástole, em dois círculos: um que se expande e que leva o espectador a circular a instalação; outro que se contrai num círculo em que o espectador fica no centro de uma constelação de quadros.

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A sístole e diástole do MAR – Rio: o espectador no centro da pulsante arte.

A sensação do “mergulho” no MAR é a de um passeio eclético e muito prazeroso. Saímos de lá sentindo que nossos olhos não deram conta de apreciar tanta arte, para essa irremediável sensação a única posologia é repetir a visita. Assim, o MAR se firma como um museu de onde já saímos com o intuito de voltar muitas vezes mais.

O museu que tem a pretensão de receber duzentos mil espectadores por ano (metade alunos de escolas públicas), recebeu doze mil visitantes em sua primeira semana, três mil e quinhentos no primeiro dia.

Além de abrigar o fabuloso museu, o projeto MAR também será sede da Escola do Olhar, primeira escola pública de artes, que pretende oferecer cursos regulares para jovens, formação profissional e também cursos de curta duração para interessados, assumindo a melhor das iniciativas de integração entre arte e educação.

Está nascendo um novo Rio? Espero que sim. A cidade tem uma incrível oportunidade em mãos, em que estará sob os holofotes do mundo nos próximos tempos, e deve abraçar essa chance como definitiva para a recuperação de suas degradações, para reestruturação de suas faltas e falhas, para cura de suas mazelas e para que Rio de Janeiro se torne uma ótima cidade não apenas nos cartões postais ou para os turistas que aqui passam alguns dias, mas também para seu povo, que labuta diariamente, sob um generoso e intenso Sol e que irremediavelmente ama essa cidade. Dê um pulo no MAR.