Atitude punk movida a rock ‘n roll, sexo e bebedeiras.

Filmes de terror, violoncelos e atitude. Não é raro encontrar hoje nas ruas das grandes capitais uma pessoa usando camiseta com cores berrantes, lenços no pescoço, blusão de couro, costeletas enormes e um respeitável topete tingido de cores fortes.

Das muitas vertentes do rock, o psychobillie é uma das que tem obtido grande destaque na cena underground brazuca com festivais como o Psycho Carnival, cuja sétima edição foi realizada em fevereiro deste ano e a Psychobillie Fest, que acontece já há onze anos e neste será realizada nos dias 09 e 10 de Setembro.


Origens

O termo psychobillie foi usado pela primeira vez pelo compositor Wayne Kemp na canção “One Piece at a Time”, escrita por ele e interpretada por Johnny Cash, que chegou a vigorar entre o Top 10 americano em 1976, onde ele citava um “psychobillie cadillac” . Apesar da canção não fazer nenhuma referência ao que viria ser futuramente o gênero “Psychobillie” pode-se dizer que Kemp foi o pai do termo que daria nome ao estilo.

No final daquela década, o rock havia perdido a simplicidade do seu início da década de 50, e as pessoas começavam a se cansar dos solos de guitarra gigantescos e do tom psicodélico das bandas da época, dando espaço para as discotecas tomarem conta do cenário musical.
Em meio ao tédio que dominava as rádios soou um grito de protesto, e o movimento punk começou a aparecer por toda Europa e Estados Unidos, atacando todo o sistema em vigor e propondo um retorno as raízes do rock, com fúria e rebeldia.

Foi nesse cenário que os integrantes do The Cramps fizeram as primeiras experiências ao misturar referências rockabilly ao punk, descrevendo em flyers de seus shows a música que tocavam como “psychobillie” e “rockabilly voodoo”, unindo definitivamente o termo a sonoridade que ainda estava se aperfeiçoando. Lux Interior, o líder do The Cramps, até hoje rejeita a idéia de sua banda fazer parte do cenário psychobillie, mas não há como negar que eles, juntamente com artistas como The Stray Cats, Screamin’ Jay Hawkins e Lemmy Kilmister (vocalista do Motörhead) foram os precursores e entusiastas do movimento.

Outra banda que marcou o gênero e é considerada a primeira banda exclusivamente psychobillie foi a The Meteors. O grupo foi formado no sul da cidade de Londres em 1980 por um integrante envolvido com o rockabilly, outro ligado à cultura punk e um terceiro que era aficcionado por filmes de terror. A união dos três conceitos definiu os caminhos que seriam seguidos pelas demais bandas que surgiriam. Pode parecer uma fusão contraditória, mas para compreendê-la basta retirar o sentimentalismo do rockabilly e substituí-lo por uma boa dose de inconformismo, raiva e humor.

Também foi da Meteors que se originou a idéia do psychobillie ser um movimento basicamente apolítico. Suas músicas tratavam basicamente de temas insólitos como perversões sexuais, crimes passionais, filmes B e outros assuntos escatológicos, fundiam o punk rock e o rockabilly, e isso acabava se tornando um estímulo para seus shows se tornarem zonas “não-politicas”, evitando assim os constantes conflitos entre grupos de ideologia punk que eram comuns na época. Esse pensamento foi incorporado ao movimento psychobillie, fazendo com que a grande maioria das bandas que seriam criadas futuramente também seguissem essa atitude.

Klubfoot e os “Psychobillie Weekenders”

Todo gênero rock teve um templo, e assim como o punk teve seu lugar garantido no CBGB, o psychobillie também teve o seu em uma boate chamada Klubfoot, localizada em Hammersmith, Londres. O lugar foi inaugurado em 1982 e proporcionou, além de um palco para as bandas se apresentarem, uma enraização daquilo que viria a ser uma cultura, possibilitando ao movimento um espaço para difusão do estilo que logo se espalhou pela Europa, particularmente na Rússia, Dinamarca, Holanda, Alemanha, Espanha, algumas regiões dos EUA e no Japão. Para a tristeza de muitos adeptos ao psycho, o clube foi demolido para ceder lugar para um prédio de escritórios e uma rodoviária.

E apesar da grande notoriedade no circuito underground, a cena psychobillie nunca foi o que poderíamos chamar de popular, logo os fãs ingleses do gênero em meados da década de 80 passaram a organizar o que chamavam de “Psychobillie Weekenders”, as festas psychobillies de fins-de-semana, onde várias bandas reuniam-se para tocar atraindo público de todo continente europeu.

Com a expansão por culturas diferentes, o próprio psychobillie acabou se subdividindo: enquanto no começo dos anos 80 (com Meteors, Sharks, Batmobile) era similar ao punk ou ao garage rock, o psychobillie do final da mesma década já lembrava mais o heavy metal (com Nekromantix, Demented Are Go, Klingonz, Mad Sin), enquanto o estilo dos anos 90 e 2000 se aproxima do som do psychobillie norte-americano (Reverend Horton Heat, Los Gatos Locos, Tiger Army), mas sem perder sua tendência para temas de terror, sexo, violência e bebedeira.

Os Topetes no Brasil

O psycho logo desembarcou nos territórios brasileiros com o crescimento da cena rockabilly nos anos 80. Bandas como Coke Luxe e João Penca e Seus Miquinhos Amestrados faziam uma releitura do rock com temas atuais, e enquanto isso o punk invadia os porões do underground nacional.

No ABC paulista surgem os Kães Vadius, com doses altas de malícia e maldade misturadas ao terror de suas letras. Com eles apareceram os topetes, agora mais conhecidos como “quiffs”, maiores e com mais gomalina. As tatuagens surgiram por todo o corpo na forma de gatos, carros antigos, pin-ups, nomes de ídolos dos anos 50. As Camisetas de cores berrantes e gola levantada, sapatos de sola alta, calças largas com frisos laterais, paletó com aplicações na lapela, costeletas e os tradicionais blusões de couro em conjunto com o jeans desbotado e camiseta sem manga. Foram os precursores do psychobillie nacional.

Não demorou muito para que surgissem outras bandas no circuito alternativo, como K-Billy’s, S.A.R., Missionários, A Grande Trepada, Cervejas, The Krents, que inclusive já figuraram em coletâneas internacionais do estilo, voltando a atenção mundial para a cena brasileira.

Os primeiros a lançarem um álbum fora do país foram os curitibanos d’Os Catalépticos, pela inglesa Nervous Records. A banda chegou a participar da décima edição do Big Rumble, o maior festival psycho mundial, e tocaram no mesmo palco que bandas renomadas como Meteors, Guana Batz, Los Gatos Locos, Long Tall Texans e Frenzy entre outras. A banda anunciou seu afastamento dos palcos em janeiro deste ano e sua última apresentação aconteceu no Psycho Carnival 2006.
Do rompimento d’Os Calépticos surgiu a renovada Sick Sick Sinners que junto com outras bandas nacionais como a Ovos Presley e a Chernobillies contribuem para difusão do gênero pelos palcos brasileiros, mantendo vivo o rock movido a atitude, terror e sexo.

Agradecimentos:

Vlad – Sick Sick Sinners
Giuliana Puget – Cherry Grrrl

Serviço:

Fórum Psychobillie Brazil