Ou nossa adolescência – porque todo adolescente vira criança no dia 12 de outubro para também ganhar presente. Já fizemos um Indica de livros infantis, infantojuvenis, mas dessa vez é diferente – não queremos ser repetitivos. A equipe do Meia Palavra não vai apenas indicar boas obras, mas falar de livros que marcaram sua infância, e não são necessariamente histórias para crianças. São livros que tivemos a sorte de ter em mãos e, por algum motivo, deixaram aquela lembrança boa dos tempos de meninice e nos marcaram de alguma forma – a partir deles estabelecemos nossas preferências literárias, ou descobrimos coisas novas, ou simplesmente vimos que ler é bacana.

Para o Dia das Crianças, então, vamos ser nostálgicos e lembrar desses livros que lemos e relemos na nossa infância!

Liv – Histórias de Tia Nastácia (Monteiro Lobato): Posso dizer que fui uma criança com muita sorte, pois minha mãe sempre me influenciou a ler e eu sempre tive acesso àquelas historinhas infantis encantadoras. Escolhi Histórias de Tia Nastácia porque esse foi o primeiro livro que eu li na minha primeira visita à biblioteca (a grande amiga de todos os leitores). Lembro que eu precisava de uma história do Monteiro Lobato para um trabalho de escola, mas não tinha nada em casa. Então, minha mãe me levou até o paraíso dos livros e eu trouxe esse tesouro pra casa. Lançado em 1937, é de um enredo simples e encantador: Pedrinho resolve pedir à Tia Nastácia que conte todas as histórias que sabe, e lá se vão ao longo de 44 histórias, narrativas sobre o folclore brasileiro encantando o leitor (e eu também!) por 74 anos.

Taize – Duendes e Gnomos (Heloisa Prieto): Um dos primeiros livros com mais palavras que ilustrações que lembro ter lido foi esse, aos 9 ou 10 anos de idade. Encontrei ele na biblioteca da minha escola, mas não naquelas idas semanais em que a bibliotecária colocava uma pilha de livros infantis em cima de uma mesa e escolhíamos um para levar para casa por uma semana. Na verdade, não lembro como encontrei ele, só sei que estava em uma estante por aí, não naquela pilha, e o tamanho do livro (56 páginas, muito mais do que qualquer outro livro que já tinham dado para mim) chamou a atenção. Tirei da estante, me sentei em uma das mesas redondas da biblioteca e comecei a ler lá mesmo. Duendes e Gnomos é uma espécie de guia de seres mágicos que habitam mundos fantásticos. Traz lendas de vários lugares do mundo e o mais legal é que ele tem um ar meio “macabro”, já que Heloisa não deixa de fora os seres que pendem mais para o lado do mal, e as histórias sobre eles eram as que eu mais gostava. Lembro que olhava por muito tempo cada ilustração, e como era um livro em que o texto importava mais, demorei um tempo para terminá-lo. Mas por que? Ora, porque não podia levar o livro para casa! Toda vez que ía até a biblioteca na hora de pegar um emprestado, eu não encontrava esse, era como se ele sumisse. Mas, felizmente, meu professor deixava eu ir até a biblioteca quando eu acabava os exercícios de outras matérias – principalmente matemática -, e assim consegui ler ele até o fim, e várias vezes.

Anica – A morte tem sete herdeiros (Ganymedes José e Stella Carr): Pense em todos aqueles elementos bacanas de romances ingleses ao estilo Agatha Christie. Um tio rico que morre e uma das cláusulas do testamento é que os sobrinhos (possíveis herdeiros) passem uma noite no casarão do falecido. Alguns desses hóspedes começam a ser assassinados, criando um clima de mistério misturado com momentos muito engraçados. Foi um dos meus livros favoritos de infância, lembro de ler e reler várias vezes, inclusive de insistir em ler para minha mãe, de tanto que gostei (e sim, ela pacientemente ouviu a narrativa enquanto preparava o jantar, e lembra deste livro até hoje). É o tipo de história que acabou sendo a semente não só para meu gosto por leitura (porque depois dele outros tantos viriam), mas também fez com que eu criasse um gosto especial por romances envolvendo crimes e fantasmas, que carrego comigo até os dias de hoje. Impossível ver a capa desse livro e não pensar com carinho em tudo o que ele representou para mim, especialmente para o que eu viria e me tornar como leitora.

