Antes de começar a polêmica sobre o maior clássico de todos os tempos, gostaria de falar um pouco sobre minha paixão bandida: Futebol. Sim, podem me julgar. Não! Eu não estou brincando! Não sou apenas um cara que lê! Gosto de futebol, e muito. Me perdoem amigos intelectuais e leitores revoltados, mas isso estava preso na garganta desde os tempos de Copa do Brasil. Tenho time de coração, bar favorito para ver os jogos (alô, Wilson! Olha a propaganda), camisetas autografadas, copos, canecas e muitas outras referências à Sociedade Esportiva Palmeiras. Além dos amigos que me acompanham a estádios para xingar jogadores, cantar algumas músicas que quase todas as torcidas cantam – falta de criatividade é constante nesse meio dos compositores de gritos de torcidas organizadas. E acho que isso ocorre com várias pessoas, geralmente alguns metidos a intelectuais ignoram o futebol com veemência – pessoas pensantes não podem curtir um negócio físico -, outros não gostam ou não veem graça e muitos tem um time, mas não acompanham (aliás, esse é um dos casos mais usuais). O que me entristece é aqueles que tem vergonha do seu time ou de dizer que torcem. É uma sensação muito boa. Um desligamento excitante. Uma desculpa para beber, gritar, comer amendoim e passar o domingo com boas companhias – atirado no sofá ou na frente da churrasqueira.

Por que confesso isso na última coluna do ano? Há dois motivos. O primeiro é porque amanhã, domingo, dia 04 de dezembro, é uma espécie de final para o Campeonato Brasileiro – para quem não acompanha, é uma competição em pontos corridos, ou seja, quem somar o maior número de pontos é campeão – e os dois times que se enfrentarão é o Corinthians – possível campeão – e Palmeiras – não disputa o título, mas pode estragar a festa do arquirrival. Isto é: O maior clássico de todos os tempos. Ouvirei muitas pessoas dizendo que esse não é o maior clássico, mas é. Desculpem. As quartas-de-final da Libertadores de 1999 são um dos ápices dessa história junto com as embaixadinhas de Edílson na final do Paulista do mesmo ano. Eu tenho amigos palmeirenses e corintianos e toda vez que nos reunimos para ver esse tipo de jogo rola uma tensão doentia e ao mesmo tempo prazerosa – não existe coisa melhor do que ter o gosto doce de poder fazer pouco caso com o time do outro. Enquanto é saudável vale muito a pena. Não adianta colorados, gremistas, galo, raposa, red devils, o maior clássico é o Dérbi Paulista. Clássico é clássico e vice-versa. E ainda afirmo e reafirmo: Não acredito em intelectuais que não tem um time do coração.

O segundo motivo para citar esse segredo guardado a cadeado destrancado é a chegada do Natal, mesmo que não role uma lista de presentes é bem fácil descobrir o que vou ganhar: Livros. Pode ser que eu já tenha, pode ser que seja um lançamento, um best-seller ou um clássico, não importa, irei ganhar livros. Falo isso por causa de muitos amigos que pedem opinião sobre livros, ou que repassam suas antigas obras para mim, e pela minha família pedindo a listinha. Nada contra, adoro ganhar livros, mas existe muito mais do que um leitor por trás desse simulacro. Notem que aqueles que são amantes de cinema, provavelmente ganharão muitos DVD’s, se gostam de músicas ganharão CD’s (hoje em dia um hábito em extinção, mas creio que os mais fissurados chegam a ganhar vinis tamanha a paixão) e se você é adolescente e metaleiro ganhará uma camiseta preta, se você gosta de esportes ganhará camiseta do seu time de coração, chuteiras ou algo co-relacionado. Não digo que as pessoas não tenham criatividade, na verdade elas gostam de entregar presentes seguros. Antigamente presente era uma surpresa, você compraria algo que talvez a pessoa gostasse de acordo com as preferências dela, mas hoje em dia, em grande parte, muitas pessoas já deixam divulgadas suas listas de desejos para ninguém errar – o que pode ser um problema, afinal é bem mais fácil ganhar presente repetido.

Cada um tem um jeito de presentear, é claro. Já presenteei a Izze, aqui do Meia Palavra, com um livro do Bolaño. Já dei livros para namoradas, pretendentes, amigos/as e até para sogras. E aí você chega e diz: “Mas você também dá livro para todo mundo”. Claro que algumas vezes são livros, só que não fico só nesse padrão, gosto de presentear as pessoas com algo que eu gostaria de ganhar também (se eu dei lingerie é porque quero ganhar algo também, não necessariamente uma roupa de baixo) e posso começar pelos livros, mas logo passar para outras coisas, é claro, afinal dá para saber quem dos presenteados realmente vai/gosta de ler. Não vou negar que existem outros presentes relacionados que podem tirar um sorriso natalino de um leitor assíduo: um moleskine, um marca-página personalizado, um little thinker, só é preciso um pouco de tempo e criatividade (como naquela citação de Estrela distante: “Com criatividade qualquer um consegue qualquer coisa”).

Como eu citei o maior clássico do esporte bretão, gostaria de lançar o desafio: Qual o maior clássico da literatura de todos os tempos? Imaginem dois livros clássicos disputando para ser campeão. Vocês teriam coragem de julgar Guimarães Rosa contra Machado de Assis? Colocar os gigantes russos em um embate onde um, apenas um, poderia ser o campeão absoluto – e não toda aquela ladainha de 1987 que causa polêmica até hoje entre Flamengo e Sport Club Recife? Particularmente, não consigo eleger um grande clássico. Eu tenho diversos livros favoritos que são considerados canones e ainda sim não conseguiria colocá-los frente a frente. Provavelmente é mais fácil eleger os 20 candidatos a série A do Campeonato Clássico de Literatura?