Humberto Gessinger é vocalista, baixista, guitarrista e líder da banda Engenheiros do Hawaii, conhecida pelos hits O Papa é Pop, Piano’s Bar, Refrão de Bolero, Infinita Highway, entre outras. Escreveu três livros: Pra Ser Sincero, Meu Pequeno Gremista e o novo Mapas do Acaso, todos lançados pela Belas Letras. A banda formada em Porto Alegre na década de 1980 lançou 18 álbuns e 5 DVD’s ao todo. Atualmente, Humberto trabalha com o Pouca Vogal junto com Duca Leindecker. O músico e escritor topou responder às 10 perguntas e meia, confira:


1. Qual a diferença entre um livro e um canção? O que cabe em uma que não serve na outra?

Texto, música, livros, discos… são as ondas que chegam no litoral. No fundo, é o mesmo oceano. Para mim, escrever uma canção é um ato que se justifica por si só, mesmo que ninguém a ouça. Já um texto não lido me parece algo tristemente incompleto.

2. Geralmente, muitos críticos ou especialistas tentam classificar a intenção de um autor/músico/cineasta em fazer críticas ou passar mensagens em um trabalho. Há alguma intenção nas suas letras?

Nenhuma intenção consciente. Minhas músicas são como eu sou, não coloco uniforme e luvas para escrever. Se um estudante de arquitetura que não sabe nadar usa, como nome de sua banda, Engenheiros do Hawaii, deixa claro que não tá afim de ser modelo pra ninguém.

3. Nas músicas do Engenheiros do Hawaii podemos notar diversas referências literárias. Há algum autor em especial que você gostaria de homenagear e ainda não o tenha feito?

Nunca parei para pensar se as citações são proprocionais a importância dos autores para mim. Tenho a impressão de que elas ocorrem mais por que a canção pede do que por proselitismo.

4. Quais escritores são seus favoritos? E bandas/músicos?

Há livros que foram tão importantes para mim quanto discos (Grande Sertão: Veredas, 100 Anos de Solidão, A Peste, O Estrangeiro, Lobo da Estepe), mas não tenho com escritores a mesma relação apaixonada que tenho com músicos. E, na música, meu viés sempre foi o da composição: Gil, Chico, Caetano, Dylan, Leonard Cohen, Joni Mitchell, Roger Waters…

5. Em Pra Ser Sincero, você fala de alguns momentos importantes da banda e da sua vida, como as saídas de integrantes. Em algum momento você pensou em parar de vez com o Engenheiros do Hawaii por conta dessas saídas? Por quanto tempo ainda vai durar essa “pausa” na banda?

Tudo passa pela minha cabeça. Sempre. Para mim, o mais importante, no formato, é que não crie ruídos para minhas canções. A experiência do Gessinger trio me esinou isso. Ao menos até o fim do ano, sigo só com o Pouca Vogal.

6. Como surgiu o Pouca Vogal? Existe alguma grande diferença para você entre subir ao palco com a banda completa e tocar só com o Lendecker?

Há muito tempo eu pensava em fazer um trabalho neste formato, um power-duo. Desde o início dos 90. Demorou para achar o cara certo e para nossas agendas coincidirem. Engenheiros do Hawaii era uma banda estranha que, bem ou mal, se encaixou numa cena que já existia. No Pouca Vogal, a gente teve que inventar a própria cena, não tem ninguem fazendo o que a gente faz. É mais difícil, mas a diversão compensa.

7. Há alguma parceria musical que você gostaria de tentar? Por quê?

Não me ocorre nada, a não se seguir…

8. O que acha da inovação tecnológica ajuda (ou atrapalha) no mundo dos discos e livros?

Se o artista está no comando da tecnologia, é ótimo. Piano também é um lance tecnológico. Tecnologia mecânica… Quando a tecnologia passa a ser a coisa mais importante da obra, não me sinto muito atraído. Quando, por exemplo, Radiohead lança um disco e só se fala na forma como ele foi vendido (download ou sei lá o que), é empobrecedor. O papo de economia/tecnologia tomando espaço da música.

9. O que acha do cenário atual do rock no Brasil e no Mundo?

Não tenho a menor idéia do que está se passando.

10. Por que você não gosta de cinema? Foi um trauma de infância?

Tem um tanto provocação esta minha afirmação. O que realmente acho que empobrece o ambiente é esta suposta hegemonia da linguagem audiovisual. Não é por ficar empilhando sentidos (audição, visão… daqui a pouco até cheiro vão ter os filmes) que se tem um meio mais rico do que, por exemplo uma corda de violino ou algumas letras numa folha.

10. 1/2 pop poupado ou pop papado?

O iPad não poupa ninguém.