Eu passei a minha vida inteira ouvindo as pessoas falarem mal das obras de Coelho.Fora os fiéis fãs do autor, me parece que todo o resto do país tende a não gostar de seus escritos. Mas jamais dei muita atenção para a popularidade, ou falta dela, do escritor no Brasil, até eu mudar de país.
Assim como a maioria, eu sempre soube que os livros do brasileiro são muito lidos mundo a fora, principalmente na Europa. Quando cheguei à Alemanha, me pus a pesquisar sobre essa diferença de opiniões, e a coisa esquentou.
Comecei a minha “jornada curiosa” nas minhas livrarias favoritas e na maior rede de livrarias por aqui. Todas elas, sem exceção, contaram-me sobre o enorme sucesso dos romances de Coelho e sobre suas vendas excelentes. Confesso que toda vez que ouvia frases como essa eu coçava a minha cabeça e tentava entender. Perguntava-me se a resposta estava na tradução.
O meu interesse diminuiu e eu acabei esquecendo a temática, até que em uma conversa corriqueira na redação onde trabalhava, uma amiga alemã, que estudou Literatura e Teatro, me disse que Paulo Coelho era o seu escritor favorito. Aí vocês podem imaginar a minha confusão. Eu informei a ela sobre as críticas negativas que ele recebe no Brasil e ela ficou chocada.
Quando pensei ter todo o material que eu precisava para este artigo, ouvi mais uma conversa intrigante: Uma amiga da minha faculdade estava contando, eufórica, que há poucas semanas havia comprado seis livros do Paulo Coelho e mal podia esperar para terminar todos; e disse: “ ‘Veronika decide morrer’ salvou a minha vida”. Entendam vocês que eu precisei interromper sua narrativa. A minha curiosidade falou mais alto que a minha educação. Eu mencionei à ela e às outras quatro, que suspiravam ao ouvir falar do livro, que seus romances não são exatamente benquistos no meu país.
Ali eu percebi estar discutindo um problema cultural, e a pergunta que eu fiz a elas, farei aqui. Será que a intolerância brasileira para com os livros de Coelho tem a ver com a maneira como ele usa o idioma ou com os assuntos que ele aborda? Será que nós somos tão culturalmente forçados a aceitar uma única verdade que todas as outras são imediatamente descartadas? Eu não estou aqui defendendo ou criticando qualquer coisa, mas levantando uma questão que me interessa pessoalmente.
Sei que uma grande percentagem de pessoas que lêem muito não se deixam levar por especulações religiosas ou pela mentalidade de suas crenças. Mas será mesmo que é a Literatura como arte e não a nossa cultura que não aceita as suas histórias? Naquele momento eu vi que os europeus pensam que sim. Uma outra amiga, que morou na Bolívia, disse entender perfeitamente porquê o povo brasileiro evita os livros de Paulo Coelho, pois por mais “avançada” que seja uma mente sulamericana, ela ainda vai carregar em suas entranhas os preconceitos cristãos.
Se eu estava conversando com um bando de mulheres desesperadas, que precisam de palavras de auto-ajuda, ou se nós somos preconceituosos irremediáveis, não sei, mas fato é que Coelho é apedrejado no Brasil e adorado na Alemanha, se isso tem a ver com um deus único ou a falta dele, eu deixo em aberto. E se nós realmente levamos nossa cultura impregnada no sangue, eu continuo me perguntando…
Mais ácida impossível…
Antes de ler a sua obra tinha muito preconceito a respeito do autor, o primeiro livro que li dele foi ano passado e foi As Valquírias, bastante curioso, a partir daí começei a ser sua leitora assidua.
Bem o problema do povo brasileiro é que a maioria das pessoas não leem e quando leem costumam comprar aqueles romances estúpidos são vendidos em qualquer banca de jornal, nas escolas e nas universidades não há estímulos somos condenados as ”verdades” convencionais, vivemos em um mundo coisificado e cada vez mais uniforme, na qual se voce pensar diferente dos demais é visto como um ser estraterrestre.
Eu li um livro de Paulo Coelho, o “Onze Minutos”. Confesso que não gostei: pareceu-me um texto rasteiro, um visão estranhamente moralizante do sexo, entre outras coisas. Mas, evitando comparações com outros autores, tenho certeza que ele tem um estilo que agrade parcela dos leitores. Porém, não consigo compreender como ele faz sucesso de crítica fora. “O Alquimista” chega a ser leitura recomendada em universidades de renome nos EUA.
Confesso, talvez seja minha limitação intelectual, mas não vejo grandes mérito na literature de Paulo Coelho (nas parcerias com Raul Seixas, vejo). E essa contradição me intriga tanto que pretendo ler outros livros dele. Até porque, sou agnóstico, o que afasta a tese da cristandade.
Um nota interessante: apesar de não gostar do livro que li – e acredito que não devo gostar de outros dele – costumo adorar as entrevistas dele. É recorrente como concordo com sua visão de mundo, quando exposta em entrevistas. Quando ele vai para os livros, não sei o que ocorre, desagrada-me.
Ótimo texto! É importante discutir o tema
Abs.