Tadeusz Różewicz não é um autor conhecido no Brasil. Então, antes de mais nada, é preciso dizer que ele é um dos mais expressivos nomes da poesia e do drama polonês do pós-guerra. Na Europa é tido como um dos principais nomes do teatro do absurdo, sendo algumas vezes citado ao lado de gigantes como Samuel Beckett. O próprio Różewicz é considerado uma espécie de gigante, principalmente na Polônia e na Alemanha.

Seus poemas possuem um tom sombrio, sendo que a descrição ‘niilistas’ não lhes é totalmente descabida. Isso pode, muitas vezes, afastar alguns leitores – apesar de eu ver nisso um de seus maiores atrativos.

No caso dos dramas, porém, essa negatividade encontra-se mais diluída o que os torna um tanto quanto mais palatáveis, se comparados com sua obra poética. Some-se a isso a miríade de temas que suas mais de 15 peças abordam, e temos um dos dramaturgos mais respeitados e prolíficos da Europa Centro-Oriental.

Em Białe małżeństwo (‘Casamento branco’) temos como personagens centrais as duas irmãs Pauline e Bianca. Vivem no final do século XIX, uma época de costumes rijos e de uma moral estrita. As duas meninas, porém, estão – ao que tudo indica – no final da adolescência, e o sexo está começando a tornar-se um de seus interesses.

A peça começa justamente com essa curiosidade nascente. Durante a madrugada Bianca acorda Pauline para mostrar-lhe um livro que roubou da biblioteca do pai. É um livro de biologia que versa sobre a reprodução dos animais. A imaginação das duas não tarda a ser capturada e estimulada. Mais tarde, porém, descobriremos quão diversas são os rumos que tais estímulos tomam em cada uma das irmãs.

Nas cenas seguintes o universo que circunda as duas protagonistas é desenhado: um pai um tanto distante, mais preocupado em seguir um rabo de saia do que em criar as filhas; uma mãe absorvida pela aversão que o marido lhe inspira e pela amargura que sente com relação a si mesma; o avô, que lamenta profundamente não ter se tornado insento de desejos carnais com o passar dos anos e que prepara-se para a morte; Benjamin, noivo de Bianca; uma tia, irmã da mãe; além de funcionários da casa e uma estranha figura com algo de mítico, uma versão ‘minotaurica’ do pai.

Essas figuras agem em um cenário que alterna entre algo que parece realista (mas sobre o qual sempre podem pairar dúvidas) e o franco desdém por uma realidade concreta. A reação é a criação do caráter – e da definição da sexualidade – das duas meninas.

A tragédia resite justamente no fato de que não apenas o passado – uma disputa entre a mãe e a tia, envolvendo o pai – parece fadado a ser repetido, mas isso necessáriamente trará uma dissolução e um desvio daquilo que Bianca e Pauline são.

A obra ainda não existe em edição brasileira (e, até onde eu saiba, nem em portuguesa) – e dada a aparente má vontade de as editoras brasileiras lançarem peças de teatro, vai demorar a surgir. Para quem lê inglês, porém, existe uma excelente tradução feita por Adam Czerniawski, publicada pela editora Marion Boyars.