A Mostra deste ano apresenta uma seleção especial chamada Foco Coréia, cujo objetivo é oferecer um panorama da produção sul-coreana para além dos diretores premiados, ou dos filmes de terror, que costumam chegar aos cinemas daqui.

O Garoto Lobisomem brinca com a fama que tem os filmes de terror coreanos e faz com que o espectador espere por um filme de gênero que acaba não vindo. Soon-Yi é uma senhora idosa que vive nos Estados Unidos, um dia recebe uma ligação, retorna à casa onde vivia na adolescência e é invadida por lembranças de quase 50 anos atrás.

Aos 16 anos, Soon-Yi mudou-se com sua mãe e irmãs para uma grande casa no interior, por conta de um problema em seus pulmões. Enquanto as irmãs frequentam a escola e fazem amizade na vizinhança, ela permanece isolada e sozinha, enclausurada dentro de casa enquanto tenta escapar das investidas de Jin-Tae, filho do sócio de seu pai morto. Em uma madrugada, uma espécie de menino-lobo aparece no quintal da casa e acaba sendo adotado pela família.

A relação entre o menino, chamado por elas de Chul-Soo, e Soon-Yi evolui lentamente de medo e ódio para a amizade e uma espécie de amor calado, independente de gestos ou palavras. É de forma sutil que o diretor constrói o apego da menina a sua primeira companhia, o único ser humano que lhe dá atenção e a vê como algo a ser admirado, não digno de pena.

O vínculo entre os dois personagens é construído com tanta ternura, e os atores fazem com que funcione tão bem, que na média os diversos problemas do filme acabam sendo ignorados, a atenção fica toda concentrada no que acontecerá com eles. Garoto-Lobisomem tem problemas de roteiro: informações são jogadas na tela sem nunca serem desenvolvidas, como a relação entre Jin-Tae e a família e a depressão de Soon-Yi no início do filme. Além disso, falta motivação a Jin-Tae e tudo parece um tanto esquemático ou óbvio.

Entretanto, nada disso torna-se realmente um defeito. Os clichês funcionam de forma divertida e Jin-Tae é um vilão tão detestável que mesmo achando-o unidimensional, o público não tem alternativa a não ser odiá-lo. O filme parece jogar obviedades sabendo o que são e, embora não chegue a subvertê-las, usa-as de forma irônica. É um filme divertido, com uma história central envolvente e que, apesar dos defeitos, acaba conquistando o espectador.