Aurélia Camargo era bela, pobre e órfã de pai. Vivia apenas em companhia de sua mãe, que, estando moribunda, preocupava-se com o futuro de sua filha e desejava que ela encontrasse um noivo o mais rápido possível. Conhece então Fernando Seixas, que passa a cortejá-la e acaba por pedir sua mão em casamento.

Ele também não era rico, e tendo Adelaide Amaral lhe oferecido por dote o valor de trinta contos de réis, ele se vê obrigado a desmanchar o noivado com Aurélia. A jovem, mesmo triste, não culpa Seixas pelo abandono, pois acreditava que ele o fizera por amor a outra; porém, ao descobrir que fora o dinheiro que o motivou, o ressentimento se apodera de seu coração. Logo em seguida a esse episódio, sua mãe expira, deixando-a só no mundo.

Eis então que ocorre algo verdadeiramente inesperado na vida de Aurélia: seu avô paterno, que até então nunca dera mostra de se importar com ela ou com sua mãe, deixa-lhe uma herança milionária. Passado o período de luto por sua mãe, inicia a jovem sua vida na sociedade carioca, sendo logo “proclamada a rainha dos salões”. Suas duas opulências, a riqueza e a formosura, a tornava alvo do cortejo de inúmeros pretendentes, que por sua vez eram tratados com escárnio pela moça.

Anonimamente, ela oferece um dote de cem contos de réis a Seixas. Primeiramente ele recusa, entretanto, por força das circunstâncias ele desmancha o noivado com Adelaide e aceita a proposta, mesmo sem saber quem é a noiva. Ao ser apresentado a Aurélia, ele fica temeroso, todavia, ao ver que a jovem aparentava não guardar ressentimentos, Seixas se alegra, pois iria se casar com a mulher que amava e ainda solucionava todos seus problemas financeiros. Mas, após o casamento, Aurélia revela ao marido toda a raiva e ressentimento que sentia por ter sido trocada por dinheiro, humilhando-o e declarando ser sua senhora por direito, afinal o havia comprado.

Seixas se apercebe da condição indigna que o colocavam seus atos, arrependendo-se de se vender. Cada dia que um passa em companhia de outro era uma verdadeira tortura, em virtude de ter ferido um o seu orgulho e o outro o seu amor. Fernando passa a juntar dinheiro e, ao cabo de onze meses, restitui o valor do dote com juros a Aurélia, resgatando assim sua liberdade e sua dignidade. Ambos se perdoam pelos males causados, saindo deste modo o amor vitorioso no final.

Pode, é claro, ser fruto de minha imaginação, entretanto acredito ser evidente a semelhança entre Aurélia Camargo e Edmond Dantès, o implacável Conde de Monte Cristo. Ambos, pobres, sofrem injustiças e, após adquirirem uma grande fortuna, vingam-se de seus algozes através desse dinheiro; alcançando no fim a redenção por meio do amor.

Muitos são os que reclamam do vocabulário utilizado pelo escritor, mas não tive essa dificuldade; o que ateve minha atenção durante a leitura foi o modo poético e detalhista de José de Alencar, capaz de absorver totalmente o leitor e hipnotizá-lo durante o decorrer de toda a narrativa.

Sobre o autor: Rafael Cruz é estudante da 2ª série do Ensino Médio, bibliófilo, futuro professor de história, aspirante a escritor e twitteiro. Pode ser encontrado no Memorial de um leitor.

Senhora
José de Alencar
272 páginas
Preço sugerido: R$12,00

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