Lucas – História sem Fim (Michael Ende): Conheci a história do jovem Bastian Balthazar Bux através do filme de 1984, mas tão logo me deparei com o livro na biblioteca, tratei logo de amealhá-lo e devorá-lo. História sem Fim pode parecer a primeira vista uma ‘simples’ história de aventuras e fantasia, mas não se deixe enganar, ele é mais do que isso. Para além das aventuras empolgantes de Bastian com Fuchur, o dragão da sorte; Atreiú, o intrépido menino-caveleiro (como esquecer a morte do cavalo de Atreiú naquela cena memorável e sinistra do filme?), a Tartaruga-anciã ou a Imperatriz-Menina; História sem Fim lida com a fantasia e os contos de fadas como o desenrolar da imaginação das pessoas, como derivativos de sua capacidade de se encantarem com o mundo a sua volta e viajarem para outros através das histórias. O que nos vem como desencantamento, para Bastian, em sua saga, vem como o enfrentamento com o avanço do ‘nada’, a destruição de Fantasia pela racionalidade exagerada ou pela esterilidade do não-imaginar, não-criar, não-fabular. História sem Fim é daqueles livros que você certamente vai querer ter para poder ler para seu filho antes de dormir, uma história tocante que enleva desde pequeninos até os nem tão pequeninos assim.

Kika – A Dança da Morte (Stephen King): Talvez pareça estranho um livro assim numa lista sobre a infância. Mas esse foi meu primeiro livro “de gente grande”. Tenho uma sorte tremenda de ser de uma família de leitores assíduos e colecionadores, e foi assim que, no auge dos meus 11 anos, escolhi na biblioteca da minha mãe este livro do Stephen King. Atrativos para uma menina de 11 anos: Uma caveira na capa, Morte no título e 860 páginas sem figuras. A Dança da Morte é a história de várias pessoas, sobreviventes de uma epidemia de vírus da gripe modificado pelos militares. 99,99% das pessoas morrem, e quem sobrevive é atormentado por dois sonhos. Alguns sonham com uma simpática senhora na varanda de sua casa, outros tem sonhos com um senhor elegante e lascivo em Los Angeles. A peregrinação dos sobreviventes até seus sonhos, e as consequências apocalípticas de uma epidemia como essa podem parecer clichê hoje em dia, mas a prosa de Stephen King, marcada pelo conflito psicológico e a atenção aos detalhes faz desse um dos melhores livros da minha infância.

Luciano – As mais belas histórias da Antiguidade Clássica (Thomas Bulfinch): Os meus primeiros interesses em literatura surgiram de forma um pouco confusa. Por um lado, tinha uns livros infantis. Por outro, minha avó lia José de Alencar e Turma da Mônica para mim. Mas a primeira coisa que eu realmente tive vontade de ler, e que realmente me impressionou, foram as versões do norte-americano Thomas Bulfinch para os clássicos da mitologia grega – confesso que um pouco disso foi influênciado pelos Cavaleiros do Zodíaco. De qualquer maneira, as histórias de Bulfinch realmente me encantaram – tanto que, antes dos doze anos de idade, eu me aventurei a ler os três volumes de tamanho um tanto quanto considerável. O primeiro deles com inúmeros contos sobre deuses e heróis greco-romanos, o segundo apresentando uma adaptação em prosa da Ilíada (o que, é claro, eu só fui descobrir muitos anos depois) e o terceiro fazendo a mesma coisa, mas com a Eneida. Talvez hoje eu nem fosse prestar tanta atenção nos livros, mas eles foram bastante importantes por dois motivos: o primeiro foi terem me tirado o medo de livrões; o segundo foi terem aberto minha cabeça para culturas e conhecimentos dos mais diversos.

Palazo – Coleção “Os Karas” (Pedro Bandeira): Durante minha infância e adolescência li poucos livros, geralmente por indicação, ou imposição, da própria escola. Para a minha surpresa e alegria, um desses livros foi “A droga da obediência”, de Pedro Bandeira. E foi com olhos vorazes que eu devorei a história dos cinco amigos e suas aventuras para desvendar os mais curiosos casos políciais. Estranho seria se eu não tivesse me encantado pela inteligência de Crânio, os disfarces de Calú, pela habilidade de Magrí todos eles liderados por Miguel. Mas o que eu mais queria era ser como Chumbinho, o caçula do grupo, e decifrar o código vermelho para usá-lo no dia-a-dia das aulas. Ou então encontrar um esconderijo tão interessante quanto o forro do vestiário do colégio Elite. As aventuras “dos Karas” dividem-se em cinco livros – A Droga da Obediência, Pântano de Sangue, Anjo da Morte, A Droga do Amor e Droga de Americana. Cada um deles contém uma aventura policial pela qual o grupo passará para desvendar um crime. Dos cinco, eu li os três primeiros, mas mesmo depois de mais velho fico instigado a ter e ler a coleção completa para relembrar minha infância e, quiçá, apresentar a leitura aos meus filhos.