greveFrank Harris, irlandês de Galway nascido James Thomas Harris em 14 de Fevereiro de 1856, teve uma vida interessante. Sua personalidade agressiva e irrascível, o fato de ter sido o editor de inúmeros jornais de renome e de ter sido amigo de muitas personalidades- incluindo aí Oscar Wilde e George Bernard Shaw- lhe renderam fama durante a vida. Póstumamente, no entanto, é mais lembrado por sua auto-biografia sexualmente explícita ‘Minha vida e amores’.
Em 1908 estreou seu primeiro romance, ‘A Bomba’, no qual o protagonista Rudolph Schnaubert (um alemão de origem bávara que vai para os EUA tentar ganhar a vida como jornalista e acaba tornando-se operário e envolvendo-se com os movimentos socialistas) confessa ter atirado a bomba que, em 1986, matou vários policiais durante os choques entre a polícia e os grevistas em Chicago. Mas a confissão é um aspecto secundário: a figura e as idéias de Louis Lingg, amigo e mentor de Schnaubert, são o cerne do livro.
Louis Lingg é uma figura ímpar. Aparentemente frio e dirigido apenas por sua crença anarquista, é um amigo fiel e um amante apaixonado. Mesmo quando está profundamente emocionado não se deixa levar por isso, sempre mantendo o controle. É capaz de suportar tormentos inimagináveis, mas não pode ver outro ser humano sofrendo. Acredita que os socialistas são demasiado radicais, por sua crença na nulidade do individualismo. E que os capitalistas são monstruosos, por crerem apenas no individualismo.
Schnaubert é bastante diferente de Lingg: suas paixões são mais fortes do que ele, e chega a hesitar em alguns momentos. Mas deixa-se contaminar pelas crenças e ideais de Louis, e os aceita como seus. Por isso atira a bomba.
À época de seu lançamento o livro foi polêmico: seria Rudolph apenas um pseudônimo de Harris, e a confissão verdadeira? Se não fosse isso, o que Harris realmente queria com o livro?
Foi um bom começo de carreira. Não que o livro seja uma obra-prima, ao contrário: parece-me pouco mais que uma releitura ocidental do ‘Pais e Filhos’, de Turgiêniev (eu diria mesmo que Lingg estoura as bombas, diretamente ou por intermédio de Rudolph, por considerar-se uma força, tal qual Bazaróv dizia ser) aproveitando os conflitos do movimento operário norte-americano. Mas foi a bomba que Harris lançou, fazendo barulho suficiente para chamar atenção sobre sua recém-inaugurada carreira literária. Não que realmente precisasse: com cada livro publicado, ele tornou-se cada vez mais explosivo.


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