Neste domingo, 08/8/2010, é comemorado no Brasil o Dia dos Pais. Por mais que você, caro leitor, não comemore essa data por achar comercial ou por qualquer outra razão. Indicamos os melhores livros para ler nesse dia em que o progenitor é homenageado.

Luciano: Uma questão pessoal, de Kenzaburo Oe: Bird é um jovem de Tóquio. Ele coleciona mapas da África e sonha com o dia em que poderá viajar para o continente, viver ao menos um pouco como seus heróis. Esse sonho, porém está por um fio: não apenas tornar-se-á pai como o seu filho nasceu com uma malformação. Condenado a tornar-se responsável por um bebê-monstro que terá um desenvolvimento intelectual limitado, Bird entrega-se ao álcool e aos braços de uma antiga amante. Kenzaburo Oe, que na vida real é pai de uma criançacom malformações e tem limitações mentais, explora o significado e o impacto de tornar-se de um jovem idealista em um pai- alguém responsável por uma outra vida, nesse caso, ainda mais frágil que o de costume.

Kika: Os Bórgias – Mario Puzo – Mario Puzo é um autor escaldado em retratar familias italianas, com relações especiais. Afinal, é conhecido por ter escrito “O Poderoso Chefão”. Mas a Famiglia Borgia é um tanto mais interessante. Para começar, seu patriarca é ninguém menos que o Papa Alexandre VI. Puzo retrata Rodrigo Borgia, o Papa, como um verdadeiro capo italiano, que coloca a sua familia em primeiro lugar, principalmente quando se trata de seus queridos filhos Cesare e Lucrécia. Daqueles que faz de tudo para conseguir um acordo amigável, com “uma oferta irrecusável”, mas não hesita em tomar medidas mais… drásticas, se a família estiver envolvida. Seus filhos têm vidas conturbadas, Cesare é conhecido por sua violência, Lucrécia, muito a contragosto, acaba sendo envolvida nas tramas que culminam com as mortes de seus maridos. Retratados como precursores da máfia italiana, Os Bórgias tiram seu fôlego a cada página.

Pips: Os Irmãos Karamazov, Dostoievski: O que seria mais mórbido para indicar num dia dos pais? Talvez um parrícidio. Sim, um filho que mata o pai. Ou seriam todos os filhos? Através de uma narrativa estilo “essa-é-uma-história-verdadeira-aconteceu-com-um-amigo-de-um-amigo-meu”. Carregado de niilismo, entre a negação de Deus e as forças do bem e do mal, a obras se extende por terrenos hostis da mente humana, não importando seu credo ou sua formação. Há também os enganos e acasos. Quem é inocente dentre todos os irmãos, se, como é citado no livro: “Quem nunca quis matar o próprio pai?”. Uma obra-prima, mas eu não daria de presente do dia dos pais antes de explicar toda a explicação de Freud.

Lucas: Pais e Filhos, Ivan Turgueniev – Pais estão separados dos filhos por conta de uma geração, certo? Errado, não é tão simples assim, há muitas diferenças entre uns e outros, diferenças essas que Turgueniev mostra através das idéias inovadoras e chocantes que embalam a nova geração russa enquanto a antiga fica receosa ou reticente às novas tendências. Com diálogos e personagens divertidos e icônicos, misturados em uma trama com nuances românticos ora mais velados ora mais evidentes, o autor aborda o niilismo enquanto opção não somente filosófica mas como estilo de vida e de relação com a realidade, não poupando nas cores com que pinta as renúncias e os desdobramentos dessa convicção para a vida de Bazárov, usando de seus pais, amigos e paixões para desenredar as transformações das mentalidades e da realidade russa do século XIX, agrária de resquícios feudais; e todas as dificuldades encontradas frente ao ethos já existente, abrindo os caminhos para as ideologias que viriam a construir os rumos da revolução que viria somente no século seguinte.

Anica: O Filho Eterno, Cristovão Tezza – Antes de tudo: não acredito em um autor buscando o tema “Síndrome de Down” apenas para gerar polêmica, especialmente quando um filho portador da síndrome faz parte da biografia dele. E para falar a verdade, não vejo o protagonista (sem nome, apenas Felipe, o filho com síndrome de down tem identidade) como um monstro, pelo menos não lendo a história toda. Na verdade eu não conseguia deixar de lembrar do filme Eraserhead do Lynch ou de O Bebê de Rosemary do Polanski, que no final das contas são uma metáfora para o medo da primeira vez como pai/mãe e/ou as relações iniciais com o primeiro filho, só que ao invés de usar o fantástico/sobrenatural, ele parte para o realismo.

Mais para frente a visão sobre o filho vai mudando, de forma sutil. Acho interessante inclusive que mesmo que com uma visão amarga, ele começa a ver no filho qualidades que ele mesmo não têm (como a questão dos desenhos). A história acaba chegando a uma conclusão simples e ao mesmo tempo bonita: o registro do primeiro diálogo entre pai e filho. Antes disso, o que tínhamos eram quase que citações, não conversas. E aí, enquanto falam do time de Felipe, fica a sensação de que o pai finalmente compreendeu que ter uma personagem a mais na própria história não precisa ser necessariamente ruim.

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