Ontem assisti Luzes da Ribalta, de Charles Chaplin. Assisti-lo me fez lembrar de outros filmes do Chaplin e refletir sobre em que se transformou o cinema contemporâneo. Não existem mais filmes como os que Chaplin e Keaton costumavam fazer.
Hoje o cinema se resume a histórias viciadas e repetitivas. Carros, barulho, violência, sexo e explosões. Não que eu tenha algo contra um filme assim de vez em quando, mas quando só o que se produz são filmes desse gênero, então o cinema e os nossos tempos parecem estar com algum problema.
Alguém pode negar o carisma de personagens como o “vagabundo” (conhecido por aqui também como Carlitos) de Chaplin, no cinema mudo, que transmitiam sem palavras o que cem horas de um solilóquio não poderiam? Como que por mágica, transbordavam sentimento, nos levavam onde bem entendiam sem que para isso precisassem profanar o momento usando a fala. Ela não era necessária, não a expressão oral. Esses filmes falavam de outra forma. O gênio desses sujeitos podia simplesmente ignorar tal vã formalidade.
No que se transformou o cinema hoje? Sobre o Brasil não há muito que dizer. Como sempre, somos atrasados, incompetentes e ruins. Alguém sabia que o Estado brasileiro oferece uma boa ajuda em incentivos aos filmes nacionais? Se não me engano, funciona mais ou menos assim: Algum diretorzinho tem uma idéia sobre um filme, geralmente algo polêmico abordando favelas, tráfico ou ditadura. Ele apresenta essa idéia, consegue financiamento (às vezes na casa de milhões), gasta mais do que pode e no final culpa os EUA pelo fracasso do filme.
Os EUA não estão muito melhor nisso tudo em termos de qualidade. Quantias absurdas de dinheiro, próximas ao PIB de alguns países pequenos, são gastas na produção de filmes que por vezes não dizem absolutamente nada. Se resta alguma esperança, ela está na Europa e talvez em alguns países do oriente…
Voltando ao Chaplin. Luzes da Ribalta, mais ainda do que outros de seus filmes, tinha muito dele. Vê-lo sem maquiagem interpretando Calvero – o velho e melancólico palhaço que morre para permitir que a juventude floresça – é emocionante e simbólico. Terry era a jovem que Calvaro impediu de cometer suicídio, jovem que passou a amá-lo. Amor que talvez possa ser confundido com piedade. Enfim…
Luzes da Ribalta foi, talvez, sua obra-prima. Na época, Chaplin não passava por bons momentos. Era acusado de comunista por abordar temas humanos como a fome e exploração, nos dias tensos da guerra fria. Antes, já havia sido “denunciado” como judeu, depois de filmar corajosamente O Grande Ditador (no auge da popularidade dos regimes fascistas) coisa que não era, mas nunca se importou em refutar.
Sinto falta de personagens como o Carlitos. Das suas cabriolas, originalidade, do seu jeito de lidar com as adversidades, da sua compaixão e principalmente sua capacidade de compartilhar tudo isso com sinceridade e franqueza.
(Esse artigo é uma colaboração do leitor Raphael L. Piaia.)
Quanto ao cinema brasileiro, não tem como discordar. Basicamente, nossos filmes se resumem a isso mesmo, favela, tráfico e ditadura. É raro termos algo que foge a isso, mas exemplos existem: O Céu de Suely (Karim Ainouz), Lavoura Arcaica (Luiz Fernando Carvalho) e A Máquina (João Falcão), por exemplo.
Assim como os tempos são outros, creio que o cinema também precisa acompanhar esse ritmo. Se a vida real está cheia de sexo, drogas, explosões, o cinema pode e deve retratar tudo isso, mas de preferência de uma maneira competente, o que não acontece na maioria das vezes, é verdade.
Ao contrário de você, eu vejo esperança no cinema americano. Só para pegar alguns exemplos recentes de como dá para confiar no cinema dos eua temos: Sangue Negro, Na Natureza Selvagem, Pequena Miss Sunshine, Juno e O Visitante.
Personagens como Chaplin, realmente não temos hoje em dia. O lado bom, é que isso permite que ele seja cada vez mais valorizado.
Mas há uma homenagem a Chaplin e aos seus filmes feita recentemente, Wall-E, é claro. Os 30 minutos sem diálogos são uma obra-prima e remetem ao bom e velho cinema mudo. E é mais uma prova que o cinema americano ainda vale a pena.
Muito bem destacada a questão de alguns filmes estrangeiros recentes, tem coisa boa também. Lógico, adaptado aos novos tempos. Mas alguns valem a garimpada
Sou obrigado a admitir que nem terminei de ler o artigo. Quando cheguei na parte “Sobre o Brasil não há muito que dizer. Como sempre, somos atrasados, incompetentes e ruins” achei melhor nem terminar.
Em fim… Vou comentar só o que li:
Bem… Não somos atrasado, incompetentes e ruins. Acho que o autor do artigo se esqueceu de avaliar que a arte se manifesta diferente em locais diferentes. O cinema brasileiro não vai ter a mesma qualidade gráfica que o cinema norte americano e talvez não tenha também a “intensidade” do cinema europeu, mas isso não faz da nossa 7º arte uma coisa menor ou pior.
É só você comprar um Keanu Reeves com um Shelton Melo. A diferença está na cara!
Chaplin foi “O” cara? Sim, mas na época dele. Hoje em dia ele seria só um palhaço transitando entre o cômico e trágico.
Para terminar, acho que o cinema mudo foi a coisa mais legal que aconteceu nos anos 20 e 30, mas foi só durante essa época. As coisas morrem, porque a arte tem tempo de vida. Já se foi a época do cinema mudo, agora estamos na era do cinema explosivo. Imagina ver 2001 sem trilha sonora! Seria horrível!
PS: Quando terminar de escrever esse comentário, vou tentar ler o artigo de novo.
PS2: Acabei de ler o artigo e continuo achando válido o que escrevi. Ou eu realmente estou vendo um mundo que não existe ou não sei o que está acontecendo com o cinema…
Ainda que possamos ter raramente alguma coisa boa, Maldonado, tenho a impressão de que o que divulgamos como supra-sumo do nosso cinema (tanto aqui como no exterior) são sempre filmes desse pior gênero. As possíveis exceções não recebem nenhuma amplitude.
Um dos meus problemas com o cinema brasileiro, além dos já mencionados, é a tal da renúncia fiscal. É uma das coisas que faz com que eu não tenha vontade de nem mesmo me aventurar com algum filme novo nacional, mesmo quando garantem que conseguirei assistir até o fim.
Quanto ao cinema dos EUA, não disse que tudo que produzem é ruim: “Quantias absurdas de dinheiro, próximas ao PIB de alguns países pequenos, são gastas na produção de filmes que Por Vezes não dizem absolutamente nada” Repare que não afirmei como algo absoluto. Note também que os filmes americanos que você citou são na maioria de baixo orçamento se comparados às grandes produções (os filmes que assisto, por exemplo, são na maioria ianques)
O Wall-E é genial. Esse artigo foi escrito há alguns anos, quando eu era mais garoto. Na época o Wall-E ainda nem estava no papel, creio.
Breno, se tranqüilize. Garanto que é sua prerrogativa gostar de filmes nacionais. Alguns preferem Chaplin, outros o tal “Zé Pequeno”… Só seria interessante se esses filmes não fossem produzidos com dinheiro que deveria ser público (dinheiro roubado da sociedade). Afinal, nem todos são obrigados a gostar apenas de “favelas, tráfico e ditadura”.