Domingo, dia 27 de Fevereiro, acontece a 83ª edição do Oscar. 11 filmes concorrem à categoria de Melhor Filme, principal da cerimônia, e eu, que todo ano assisto todos os filmes e especulo até o último minuto, resolvi fazer uma sequência de resenhas sobre os candidatos. Por isso, hoje e nas próximas duas sextas-feiras, vou dar minha cara à tapa por aqui e divagar um pouco sobre cada um dos candidatos ao prêmio, falando, desta vez, sobre Minhas Mães e Meu Pai, Cisne Negro e Toy Story 3.

Começando por Minhas Mães e Meu Pai (The Kids Are All Right, 2010): O filme chama atenção pela temática das famílias modernas. No enredo, duas mulheres, casadas, (Nic e Jules) criam seus filhos, (Joni e Laser) que tiveram ambas por inseminação artificial de um mesmo doador (Paul). Ao completar 18 anos, Joni, a pedido do irmão, entra em contato com o pai biológico, que passa a manter relações com os membros da família.

Com esse argumento, o filme tinha tudo para ser polêmico e focar na questão do casamento gay, ou então criar um drama ao redor da inseminação artificial e de uma vontade do pai biológico querer ter a guarda das crianças. O que se vê, no entanto, é uma pegada quase tão light quanto a do filme Juno, que concorreu ao Oscar 2008 e também debatia o tema das famílias modernas, porém com a uma adolescente dando, voluntariamente, o filho para adoção.

Minhas Mães e Meu Pai chama atenção justamente pela temática. O casal formado por Nic e Joni passa por momentos bons e crises, como qualquer relação. As duas ainda precisam educar e dar suporte à filhos de 18 e 15 anos. Joni (18 anos) está indo estudar na faculdade e luta contra sua timidez enquanto Laser é um rapaz fechado, que não sabe lidar bem com as emoções e, ainda por cima, tem aquele tipo de amigo que o coloca em várias situações que ele não gostaria de enfrentar, mas não consegue se desencilhar delas e dizer “não”.

A aproximação de Paul consegue fazer com que esses dois personagens amadureçam, mesmo esse passando longe de ser uma figura de pai tradicional, parecendo um tio ou irmão mais velho. Aliás, eu diria que Paul é o responsável pra narrativa ter todo o tom natural que ela trás. O personagem simplesmente deixa as coisas acontecerem ao seu redor e faz o que sente vontade, agindo sempre por impulso.

Por sinal, é de se reparar que Laser parece ter o mesmo tipo de personalidade, apenas 20 anos mais novo. Por exemplo, em certo momento do filme, Paul aconselha Laser a não se envolver mais com o amigo que só o mete em confusão, mas ele mesmo não consegue impedir de se envolver em uma relação amorosa que claramente vai trazer más conseqüências para ele e sua nova “família”. Da mesma forma, em outro momento, Laser não consegue chorar nem se surpreender ao ver suas mães quase que separadas enquanto Paul, apesar de criar um pouco de consciência ao longo da narrativa, também esbraveja muito pouco ao se ver obrigado a afastar-se das crianças.

Em outro ponto, apesar da mãe Jules ter mais foco na narrativa, é de se perceber uma grande transformação em Nic, que se vê perdendo o controle e a família com o aparecimento de Paul. Nic passa por surtos, neuras, calma e superação ao longo da narrativa.

O filme está concorrendo à categoria de Melhor Roteiro Original, e eu arriscaria dizer que tem grandes chances neste ponto, porque em outros quesitos, como direção de arte, fotografia e enquadramentos, ele não foge do normal.

Se “Minhas Mães e Meu Pai” chama atenção pela temática, sem criar polêmica, Cisne Negro (Black Swan, 2010) faz exatamente o contrário. Na narrativa, em que a bailarina, Nina, (Natalie Portman) quer conquistar o papel principal em “O Lago dos Cisnes”, linguagem, escolha de cenas e abordagem do tema levam o filme a ser um dos mais criticados e debatidos no momento. Nina tem o papel do Cisne Branco muito bem garantido, mas Thomas, diretor da Companhia de balé, exige que ela consiga interpretar verdadeiramente o Cisne Negro. Para Nina, não bastam mais ter os movimentos perfeitos, mas sim entrar no mundo de sua nova personagem. Isso a faz ter visões estranhas e quase sobrenaturais durante a pressão de se tornar apta para o papel. A narrativa, que começa leve, vai ganhando proporções cada vez maiores e de mais tensão, beirando atém mesmo um filme de terror.

É essa entrada de Nina em seu personagem, sua busca pelo Cisne Negro, que torna o filme tenso, polêmico, além de abrí-lo para múltiplas interpretações. Quem já assistiu Réquiem Para um Sonho, também do diretor Darren Aronofsky, vai perceber que ele segue com a mesma linha “esquizofrênica” nas duas narrativas.

