Quando eu tinha lá pros meus 6 ou 7 anos de idade, a minha mãe me matriculou na natação do CREC do meu bairro, Vila Baeta Neves, em São Bernardo do Campo. Ela fez isso no inverno. Não havia aquecimento. Logo, o professor dava atividades lúdicas para todos os matriculados (leia-se futebol para os meninos e pega-pega para as meninas).

Naquela época eu não era fã de futebol e tampouco achava legal jogar ou assistir. Por influência, em grande parte dos colegas dessas atividades, eu sonhava em ser goleiro da seleção brasileira. Não poderia ser de time, porque não seria de coração. Teria de ser da seleção.

Eu cresci. Imaginei e cogitei ser ator. Ignorei ser jogador, comecei a torcer para meu time do coração e, logo depois, participei do grupo de teatro do meu colégio. Atuei nas peças: O fantasma da ópera, O mágico de Oz, O despertar da primavera e uma de autoria de um dos colegas de sala.

Eu tinha nascido para aquilo. Envelheci um ano e não quis mais ser ator.

Na minha adolescência cretina, eu gostava de cinema. Queria ser crítico. Parecia menos trabalhoso do que ser cineasta. Era divertido assistir aos filmes e falar bem ou mal. Durante anos mantive num caderno de 90 páginas todas as minhas “notas” para filmes. Título, nome do diretor, ano de produção e nota.

Aquele caderno viveu grandes momentos, incluindo a minha obsessão por Bergman, Lars von Trier e cinema brasileiro.

Era época de prestar vestibular: meu pai queria que eu fizesse Direito. “O que te deixar feliz”, dizia minha mãe.

Ser feliz não era bem matéria de vestibular. Prestei cinema. Quase passei na USP. Passei na FAAP e na Metodista. Não queria Cásper Líbero. Escolhi Metodista pelo contracheque dos meus pais à época.

Não gostava da faculdade. O ambiente estudantil. A graduação. Um porre. Desisti de ser crítico. Tentei ser diretor. Cansei. Diretor de fotografia. Desisti. Diretor de elenco. Uma boa, mas só de vez em quando. Roteirista. Bingo.

Passei o último ano da faculdade entre esboços e o famigerado Trabalho de Conclusão de Curso. Passamos (o grupo) com falhas. E pensei achar o meu caminho entre as letras. Faço meu trabalho, entrego e as pessoas se viram para captar, editar e tudo mais. Mas ainda existia o senso crítico. Aquele menino que queria ser crítico de cinema também queria ser crítico do trabalho alheio.

Voltei ao trabalho em grupo.

De vez em quando eu escrevo para os outros, às vezes para mim mesmo. Em grande parte, não escrevo para ninguém. Anoto, risco, deleto e arquivo. Muitos vão para o lixo.

O irônico é que nunca edifiquei a ideia de ganhar grana com nenhuma dessas coisas. Minha mãe estava certa. Eu só queria ser feliz mesmo.