“No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto a Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto a Deus e o dever do monge fiel seria repetir cada dia com salmodiante humildade o único evento imodificável do qual se pode confirmar a incontrovertível verdade.”

Assim começa O Nome da Rosa, livro que tornou o italiano Umberto Eco um autor reconhecido no mundo todo. Publicado originalmente em 1980, a obra retrata a vida em uma abadia no norte da Itália em meio a assassinatos, enigmas e divergências teológicas e políticas.

Sabendo que não iria viver por muito mais tempo, Adso decide em sua cela no mosteiro de Melk narrar fatos ocorridos muito tempo atrás, na época em que ainda era noviço e tinha como mestre o inglês Guilherme de Barkerville. Esses acontecimentos se deram num período conturbado da história, o início do século XIV. As heresias se multiplicavam, as várias ordens tentavam tomar a verdade da Igreja apenas para si e os imperadores desejavam esmagar o poder do Papa. Era também o tempo do renascimento cultural europeu, quando as universidades surgiam em várias cidades e o uso da razão começou a ser novamente explorado para explicar os fenômenos.

Uma morte misteriosa, seguindo, talvez, passagens do Apocalipse. Resolver este caso, antes que as delegações da Ordem Franciscana e do Papa cheguem à abadia, é a missão dada pelo abade a Guilherme e seu pupilo, Adso.

Inquirindo dezenas de pessoas, de despenseiros a bibliotecários, Guilherme usa de seu raciocínio lógico para montar o quebra-cabeça. Outra morte logo acontece, desta vez do copista Venâncio.

Guilherme, que gostava de descobrir o que havia por trás dos fatos antes de lhes atribuir significados sobrenaturais, percebe que há algo sendo escondido em relação à biblioteca, e é para ela que dirige seus esforços, mesmo que o acesso seja proibido.

Em meio ao tumulto gerado por tantos acontecimentos, Adso relata suas conversas com as mais diferentes pessoas, com as mais variadas experiências. Fica confuso ao ver que as manifestações heréticas tão duramente combatidas pela Igreja, assim como muitas das vertentes aceitas pelo Papa têm idéias e origens semelhantes. O que difere um herege de um mártir não passa muitas vezes da simples deliberação de uma pessoa influente.

Certa noite, porém, Adso decide explorar a biblioteca sozinho. Encontra, caída num canto da cozinha, uma moça, cujas palavras não entende. Não resiste à visão da mulher e quebra seus votos de castidade. A lembrança desse fato o atormenta, mas Guilherme lhe explica que não foi tão monstruoso assim.

Guilherme conversa com Severino, o monge herborista, e ouve falar de um antigo veneno, muito poderoso e há anos desaparecido. Multiplicam-se os suspeitos.

Descobre-se que os monges Remigio e Salvatore tinham sido seguidores de Dulcino, um herege responsável pela morte de milhares de pessoas e que pregava uma vida de libertinagem e a morte de todos os sacerdotes, em nome da purificação da cristandade. As idéias sombrias de Dulcino aparecem na obra em vários momentos. Guilherme promete, contudo, manter o segredo dos frades.

Nesse meio tempo chegam à abadia as delegações do Papa e dos Franciscanos. Os dois grupos pretendiam fazer uma prévia do futuro encontro com o Papa, em Avignon, onde o destino da Ordem Franciscana, tão poderosa, mas muitas vezes tomada como contraditória, seria decidido.

Guilherme e Adso voltam à biblioteca e descobrem seu segredo. Ao invés de ser dividida em ordem alfabética ou pela data em que foram escritas as obras, os livros estavam divididos por países dispostos de acordo com a geografia. Cada uma das dezenas de salas correspondia a uma letra, e dependendo da forma como se percorria os corredores, chegava-se a um conjunto de obras de locais diferentes. Estes locais eram indicados pela seqüência de letras das salas percorridas. Era, portanto, um bom método para organizar milhares de volumes (a maior coleção da Europa na época), ao mesmo tempo em que permitia ao bibliotecário recordar onde estava e como chegar a determinado livro. No entanto, há uma sala pela qual não se sabe como entrar, justamente aquela apontada por escritos de Venâncio.

O debate teológico acontece, e os monges franciscanos e dominicanos discutem a pobreza de Cristo. A discussão se torna calorosa, logo os discursos são tomados por expressões vulgares, e nada se pode concluir, exceto uma coisa: o encontro havia sido um desastre, e não se podia esperar uma melhora da situação quando da reunião com o Papa João XXII.

Mais tarde naquela noite uma nova morte é descoberta: Severino. A culpa cai, sem contestação, em Remigio, encontrado na cena do crime. É preso, e, juntamente com ele, Salvatore, pego em flagrante com uma mulher (a mesma encontrada por Adso) e com indícios de ter praticado magia negra.

Após ser obrigado a confessar, Remigio é condenado à fogueira. A mulher é tomada como bruxa, e tem o mesmo fim. Todos pensam que é o fim das atrocidades, que finalmente a abadia poderá continuar com sua rotina de paz. Entretanto, no dia seguinte, após chegar atrasado na primeira missa da manhã, Malaquias, o bibliotecário, cai falecido, sem nenhuma explicação razoável.

Ao descobrir mais sobre o passado de Jorge (um ancião cego), Malaquias e do próprio abade, o caso finalmente começa a fazer sentido para Guilherme.

O frade inglês e Adso aprendem como entrar na sala secreta da biblioteca, mas descobrem que o abade havia sido preso num compartimento próximo à cozinha. Sem poder fazer nada para ajudá-lo, os dois correm e encontram Jorge com a relíquia que tanto queria proteger: um livro. Um livro sobre o riso.

Tudo é, então, esclarecido. O ancião explica que, muito tempo atrás, havia descoberto um livro de Aristóteles e o considerou muitíssimo perigoso. Como não podia mudar a história e fazer com que os outros escritos aristotélicos, que tanto haviam modificado o modo de pensar das pessoas, desaparecessem, tentou evitar que esta última obra, sobre as virtudes do riso, fosse lida por outros. Jorge considerava a risada algo nefasto, e se as pessoas fossem estimuladas a rir de tudo, seria o fim do medo, do pavor do inferno, do temor a Deus, e, por conseguinte, a Igreja ruiria. Por tantos anos, ele tentou impedir que os simples, o povo, tivessem outra idéia que não aquela defendida pelos religiosos. Para isso, envenenou as páginas do livro, fazendo com que todos que o tocassem tivessem uma morte rápida.

Jorge começa a destruir o livro, mas enquanto fugia de Guilherme e Adso uma lamparina iniciou um incêndio na biblioteca. Como grande parte da abadia era construída em madeira, muitos dos prédios ficam logo em chamas, e pouco pode ser feito para combatê-las. É o fim do ancião, de todos os livros, e do próprio monastério.

Os monges se separam, e Adso volta à sua cidade natal, Melk, onde começa, então, a contar sua história.

Umberto Eco conclui sua obra com uma idéia: a busca pela verdade suprema, ou o ato de tomar algo como tal verdade, é o que causa a intolerância e a total falta de razão.

“Stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus”, a rosa antiga permanece no nome, nada temos além dos nomes.

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