#Vouconfessarque eu ganhei o livro Infiel em um amigo secreto de final de ano. Na mesma ocasião eu ganhei um dos livros mais comentados do momento, o Crepúsculo. Claro que minha curiosidade sobre a saga fez com que eu lesse primeiro o Crepúsculo, e em seguida, toda a continuação da série, fazendo com que Infiel ficasse parado na meu rack por vários meses até que eu me interessasse em abrir aquela obra dona de uma capa sóbria, cores frias, e com a negra somaliana Ayaan Irsi Ali, a qual eu nunca havia ouvido falar. Pois bem, com a primeira missão de abrir o livro cumprida, para minha surpresa, eu não consegui mais fechá-lo até que o acabasse – e trata-se de um livro relativamente grande, com 496 páginas – que valem cada palavra lida.

Trata-se da biografia desta mulher, nascida em Mogadíscio, capital da Somália em 1969. Na época a Somália era um país em guerra política constante e extremamente cravado nas tradições, para nós ainda bizarras, de certos países africanos. Ayaan cresceu com seus dois irmãos num ambiente hostil, sendo espancada pela mãe e pela avó. Seu pai, um opositor do governo, foi preso quando ela nasceu, e passou boa parte da vida na prisão, longe da família. Após sua liberdade, eles fugiam e se exilavam constantemente, o que fez com que Ayaan aprendesse várias línguas, incluindo o inglês.


Sob uma educação rígida regida pelo Alcorão, Ayaan e sua irmã tiveram o clitórios retirado com uma tesoura a sangue frio em uma cerimônia de purificação quando tinham, respectivamente, cinco e quatro anos (uma das passagens mais impressionantes da narração) e foi devidamente espancada e chamada de prostituta quando mestruou pela primera vez.

Nossa heroína certamente poderia ter sido apenas mais uma mulher africana e muçulmana que passa a vida debaixo de uma burca aceitando as imposições machistas, políticas e sociais, mas ao contrário disso, cada surra a fazia questionar sua realidade e a posição da mulher perante a sociedade. E foi justamente num casamento arranjado por seu pai, que ela conheceu a tão sonhada liberdade. Casada com um somali que morava no Canadá, e já com planos de fugir, Ayaan vai ao seu encontro e faz uma escala na Alemanha, onde aguardaria seus domumentos canadenses.

De lá, sem avisar ninguém, ela vai para a Holanda onde consegue se manter no país como exilada, e sobrevive fazendo traduções. Com muito esforço ela aprendeu holandês, foi aceita na Unviversidade de Lieden, umas das mais tradicionais da Holanda e cursou Ciência Política, seguido de um mestrado. Tudo isso determinada a entender as atrocidades que o governo muçulmano trouxe para a sua vida e para a de tantos que viveram situações como a dela. Para coroar seus ideais, Ayaan se tornou deputada e foi jurada de morte pelos radicais islâmicos ao defender o direito da mulher como cidadã.

Infiel é uma fonte de inspiração. Sem clichês, o livro transborda força e coragem, nos fazendo questionar o que levamos dentro de nós, e como muitas vezes não valorizamos quase nada que temos como “humanos felizes nascidos numa sociedade livre” . Ayaan saiu de uma situação das mais improváveis e superou todas as barreiras que a vida a impôs.

Hoje ela vive nos Estados Unidos e foi eleita em 2005 pela revista Time com uma das cem pessoas mais influentes do mundo. Diante da leitura do livro, fica impossível discordar.

Sobre a autora: Fernanda Carréa é radialista e pode ser encontrada em Fernanda Carréa – Comunicação, Rádio e TV.