Há boatos de que chego atrasada em todas as cabines. Nego. Como nego que toda Mostra eu chegue atrasada em algum filme por pura lerdeza e acabe vendo sentada no chão. Nego até a morte.

Tudo Que Amamos Profundamente – Desde o início do filme algo está errado. É possível sentir o cheiro nas falas, nas atuações, na fotografia e na música de que algo não vai bem na história apresentada. É apenas o primeiro longa de Max Currie, mas ele manipula o espectador como um mestre: quando o pecado dos personagens é revelado, já estamos tomados demais por eles para julgar.

É um filme sobre acreditar naquilo que queremos acreditar e sobre as mentiras contadas para seguir em frente. Com atuações precisas e excelentes e uma fotografia linda, o filme é uma das boas produções que têm chegado recentemente da Nova Zelândia.

As Maravilhas – O prêmio do Grande Júri de Cannes é quase uma novata: antes de As Maravilhas, Alice Rohrwacher fez apenas um longa, o interessante Corpo Celeste. Em ambos o foco é uma garota adolescente, a descoberta de si mesma e de seu lugar no mundo.

Rohrwacher é lírica, íntima, delicada até o extremo da delicadeza. Seu filme é belo, sutil, feminino e sensual, mas da sensualidade própria de sua protagonista de 14 anos. Em um ano em que muitos dos premiados parecem estar no lugar do extremo distanciamento intelectual, a diretora oferece uma obra calorosa, amável e intensa em sua despretensão.