Reges Schwaab mostra aos leitores um guia de como ler o seu: dividido em três partes assimétricas, a ordem deve ser seguida obrigatoriamente e a assimetria não tem nada de relevante. Antes mesmo de abrir o romance História de não acontecer, o escritor nos avisa de suas intenções ou falsas intenções e, após terminar o livro, o leitor perceberá que se tivesse desrespeitado as ordens teria apreciado menos. Mas de onde tirar para explicar essa história? São pequenos capítulos, muitos de uma página só e outros com apenas uma linha.Uma criança chamada N.A. parece deslocada dentro de um ambiente que não se sabe ser familiar ou não, se é uma prisão ou uma fantasia infantil para ilustrar seus medos. À medida em que os capítulos passam cada vez mais confusos e com descrições herméticas sobre idosos, familiares, sonhos e paredes, Schwaab apresenta uma paranoia pueril e uma falta de medo e compreensão do mundo que cerca o protagonista. Logo nas primeiras passagens é perceptível que N.A. não sabe o que é uma família ou mesmo o que são nomes, todos que o cercam são chamados por suas características: o Velho, a Velha, Homem, Tia, a Mulher, a Menina, o Gordo.

As três partes que dividem o livro “Começo e fim”, “Meio” e “Começo e fim” não se juntam em nenhum momento exato da narrativa, deixando o leitor reconstruir cada partícula desse pequeno universo para compreender a história de N.A., a criança que sofre com maus tratos da família e dos amigos. Sua visão do mundo é simplória como quando pensa na rotina de respirar e comer ou da primeira vez que viu uma mulher nua, a qual conhecia como Tia – ou a pobrezinha, como a Velha a chamava.

Porém, essa assimetria é arriscada, por mais que funcione em seu total, algumas frases parecem jogadas e soam mecânicas ao invés de ter um cunho poético como, aparentemente, planejara o autor. A pretensão em criar algo novo ou renovado faz parte da intenção de muitos jovens escritores brasileiros que vivem à sombra de, por exemplo, Guimarães Rosa ou Cervantes. Simbolismos através de truques linguísticos é quase uma falha garantida e mesmo com pequenos defeitos, o risco assumido por Schwaab vale a pena. O autor gaúcho cria um labirinto circular, onde o que está visível nem sempre é o que importa e quanto mais forçar o leitor a compreender, mais perto chegará de suas intenções (mesmo sendo um clichê falar de intenções artísticas).

História de não acontecer é um ótimo exercício para compreensão de texto – saber o que cada personagem representa na vida de N.A. e porque ele é tão odiado -, quem se arriscar a ler não pode passar batido pelas passagens, deve retornar para melhor apreciar esse pequeno livro de visões infantis que desemboca em uma história de horror a cada nova página.