Com quantas dores de cabeça se faz um Cinema nacional? Quantas vezes mais sairemos decepcionados depois de uma sessão de Cinema brasileiro com ingressos a dezoito (!) reais?

Giovanni Improtta é o projeto de um cinéfilo: José Wilker, ator de alguns clássicos como Dona Flor e seus dois maridos (1976) e Guerra dos Canudos (1997) é notadamente um conhecedor do Cinema e por isso sempre comanda as transmissões da Globo dos Academy Awards. Contudo, com essa sua obra prova que não basta ser ator ou fã de Cinema para fazer um bom filme.

Giovanni é um personagem literário do conhecido novelista Aguinaldo Silva. Apareceu no livro O Homem que Comprou o Rio (Editora Brasiliense, 1987), mas fez sucesso na novela Senhora do Destino (2004) com seu jeito canastrão, hedonismo e, principalmente, mau uso do vernáculo, eternizando o bordão: “Felomenal!”. Com o fim da novela, manteve-se vivo pelo livro Prendam Giovanni Improtta (Geração Editorial, 2005) e agora volta requentado no pastelão de José Wilker.

No filme, Giovanni tenta limpar seus negócios através da legalização dos cassinos, mas acaba preso acusado de ser mandante de um assassinato, traído por um dos seus funcionários. Com Andreia Beltrão (muito mal aproveitada) no papel de sua mulher e esquecendo alguns personagens de sua história pregressa na tevê e na literatura (nenhuma menção é feita à sua musa Maria do Carmo ou à sogra, dona Flaviana), o filme passa longe de fazer algum sentido ou encontrar o tom certo do humor

Entusiasta do bom Cinema, Wilker não parece levar sua obra a sério. Não apenas mal roteirizado – o roteiro é de sua filha, Mariana Vielmond –, o filme também é mal dirigido, com takes pobres, edição ruim e um final simplesmente muito-mal-feito. Os personagens são caricaturas das mais forçadas e a cenografia, que parece ter tentado ser kitsch, não atinge mais do que o absolutamente-brega.

Mas o que mais incomoda é ver seu realizador justificar a obra como uma “retrato da malandragem carioca” e “um espelho do Rio de hoje”. A declaração, não apenas errada, é também estereotipada, revelando um total desconhecimento de Wilker sobre a nova realidade carioca, em plena efervescência e mudanças diante dos grandes eventos que se aproximam.

Giovanni Improtta é um filme desencaixado de seu tempo, com piadas que não funcionam (a maioria delas já foi feita com muito mais qualidade pelos Trapalhões) e um protagonista que não tem mais apelo popular.

Além de tudo isso, temos ainda que aguentar Wilker dizendo que suas referências foram Pulp Fiction (1994), Fargo (1996) e a série americana Família Soprano (1999-2007). Wilker, seu trabalho passa muito longe de tudo isso. Não apenas deles, mas na temática do submundo do carnaval e da contravenção carioca, também passa longe da qualidade da série da HBO Filhos do Carnaval (2006).

O humor de Giovanni Improtta é ruim, e nem mesmo seus erros de pronúncia funcionam em cena, provocando silêncios da plateia dos mais embaraçosos que já presenciei. Com um roteiro que encadeia erros de pronúncia que nem o cidadão mais atabalhoado seria capaz de cometer, a característica mais marcante de Giovanni transforma-se em apenas uma forçada imitação do Seu Creysson, do Casseta e Planeta.

Coroando essa grande tragédia, estão participações especiais do entourage de Wilker que só causam mais da boa e velha vergonha alheia: Jô Soares destituído de qualquer habilidade de interpretação faz o presidente de um clube que Giovanni chantageia, e o diretor Cacá Diegues (também produtor dessa bomba) aparece fazendo uma piadinha sem graça, sem fundamento e bem ultrapassada.

Giovanni Improtta é um filme egocêntrico: Wilker filmando Wilker fazendo um personagem eternizado por Wilker – e parece, infelizmente, que inicia uma nova onda no Cinema nacional, a de spin offs de personagens de novela para o Cinema: o diretor Bruno Barreto atualmente dirige Super Crô, sobre o personagem Crodoaldo Valério, de Marcelo Serrado, da novela Fina Estampa, também de Aguinaldo Silva. Só nos resta torcer para que o resultado de Barreto seja melhor do que o de Wilker – pelo menos sabemos que melhor diretor ele é 1.

  1. dedicado a @Bruno_Volcof , fã de José Wilker desde criancinha