Em 1986 Mario Vargas Llosa publicou Quem matou Palomino Molero?, um romance de estilo policial, que narra a investigação de dois oficiais, Lituma e o Tenente Silva no caso do assassinato de Palomino Molero, um soldado cujo corpo foi encontrado nas proximidades da Base Aérea de Piura, todo desfigurado e escoriado, devido a tortura a que foi submetido antes de ser morto.

Confesso que não sou um grande entusiasta de romances policiais, o que é completamente particular e que não quer dizer nada sobre o gênero. Até li vários livros da Agatha Christie e gostei bastante de O silêncio dos inocentes, mas não é o tipo de leitura que costumo fazer ou me entusiasmar para fazer. Enfim, esse esclarecimento talvez ajude a entender porque não gostei tanto desse livro.

Os diálogos são uma constante no livro, com pouca narração ou descrição, já que o desenrolar do mistério da morte de Palomino Molero é o ponto central que conduz a narrativa. Isso faz com que o livro em si não se aprofunde nos personagens, mostrando-os somente no que concerne ao crime em si, e não sendo explorados em suas facetas, seus dilemas e conflitos internos etc. (tipo de coisa que aprecio).

O ritmo da narração lembra bastante a cadência típica das investigações policiais, afeita aos detalhes concernentes ao processo de pesquisa, mas que desenvolve pouco psicologicamente os personagens; mais lenta e expositiva de dados, enfim, desenrola-se sem grandes reviravoltas ou situações-limite que coloquem ação ou riscos aos protagonistas. A trama parece muito confortável e pouco intrigante.

Dentro dessas balizas a história é bem amarrada, mas a forma como as pistas vão aparecendo sugerem uma resolução boba, daquelas que você sabe que, por ser um romance policial, vai se mostrar falsa e o verdadeiro culpado não é aquele mais óbvio. OK, isso não chega a constituir um problema, já que o culpado ser alguém inesperado é uma espécie de “lugar-comum” das histórias policiais, o que incomoda é a facilidade com que as pistas vão aparecendo e a resolução vai se aproximando, de modo que a aura de mistério em torno do cruel homicídio se desvaneça muito cedo.

O ambiente de caserna ou ao menos elementos do ambiente militar, recorrentes nas obras de Llosa, aparece novamente, colocando os militares na mira das investigações e no rol dos suspeitos. A proximidade da base aérea com uma vila de moradores aumenta o cenário da trama e coloca personagens caricatos na história, como a Dona Adriana, paixão platônica do Tenente Silva, que protagoniza cenas dignas de pornochanchada com esse.

Embora a história seja bem amarrada, a motivação do crime, a meu ver, deixou um pouco a desejar, já que não conseguiu convencer com plausibilidade o conflito e as razões nas quais o crime se baseou. Contudo, o desfecho da história é muito bom, principalmente o dos culpados do crime, que se enredam em um espiral fatídico de paixões e orgulho.

Llosa conclui as histórias dos protagonistas, dando-lhes um destino que lembra bastante Pantaleón e as visitadoras, deixando tudo amarrado e terminando o livro com a mesma frase com que a obra começa.