No que consiste o trabalho de um escritor? Talvez, mais do que escrever em si, consista em criar: a literatura é a resposta por escrito para tudo as necessidades interiores do escritor, não atendidas pelo mundo exterior. Por isso, por mais que baseie em eventos reais, a ficção é parte essencial da literatura.

Pelo menos é isso que Rimas da Vida e da Morte, do israelense Amós Oz, demonstra. No livro um escritor se prepara e dá uma palestra sobre sua obra. Enquanto o faz ele observa a platéia e cria para cada uma das faces que vê uma vida, com suas expectativas e ilusões; sempre lembrando do poeta Tsefania Beit-Halachim, igualmente inventado.

São estórias interessantes que ‘o Autor’ cria para as personagens. Uma garçonete que foi amante de um jogador de futebol. Um playboy moribundo. Um jovem cheio de angústia que sonha em ser poeta. Um homem triste e sozinho que está desempregado e precisa dividir a cama com a mãe deficiente.

Imagina mesmo seus encontros com essas pessoas e até mesmo tem um relutante romance com uma jovem e solitária que lê trechos de seu romance na palestra, e no qual mais do que o desejo ou o amor, é a insegurança que prevalece.

Mas toda essa atividade criativa é secundária: o próprio fato de criar é o material de Oz, tanto que em meio a considerações ele destrói e reconstrói certos trechos. Em certo momento ele escreve que ‘o Autor’ ‘… escreve mais ou menos do mesmo modo que sonha ou se masturba: um misto de compulsão, desespero, angústia e perversão’.

Amós diz que não existem respostas diretas, apenas respostas espertas ou respostas evasivas. Ele com certeza foge à responder a grande questão que propõe. Mas parece que é esse mesmo seu objetivo: a resposta, afinal, é inerente ao modo como cada um cria e, porque não, como cada um lê.

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RIMAS DA VIDA E DA MORTE

Amós Oz

120 páginas

R$ 33,00

Saiba mais sobre essa e outras obras no site da Companhia das Letras