Tem coisas que decoramos na escola. Não. Não é aprendizado. Acho que algo que aprendemos não é enfiado goela abaixo por outra pessoa, necessariamente. O aprendizado é algo que descobrimos por nós mesmos, se fodendo como a vida sempre quis. Precisamos daquela queda de bicicleta para continuar a andar e até para desistir de vez. Há pessoas que aprendem a ficar quietas no momento apropriado por terem sido esculhambadas muitas vezes. E quem nunca ouviu que quem lê mais pode aprender mais coisas? Não acho uma máxima, mas levando em consideração dá para se evitar constrangimento se você conhecer algumas dicas dos mais variados autores quando a questão é sexo. Porque o sexo nada mais é que o aprendizado máximo. Maior do que a meditação durante o tédio. Toda vez que se muda de parceiro ou de sexo que você cobiça, as coisas mudam, a química é diferente, os corpos, os pontos erógenos, etc. Não sou um professor. Mas vamos ver o que nos ensinaram no maravilhoso mundo das letras.

I – Você pode querer suas 72 virgens no céu, mas deve se lembrar que fanatismo religioso tem limite quando tantas mulheres e americanos no prato estão ao seu alcance. Às vezes D’us apenas quer brincar de te dar fantasias para depois arrancar. Se você acha que está no paraíso, pense bem antes de se entregar a tantas maravilhas, afinal você pode estar em coma e ser um vegetal pelo resto da vida. (“O paraíso é bem bacana”, André Sant’Anna).

II – Se uma amiga sua gosta de pegar mulheres e te chama para dormir no apartamento dela, quando a namorada/amante também está, não quer dizer necessariamente que ela vai querer fazer sexo a três. Aliás, se você aparecer com seu poderoso membro fálico balançando na frente de duas lésbicas se amando, cuidado, elas podem pegar um fio de televisão e bater em você. (“Trilogia Suja de Havana”, Pedro Juan Gutiérrez).

III – Você nasceu mulher do sexo masculino ou homem do sexo feminino? A genética te ferrou, não só porque você sente atração pelo mesmo sexo, mas justamente porque seu corpo parece errado. No lugar da sua benga você sente uma vagina e vice-versa. Para piorar você tem um irmão gêmeo e machão que adora tocar uma bronha. Assumir outra identidade pode ser ideal. Só que você tem uma Dopplegänger. Uma metade verdadeira que você conhece e é a sua cara. Ele pode ser seu fracasso na nova transformação sexual ou um verdadeiro trunfo. (“Do fundo do poço se vê a lua”, Joca Reiners Terron).

IV – A experiência é mãe das decisões. Você pode não ter certeza se quer fazer sexo com meninos ou meninas, ou até com os dois. Mas pode experimentar. Nada te impede. Nem o seu pai que é um guru espiritual. E não precisa ter certeza a primeira vez. Um dia você pode pensar que o filho da amante do seu pai é o amor da sua vida e que você é gay, rola uma intimidade entre vocês, mas mais tarde uma atriz pode aparecer e sua consciência irá te dizer que você curte experimentar. (“O buda do subúrbio”, Hanif Kureishi)

V – Em Praga existem vários tipos de exposições e concertos. Aliás, você pode um dia querer pagar uma bagatela para ouvir uma pianista misteriosa tocar. Claro que malhar o pênis é o mais apropriado, ela, com certeza, irá usar seu fálico membro para tocar uma sinfonia disritmada e totalmente luxuriosa. (“O livro de Praga”, Sérgio Sant’Anna)

Há dezenas de livros. Um amigo meu, estudante de letras na USP, me contou certa vez que todo escritor é um pervertido, e quando se põem a escrever sobre sexo conseguem ser irrepreensíveis. Ok, não vão te ensinar como chupar alguém ou coisa do tipo, mas com certeza atiçará a imaginação de se seria possível ou não qualquer situação absurda acontecer. O máximo é você achar um manual de masturbação por parte de um judeu em O complexo de Portnoy, cenas de estupro em Viva o povo brasileiro ou até como os tempos modernos tornaram as pessoas pouco acessíveis ao verdadeiro gozo da vida:

“Se bem que, como eu também ia dizendo, as restrições todas nos forçaram a conseguir caminhos inteligentes para superá-las, o que nos  tornou melhores mulheres em todos os sentidos, inigualavelmente melhores do que seríamos sem elas. Aprendemos a dobrar situações adversas, desenvolvemos áreas intelectuais, emocionais e sociais que do contrário teriam ficado estagnadas, atrofiadas. E aprendemos a transar, a curtir tudo. As mulheres, paradoxalmente, nesta era de liberdade, estão ficando incompletas, em relação a nós. Não todas, nunca são todas, mas muitas de nós aprenderam a gozar por praticamente todos os buracos do corpo, basta dominar uns truquezinhos e exercitá-los com um certo afinco; eles, quando menos você espera, se tornam automáticos, parecem inatos. A necessidade deu muita criatividade à minha geração, muita versatilidade. Aprender a apertar as coxas produtivamente, por exemplo, muitas mulheres não sabem mais, a necessidade não as espicaçou. Antigamente era muito mais comum a mulher gozar apenas apertando as coxas uma contra a outra, ou quase isso, havia recurso para tudo, havia realmente um certo virtuosismo hoje perdido, pela  falta de exploração plena de nossas potencialidades. Enfim, conseguimos transformar  o limão em diversas limonadas, transformamos o limão em laranja doce, melhor dizendo.” (A casa dos budas ditosos, João Ubaldo Ribeiro)

Onanismos mentais à parte, tem gente que não gosta de pornografia, como terão pessoas que acharão inconcebíveis situações apresentadas pela literatura – inclusive na Bíblia (o Antigo Testamento). Seja como for. O sexo sempre esteve presente em quase tudo que o homem concebe no mundo. E como no cinema que tem gêneros específicos para o sexo, a literatura também tem. Só depende do que tu procuras.