Continuando o artigo iniciado semana passada, falo sobre os detetives saindo das páginas dos romances policiais, indo parar no cinema e, consequentemente, criando um novo estilo adotado na indústria cinematográfica nos anos 30, os filmes noir.

O filme policial surge na França no começo do século XX, mas é nos EUA, a partir da década de 1930, que o gênero se firma. Cenários sombrios e escuros, neblinas, cenas de violência envolvendo crimes, criminosos, detetives particulares, policiais, belas mulheres, aristocratas, gângsteres e ladrões. Filmes noir (escuro em francês), foi um nome dado pelos críticos franceses, o primeiro deles foi Frank Nino em 1946, quando notaram uma tendência no uso mais escuro no jeito e nos temas no filmes americanos lançados na França durante a guerra.

Os primeiros filmes abordavam a luta da policia contra quadrilhas de Chicago, ocorrida nos tempos da lei seca. “Scarface” fazia uma alusão ao chefão da vida real Al Capone (como muitas histórias, a vida real viria a inspirar novos filmes). James Cagney se tornaria célebre interpretando gângsteres violentos e loucos em filmes como “Inimigo Público”, “Fúria Sanguinária” e “Anjos de Cara Suja”. O maior astro desse estilo de filme foi Humphrey Bogart, interpretando detetives particulares adaptado das novelas policiais de sucesso, “O Falcão Maltês – Relíquia Macabra” e “A Beira do Abismo”.

Seguindo por ambientes claustrofóbicos da cidade grande, retratando o lado ruim e não glamuroso, como era mostrado por outras produções, nesse cinema a fotografia em preto-e-branco era um atrativo à parte, mexendo com contrastes e criando uma atmosfera fria e obscura para o espectador se sentir de fato sufocado e atordoado.

Nos filmes noir as tramas tornam-se mais complexas, ligando-se a detalhes e mais detalhes que podem ou não influir no desfecho da história. Para começar deveríamos nos perguntar em quem poderíamos confiar, já que o chamado mocinho não existia mais, dando lugar a pessoas cujos interesses pessoais vêm em primeiro lugar. Pessoas más, corruptas e gângsteres eram as personagens principais e suas formas subversivas de conseguirem o que queriam foi o que tornou esse gênero obscuro.

Um gênio importante que gostava do noir era Orson Welles. Em “A Dama de Xangai” tingiu de loiro o cabelo de sua esposa, Rita Hayworth, transformando-a em uma loira fatal. Em “O Falcão Maltês – Relíquia Macabra”, de John Huston, temos a introdução de vários personagens típicos de um filme noir: a loira fatal e misteriosa, o pistoleiro sanguinário e o chefão de alguma organização. É característica também a narração do protagonista, o que não quer dizer que ele termine a história vivo.

Grandes reviravoltas na trama tornaram-se o grande desafio para manter o espectador atento. Esse é o diferencial dos filmes noir, cujas histórias e personagens eram ainda os focos principais, o que exigia uma construção elaborada para poderem fazer com que o público se apegasse aos seus casos e à trama. Quando nem tudo é o que parece e quando muito do que suspeitávamos não completava um terço do quebra cabeça, ficávamos interessados em saber como o nosso detetive iria resolver aquilo.

O uso da violência nos filmes noir era o que tornava os anti-heróis grandes atrativos de suas tramas. Esse tipo de violência foi evoluindo durante os anos deixando espaço não só para ela própria, mas também para as cenas de ação com perseguições de carro, tiros, explosões e qualquer outro artifício que pudesse dar mais ênfase em tais cenas. Equilibrar seqüências de ação e história é uma tarefa muito difícil, sobretudo no quadro cinematográfico atual, no qual podemos dizer que as cenas de ações que enchem os olhos e nos deixam boquiabertos as vezes não tem razão para existir ou não fazem parte do contexto como um todo.

Nos anos 60 e 70, os filmes passaram a se tornar mais violentos, incluindo o envolvimento dos policiais nos casos que investigam, seguindo o modelo de “Bullit”, de Steve McQueen, e as duas partes de “Operação França”, com Gene Hackman. Nesses filmes destacam-se as cenas de perseguição envolvendo carros. Outro exemplo é “Chinatown”, com Jack Nicholson e dirigido por Roman Polanski, conta uma trama cujo protagonista é um típico detetive dos anos 40 e 50 que se envolve com uma loira fatal (considerado uma homenagem ao noir por ser colorido, tirando os grandes contrastes e apenas se situando nas tramas).

Nos anos 70 os filmes passam a abordar freqüentemente as atividades da máfia como o sucesso do diretor Francis Ford Coppola, realizado em duas partes (a terceira parte apenas nos anos 90), “O Poderoso Chefão”, estrelando Al Pacino e Robert de Niro, que se tornaram ícones do gênero policial. Pacino fez dois filmes baseados em histórias policiais reais: “Um Dia de Cão” e “Sérpico”. De Niro interpretaria Al Capone no filme de Brian de Palma, “Os Intocáveis”.

Na próxima semana: Homenagem ao noir no cinema atual

Comente esse artigo no Fórum Meia Palavra.