Na minha opinião, o filme só comete dois pecados: Uma explicação recorrente do que seria o Lago dos Cisnes, o que, em certo momento, deixa o final previsível (e rende piadas e paródias por ai) e uma Direção de Arte até certo ponto também previsível pois Nina só usa cor branca enquanto todos os outros personagens aparecem de preto, destacando sua pureza e diferença dos outros, o que deixa tudo ainda mais redundante, já que o roteiro expressa isso várias vezes diretamente. Acho que a intenção poderia ser passada de forma mais discreta, com uso de cores neutras e claras, mas não um excessivo branco x preto.

Mas, ao mesmo tempo, o roteiro também guarda o que é, ao meu ver, uma grande sacada, que é o que me faz gostar tanto desse filme: Ele consegue inserir diversos elementos, de forma sutil, que abrem o filme para várias interpretações. Por exemplo, a segunda cena do filme mostra Nina se alongando diante de 3 espelhos. Um dos espelhos reflete a imagem de outro espelho, que está ao fundo da sala. Enquanto se alonga, vemos um vulto passar rapidamente em primeiro plano e, vários segundos depois, vemos um outro vulto passar andando, refletido no espelho da sala, o que, pela posição dos espelhos e câmera, seria uma segunda pessoa, provavelmente a mãe de Nina. Mas, esse sinal, já poderia nos mostrar que Nina já convivia com seu “lado negro” muito antes de sofrer pressão com a peça. Mais tarde, quando anda na rua, ela também se vê vestida de preto, passando por ela mesma, com esse lado um pouco mais visível e liberto.

Vale lembrar também o momento em que a bailarina sai para jantar com a amiga, Lily, e faz uso de drogas. Depois desse instante do filme, as alucinações de Nina triplicam em intensidade. Lily, que desde o início do filme faz aparições estranhas e controversas (e deixa a pista de que algo estranho está acontecendo), no decorrer da narrativa se torna duas: A Lily real e uma outra, ao meu ver, totalmente inventada pela mente de Nina. Aliás, acredito que depois da cena em que Lily e Nina saem durante a noite e que o “cisne negro” de Nina deixa de ser uma sombra para então conviver com ela, o filme toma uma dimensão espetacular, com cortes frenéticos e força e temor em cada cena que segue.

Além de Melhor Filme, Cisne Negro está concorrendo nas categorias Melhor Fotografia e Melhor Edição (além de Melhor Diretor e Atriz). Acho que o filme é um forte concorrente em todas as categorias, mas, principalmente, Melhor Atriz.

Cisne Negro mostra a passagem da pureza para à sexualidade, maldade e esperteza. Já o último filme que vou falar hoje, mostra a passagem de uma criança para a vida adulta – Toy Story 3. Andy, dono dos brinquedos tão conhecidos pelo público, como Buzz, Woody, Rex e Jessie, está indo para a faculdade. Seus companheiros de plástico estão todos dentro de um baú e ele precisa decidir o que vai com ele para a universidade, sótão ou lixo. Por uma série de acidentes, toda a turma vai parar em uma creche, a Sunnyside.

A animação da Pixar, dirigida por Lee Unkrich (de Procurando Nemo) e roteirizada por Michael Arndt (de Pequena Miss Sunshine) retoma o primeiro filme já logo na primeira cena, em que temos uma brincadeira de Andy vista na visão dos brinquedos, com direito a trem e nave espacial. Os diálogos, no entanto, são semelhantes ao primeiro filme, um presente pro público infantil que já assistiu os outros filmes, ou pra quem cresceu e está retomando a história

Na minha opinião, Toy Story 3 tem tudo pra ser um filme bom. A história tem ganchos interessantes, que nos fazem manter a atenção, sem falar que é uma animação muito bonita e cativante. É uma continuação que faz sentido: Andy cresceu, e agora? Qual será o destino de cada personagem? Definitivamente, o roteiro é uma continuação natural.

Contudo, acho que, mesmo com tudo isso, Toy Story 3 não se torna um filme memorável quanto foi o primeiro apesar de ser uma história interessante e ter um bom desfecho, inclusive deixando pistas para um possível próximo filme. Como disse, o roteiro segue uma continuação natural, talvez por isso perca alguns pontos de criatividade. O elemento da creche Sunnyside é interessante, mas não uma novidade exatamente, afinal, no primeiro filme, já vimos os bonecos serem judiados por outra criança e terem que escapar dela.

Por isso, comparado aos outros filmes que concorrem a Melhor Filme, acho que Toy Story 3 fica quase que inexpressivo perto dos outros concorrentes, ainda que tenha maiores chances ao premio de Melhor Animação, que ainda vai ter que brigar com concorrentes muito bons. como O Mágico e Como Treinar o seu Dragão.

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