Certamente, já aconteceu com você. E não só com você, mas com a maioria das pessoas. Uma pequena ação não pensada acaba desencadeando uma grande história cheia de gente envolvida e totalmente sem controle. De cara, “O Cão dos Baskerville”, de Sir Arthur Conan Doyle, lembra muitas outras narrativas em que a trama é movida exatamente dessa forma.

Na história, existe uma espécie de maldição, que nos é apresentada na forma de manuscrito pelo médico Dr. James Mortimer, quando este resolve procurar os serviços de Sherlock Holmes para desvendar as mortes que acontecem na família dos Baskerville, em especial a de Sir. Charles Baskerville.

Segundo o manuscrito, em uma determinada noite, Hugo Baskerville, que segundo descrito, “era um homem muito violento, profano e ímpito” e seus amigos resolveram seqüestrar uma “bela donzela” na qual Hugo se apaixonara. Levaram-na para o Solar dos Baskerville e a trancaram enquanto davam uma festa. A menina conseguiu fugir, e, como todos estavam bêbados e sem pensar, acabaram por segui-la. O resultado desta noite foi a morte de Hugo, por um cão que se assemelhava a uma besta negra e pavorosa.

Desde então, outros assassinatos se estenderam na família e o manuscrito passou a ser usado como um alerta, como diz um trecho dele próprio “E gostaria que acreditassem, meus filhos, que a mesma Justiça que pune o pecado pode também graciosamente perdoá-lo, e que não existe maldição tão pesada que não possa ser anulada pela prece e pelo arrependimento. Aprendam, portanto, com essa história, a não temer os frutos do passado, mas antes ser prudentes no futuro…”

E é essa a trama inicial, que conduz o livro a uma alucinante busca por respostas. É realmente um cão quem está por trás dos assassinatos? Por que o médico, Dr. Mortimer, se interessa por este caso? Estamos lidando com magia ou ciência? A cada momento, novas questões vão surgindo, de forma que se torna impossível soltar o livro até solucioná-las. E qualquer bom livro de suspense e investigação tem que ter essa característica. São as perguntas que faz com que queiramos prosseguir com a leitura. Neste caso em especial, também outras características chamam atenção.

Uma delas é o fato do livro contar uma história que se passa no século XIX. A limitação da tecnologia da época obriga a investigação se passar muito mais usando um raciocínio lógico e ação do que aparatos tecnológicos, defeito que ocorre na maioria das narrativas atuais. Em vários livros considerados excelentes, como por exemplo, “O Colecionador de Ossos”, isso acontece: A tecnologia vira um recurso para solucionar problemas, o que hora torna a coisa interessante e curiosa, mas de outro lado vira uma “válvula de escape” para solucionar problemas de forma mais rápida.

Outro ponto interessante é que o autor consegue reproduzir certa elegância e refinamento no modo de pensar de Sherlock Holmes, fazendo dele um dos personagens mais famosos e surpreendentes da literatura, na minha opinião. Ele nos mostra todo o caminho do raciocínio feito pelo personagem, seja nos diálogos com Watson, ou em seus monólogos quando está prestes a deduzir algo. E, por falar em Watson, é importante ressaltar que a narrativa é inteiramente construída de forma em que ele é o personagem-narrador que conta para nós, leitores, tudo que aconteceu quando ele e Sherlock Holmes foram resolver este caso. Isso causa uma relação de proximidade com tudo na trama, mas, se existe um ponto a se criticar negativamente no livro, talvez seja esse: A narrativa, contada no passado, pode acabar por esfriar um pouco a ação. Se contada no presente, temos muito mais a certeza de algo novo, que está acontecendo, que pode se reverter a qualquer momento. Mesmo assim, a história não deixa de ser interessante em nenhum momento, e recomendo.

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