Ele causou frisson no Brasil. Foi o primeiro autor a confirmar presença na FLIP 2012, depois de não ter conseguido vir para o lançamento de Liberdade, e não houve quem tenha saído apático da mesa-encontro com ele. Alguns detestaram – eu me incluo entre estes; outros adoraram – como o Gigio e a Dindii, que me permitiram rever a mesma mesa com outros olhos e até chegar a apreciá-la. Minha opinião para a mesa foi erguida para acima do muro: ao mesmo tempo em que eu me lembro claramente de minha vontade de estar em qualquer outro lugar que não ali, eu tenho que dar o braço a torcer e admitir que, se aquela mesa foi capaz de produzir impressões tais como a do texto dos dois, ela não pode ter sido de todo má.
Creio que meu maior problema com a mesa foi a falta de novidades, a falta de algo que eu já não tivesse ouvido antes. Não à toa, eu não queria estar “em qualquer outro lugar” realmente, mas em minha casa, lendo A zona do desconforto, pois estaria ganhando mais. A experiência foi interessante (diria até antropologicamente interessante), mas em algum momento eu percebi que prefiro ler certos escritores a vê-los falar.
Não é de hoje que leio não ficção produzida por Jonathan Franzen. Após a delícia que foi ler Liberdade, fui atrás de entrevistas, ensaios e artigos. A entrevista dele para a Paris Review (a mesma dos volumes lançados pela Companhia das Letras) é um belo complemento à leitura de Liberdade – ela foi traduzida e publicada pela Revista Serrote, mas pode ser lida diretamente em inglês. Seus “libelos” contra a tecnologia são famosos: “Amor sem pudor”, sobre os incômodos celulares e as desmedidas demonstrações públicas de afeto pós 11 de setembro, e “Curtir é covardia”, sobre a indústria do botão “curtir” no Facebook, são dois dos que mais gostei de ler – ambos parecem ter sido publicados também na reunião de ensaios Como ficar sozinho. Os ensaios sobre o Alzheimer de seu pai, publicado na revista Piauí, e sobre as perguntas mais difíceis que os romancistas têm de responder, publicado no The Guardian, também são icônicos.
Este último, que vai da questão das entrevistas literárias para a questão autobiográfica e do quanto da família e da vida real dele foi transposto para As correções, que lhe valeu o National Book Award, é uma boa forma de introdução para A zona do desconforto. Logo nos primeiros capítulos, temos acesso não apenas à habilidade do autor em contar uma história, mas também à crônica familiar dos Franzen. O primeiro capítulo, sobre a venda da casa dos pais após a morte da mãe (um imóvel que toda vez que recebia alguma benfeitoria tinha de ouvir um “Vai ajudar a vender a casa!”), tem interessantes ressonâncias na primeira (e curtíssima) parte de As correções, livro que tem me seduzido há meses.
Abrangendo um grande período da vida do autor (e da história americana), de sua infância até o casamento que representava uma traição a si mesmo (como repetiu menos brilhantemente na FLIP), A zona do desconforto apresenta um bom número de páginas intensas e sinceras. Não que isso seja um valor em si, como se a ficção fosse tão somente “mentiras acumuladas” e a não ficção tivesse alguma espécie de primazia: não seria capaz de dizer isso, por ser um cara mais afeito à ficção. Talvez, quando estiver mais velho, como disse Carol Bensimon, quem sabe? Talvez seja apenas uma implicância-reflexo do que vejo em algumas oficinas literárias: algumas pessoas teimam em crer que frases como “aquilo aconteceu de verdade” ou “isso aconteceu comigo também” são elogios, e se esquecem de coisas como “escrever bem”.
Não é, em absoluto, o caso de Franzen. Quem gosta da desenvoltura dele nos romances, encontrará o mesmo cuidado com a linguagem em seus ensaios.
Para finalizar, gostaria de comentar brevemente o capítulo que, no momento, é o que mais tem crescido em mim como leitor: sabe aqueles trechos que lemos, curtimos e, muito tempo depois, percebemos que criam mais e mais ecos dentro da gente? Esse é o caso do segundo capítulo, em que há uma mistura de reminiscências infantis (ele era meio que o cdf da turma) e de referências à vida de Charles Schulz e às tirinhas que ele criava (Peanuts, aquela dos adoráveis Snoopy e Charlie Brown). A paixão do jovem Franzen por aquelas tiras – as únicas que, segundo ele, prestavam no jornal que as publicava – é algo comovente.
A referência aos quadrinhos já tinha tudo para me pegar de jeito no capítulo, mas há outra coisa que costuma me prender como leitor: a presença de um trecho que faça referência mais explícita ao título do livro. A “Zona de Conforto” na casa de seus pais foi fonte de muitas brigas entre eles. Mas, afinal, o que ela é propriamente? Deixo isso para você descobrir no livro.
podem me chamar de cretino mas apesar de nunca ter lido nada dele acho ele como pessoa monótno
e não me convenceu as falas dele na Flip sinceramente pelo que ele deve ter recebido
era no mínimo obrigatorio da parte dele apresentar uma boa dicção.
sem contar outras opiniões sobre as palestras dele que não vou falar pra não ser linchado rsrsrrs
mas ja a obra dele confesso que ainda quero ler e sua resenha só contribuiu para isso . ^^
Eu só o vi na FLIP mesmo. Nunca fui atrás de coisas dele no YouTube etc.
Mas, bah, se escreve bem, tá valendo. =)
eu, eu, eu, meu…
que texto chato e egocêntrico
Bom, é uma opinião. Tanto o meu texto quanto o teu comentário.
Obrigado pela visita e volte sempre. ^^
Relaxa, cara. O Tertuliano só tá falando da experiência dele com o referido autor e suas obras.
Fala, Arthur.
“A experiência foi interessante (diria até antropologicamente interessante), mas em algum momento eu percebi que prefiro ler certos escritores a vê-los falar.”
Ué, mas isso não acontece com todos os escritores? haha
Um abraço.
Não, hahahaha. Sou muito mais ver o Gary Shteyngart falando do que ler outro livro dele. Não que eu não tenha gostado do livro: gostei, mas não sairia atrás de outras coisas dele. Agora ele conversando… eu pago quantos ingressos forem necessários. =P
E tem outros que são tão bons de ler quanto de ouvir falar.