A fronteira entre os EUA e o México, por volta de 1850. Ele não tem nome. É apenas ‘o garoto’. Nasceu durante uma chuva de meteoros em 1933. E fugiu de sua casa no Tennessee aos quinze anos. Sem o que fazer, sem ter aonde ir, o rapaz- apessar de parecer ter uma alma gentil- se junta ao histórico bando de caçadores de escalpo do General John Joel Glanton.
E essa é a linha mestra de ‘Meridiano Sangrento’, o violentíssimo faroeste de Cormac McCarthy, seu quinto livro, escrito enquanto ele vivia de uma bolsa da fundação McArthur. O livro tem uma forte base histórica, para a qual McCarthy pesquisou muito. Glanton e sua gangue realmente existiram, assim como o temível juíz, e todos aparecem no livro de Samuel Chamberlain, que participou das sanguinárias excursões do bando.Um dos livros mais fortes e violentos que já tive a oportunidade de ler, e não apenas pelo banho de sangue, mas pelo tom desesperançoso e deprimente. Apesar disso, uma vez começada a leitura, é algo quase compulsivo fazê-la até o fim: o tom é quase bíblico, as descrições são extremamente gráficas e as personagens são cativantes ao extremo.
Não se deve confundir, entretanto, cativante com agradáveis: Glanton é um mercenário de sangue frio a quem pouca coisa importa além do dinheiro e seus homens são todos assassinos cuja única figura de autoridade que respeitam é a de seu líder. E temos os dois destaques: o garoto e o Juíz Holden.
O garoto é o protagonista, e é o mais próximo que McCarthy chega de ter aguém ‘bom’ em seu livro. É taciturno e gentil, mas vemos como gradualmente se transforma em um assassino semelhante a seus companheiros.
Já o juíz é algo totalemente diverso. Não parece matar por dinheiro, tampouco por prazer: sua filosofia singular é que o torna o que é. E ele é um homem frio e selvagem ao mesmo tempo, hábil em tudo o que faz e capaz de surpreender e assustar até mesmo o pior dos caçadores de escalpo. Enquanto Glanton é respeitado, o juíz é temido, como se teme a uma força.
Confesso não ter lido muita coisa da obra de McCarthy, apenas este, ‘A Estrada’ e ‘As Cidades da Planície’, mas arrisco dizer que talvez esse seja sua obra prima. É apocalíptico e surpreendente, dotado de uma profundidade complexa. Não é a toa que McCarthy costuma ser comparado à Faulkner.
O livro está sendo relançado no Brasil, pela Alfaguara Brasil (com preço sugerido de R$49,90), e está previsto um filme para 2011, dirigido por Ridley Scott- tarefa quase impossível, devido à tudo o que eu já disse sobre o livro.
É engraçado como o Garoto é realmente tido como o “bonzinho” na história, sendo que, logo o começo do livro, o autor diz isso sobre ele:
“Ele não pode ler nem escrever e já cresce nele um gosto por violência irracional.”
(tradução minha…)
Um livro para se ter, realmente.
òtimo, excelente livro.