E começa tudo de novo. Que saudades eu estava de ficar “moço, só um minuto, calma, eu tenho certeza que vou achar minha credencial”, do homem que fala alto, da mulher que acha que ninguém deveria comer no cinema e, claro, dos filmes.

Relatos Selvagens – Quantas vezes você esteve preso no trânsito e desejou, de verdade, com apenas a praticidade te impedindo, passar por cima de todos os carros da frente com um tanque? Relatos Selvagens é sobre o quanto a existência contemporânea nos torna animais e faz aflorar o pior das pessoas.

Kafkiano, violento e repleto de humor negro, é quase uma versão irônica de Um Toque de Pecado. Foi produzido por Pedro Almodóvar e seu irmão Agustin, e é possível sentir sua influência, mas é um filme mais despretensioso, de um humor mais refinado, com a aura de rebeldia que muitas vezes traz o jovem cinema argentino.

Tsili – Amos Gitai é o mestre dos planos longos, tempos mortos e filmes cheios de respiros. Às vezes ele usa esses recursos para contar histórias amarradas, começo, meio e fim, apesar da pouca ação. Em outras usa o cinema como meio contemplativo, imagens, formas, ritmos e sons que se acumulam sem necessariamente formar uma narrativa. É o caso de Tsili.

Formado como arquiteto, Gitai sempre dá um papel central ao espaço, aqui uma floresta russa, durante a Segunda Guerra, onde dois judeus se escondem. Pouco se sabe sobre eles, se as duas atrizes representam as mesmas personagens ou a ordem cronológica dos fatos. É um exercício de estilo, bastante belo e poderoso, que evoca, sem investigar a fundo, questões a respeito da identidade judaica, do mundo ídiche e do relacionamento entre o judaísmo de Israel e o da diáspora.