Uma geração de jovens poetas se depara com um regime totalitário e com diversas prisões e sumiços. Essa é uma sinopse simplista da história de Estrela Distante, de Roberto Bolaño (a quem conheci nesse final de ano). Um narrador nos dita o que acontece por quase duas décadas e os mistérios envolvendo um jovem autodidata chamado Alberto Ruiz-Tagle.

Os trejeitos do personagem revelam um rapaz educado (principalmente com as mulheres), com boa situação financeira e dotes para ser um grande poeta. Nosso narrador nunca chega a ter um contato verdadeiro com Ruiz-Tagle, mas o descreve com grande precisão aquilo que ele aparenta.

Logo após o golpe militar Ruiz-Tagle e os diversos participantes das oficinas de poesia das universidades do Chile desaparecem. Em contrapartida um indomável aviador, Carlos Wieder, aparece escrevendo poesias no céu (e também versículos bíblicos) e ninguém sabe ao certo se trabalha para o governo ou se é apenas um desafiador da moral imposta na ditadura Pinochet. O narrador afirma que essa nova figura dos céus é Ruiz-Tagle executando suas obras-primas. Todavia, esse novo personagem (ou talvez velho) mostra-se um artista da tortura, assassina as gêmeas companheiras de oficina do narrador, e ainda abre uma mostra de fotografias desses assassinatos, considerando uma arte estética e abolindo qualquer traço de moralidade.

Com criatividade qualquer um consegue fazer qualquer coisa.

O narrador segue, junto de seu amigo Bibiano através de cartas, uma investigação para provar que Ruiz-Tagle e Wieder são realmente, de fato, a mesma pessoa. Entre todas essas averiguações ainda nos revela, de maneira subjetiva, a que fim se deu os poetas das oficinas. Fato interessante é mostrar que a literatura clássica, nesses tempos, é jogada de lado para a criação de novos ares literários e artísticos.

O romance que começa como uma poesia segue uma trilha de comédia sádica e crítica, esbanjando, através da narrativa impar de Bolaño, um retrato de memórias pessoais, caráter poético e fictício sobre sua geração atormentada pela ditadura recorrendo a qualquer tipo de fuga criativa, quando a ‘vida real’ adquiria traços de feiura e certa brutalidade profundamente desagrádaveis.