Eduardo Rotgeller está chegando ao fim de uma longa e insípida carreira acadêmica. Seus alunos o detestam e seus colegas o ignoram. Agarrando-se a uma inesperada possibilidade de sucesso, ele está disposto a suportar tudo, da convivência com um rival ao desinteresse de seu bolsista, para deixar uma marca no mundo.

Rotgeller é um acadêmico que tem apenas sua profissão e suas flores para partilhar na vida. Essa novela soa como um ensaio sobre a velhice imediata, o medo de chegarmos a lugar nenhum com conquistas de outrora. Uma vida inteira de trabalhos e estudos para, em dado momento, perceber que a glória e seu legado ainda não estão marcados nem na história da universidade e nem em sua história pessoal.

Sua superioridade é quebrada por essa realidade, o sonho de que era intocável e indispensável é destruído e depois de anos ele tem de sair do seu pedestal, ao descobrir que terá de dividir sua verba de pesquisa com outro professor, de seu status e tornar-se um mortal que deve sonhar com ambições ainda não conquistadas.

Perto do fim dessa jornada da vida acadêmica é que se percebe que não é muito mais especial do que outros muitos que estão por aí, às vezes com a mesma ambição e muitas outras com uma maior ainda. A mesmice das aulas. Ao andar penoso de quem está vivendo no ostracismo. O coração de Rotgeller pode aguentar essa realidade que se aproxima? Incompreendido aos olhos de seu estagiário Guilherme, diferente de bolsistas da vida real que geralmente admiram ou querem seu nome atado ao de seu tutor.

Quando perdemos nossos sonhos, quando os deixamos de lado, quando ainda sonhamos; e quando os sonhos enfrentam a realidade se ser só? Ser uma pessoa solitária, esquecida no tempo, um fantasma que convive com seus fantasmas. O que o tempo nos leva senão mentiras e sonhos? E a realidade que nos resta é a da imediata ausência.

A imersão do mundo da velhice, aos olhos de uma pessoa jovem como o autor Samir de Machado de Machado, nos releva o medo de sermos esquecidos, ou pior, ao medo de não seguir mais com o tempo, mas ser levado por ele sem termos às mãos o controle dessa viagem. Ao final dessa jornada questão é levantada: podemos ser surpreendidos após tantos anos no conformismo e conforto de ter a “certeza” de quem fomos e somos, mas nunca ao alcance de quem seremos.