As sessões seguem sendo canceladas, a Mostra não me ama mais! Não consegui ver o novo do Miyazaki, mas deixo aqui minha opinião de que é lindo, pelo simples fato que é o novo Miyazaki. Pelo menos eu sou honesta quando opino sem ter visto.

A Gangue dos Jotas – É o primeiro longa de Marjane Satrapi que não existiu primeiro como graphic novel e no qual ela adiciona mais uma função ao seu já extenso currículo: a de atriz. No filme, uma mulher um tanto perturbada convence dois homens em um restaurante a ajudá-la a destruir uma gangue de mafiosos que está perseguindo-a.

Nada faz muito sentido, desde a personagem semi-autobiográfica de Satrapi à esdrúxula gangue em que todos os nomes começam com Jota, mas é um tipo de nonsense divertido, simpático e que em momento nenhum se leva a sério suficiente para estragar a piada. É engraçado ver a própria Satrapi, de quem achamos que sabemos tanto depois de ter lido Persépolis, encarnar uma mulher de passado misterioso. É uma mistura de road movie com filme de máfia falado em francês, é curioso, agradável e comprova o senso de humor peculiar, mas curiosamente eficiente, da diretora.

O Estranho Curso dos Eventos – Saul é um enfermeiro noturno que já há muito tempo se distanciou da família: do pai e sua nova namorada, da filha, da ex-mulher. Um dia ele retorna a casa do pai para uma visita de acerto de contas e acaba sofrendo um acidente que o força a finalmente interagir com aqueles que abandonou.

O filme de Raphaël Nadjari tenta ser sutil, mas acaba apenas sendo um tanto sem alma. O diretor tenta retratar a mudança de Saul sem grandes arroubos ou um arco de transformação claro, o que poderia funcionar se os personagens em questão fossem mais verossimilhantes, entretanto, eles aparecem apenas como clichês cuja vida interior, se existe, o espectador nunca chega a acessar. O pai ausente, o filho ressentido, a madrasta new age, todos cumprem seus papeis e comportam-se da forma esperada, mas nada se sabe sobre suas motivações, ou aquilo que verdadeiramente os move. É um filme lento e que não chega a ser ruim, mas ao qual falta sensibilidade.