Estive em Lisboa e lembrei de você é um dos melhores exemplares da coleção Amores Expressos e, também, um dos mais isolados do tema principal: o amor numa cidade estrangeira. Não que o amor não ocorra, mas é quase imperceptível e efêmero se levar em consideração que o mais pertinente é o estilo adotado por Luiz Ruffato para transcrever a história de Sérgio Sampaio, personagem-narrador, entrevistado em 2005, sua vida no interior de Minas e a viagem para poupar dinheiro em Portugal.

É importante frisar que por ser um livro miúdo, 88 páginas, a história contada exalta detalhes em flashbacks, pensamentos e fluxos prosaicos de palavra falada sem precisar se aprofundar e criar subtextos.

Sérgio casou por obrigação por embarrigar uma mulher fraca das ideias, perdeu o pai e a mãe faz de tudo para que ele se sinta bem em casa – até vigiar sua biz durante uma noite toda. O mineiro decide mudar de vida e usa o dinheiro que tem para viajar ao exterior, conseguir mais dinheiro e voltar ao Brasil como um magnata, comprando casas para viver de aluguel, almejando apagar todos os erros que deixou em sua pátria-mãe.

O isolamento do protagonista não muda em nenhum dos dois lugares que viveu. No Brasil, mantinha um emprego comum e das poucas coisas que fazia fora da rotina trabalhadora era jogar bola pelo time Primeiro de Abril. No time da pelada ele conhece o Dr. Fernando, ginecologista que inventou um método excelente para Sérgio parar de fumar – a ressaca tabagista. Ao decidir se mudar para Portugal, o personagem se isola do mundo, vivendo na postura daquele-que-viajará-ao-exterior-e-voltará-rico. Essa condição se repete quando ele aporta na terra lusitânia. Conhece, por exemplo, Carrilho, um português que passou grande parte da vida no Brasil, onde fez fortuna e voltou para na terra natal viver sozinho, sem contato com os filhos. Os dois pontos se cruzam e a saudade do progonista é quase nula, quando cita o Brasil é para falar da ambição de que seu filho fale com orgulho dele e também da possibilidade de calar a cunhada que o extorquiu.

Por mais que fuja dos fracassos, Sérgio se ilude com sua inocência interiorana. O choque cultural, que ele mesmo não percebe e está intrínseco em sua narrativa, mostra os infortúnios de ser um estrangeiro: trabalho ilegal, humilhação e o desmoronar de sonhos alimentados não só por si mesmo, mas por aqueles que engradeceram a viagem como um ato heroico. Ao tentar encontrar semelhantes dentro daquele mundo desconhecido onde o idioma é incompreensível, o personagem-narrador se envolve com uma prostituta foragida de Goiás, por quem nutre, e assim crê, um amor bandido capaz de faze-lo aventurar-se no submundo.

A prosa explorada por Rufatto deixa a sensação de que ouvimos o próprio Sérgio falar com seu típico sotaque carregado de expressões mineiras misturadas com o estrangeirismo que adquiriu nos anos em Portugal. Como o personagem é um bom contador de histórias, fica difícil aceitar que o depoimento em algum momento tenha um fim tão necessário e aberto.