Rosana Hermann é bacharel em física e mestre em física nuclear, contudo é conhecida pelos seus trabalhos como escritora, roteirista e apresentadora de televisão. Escreve para diversos blogs, incluindo seu pessoal: Querido Leitor. Trabalhou como redatora do Sai de Baixo, Domingão do Faustão, Pânico na TV, X-Tudo, Viva a noite entre outros. Apresentou programas como Atualíssima, na Rede Bandeirantes, e Fala Brasil, na Rede Record. Graças ao seu currículo, hoje é professora de Roteiro de TV na Fundação Armando Alvares Penteado e ela topou responder 10 perguntas e meia!
1. Roteiros de série, televisão, rádio ou blogs… Em que lugar você se sente mais a vontade para fazer humor?
O humor requer cumplicidade do público, portanto, ele é tão mais gostoso de ser feito quanto mais íntima a platéia. O melhor é ao vivo, num palco. Ou no rádio, onde cada pessoa acha que é a única que está ouvindo. Em texto é mais difícil. E na TV, bem, o telespectador é muito crítico, só ri de quem ele já elegeu como sendo engraçado.
2. As crônicas publicadas no Blônicas já renderam dois livros. Assim como ele, temos vários outros exemplos de textos que fazem sucesso na internet e passam a ser publicados. Você acha que o público que lê seus textos na internet é o mesmo que compra seus livros?
Quem consome texto é um leitor em qualquer plataforma. Tem gente que tem preguiça de ler, não consegue passar do primeiro parágrafo e já está com cãibras no cérebro. Essas pessoas preferem o colunismo de notas, as fofocas em pílulas. O leitor tem outras características. Gosta do texto, da profundidade do conteúdo, a reflexão.
3. Influências. Quem você gosta, admira?
Admiro muita gente. Desde roteiristas de cinema como Charlie Kaufman, Bráulio Mantovani, a roteiristas de TV como Geraldinho Carneiro, Flávio de Souza (também dramaturgo), escritores como Ruy Castro, etc.
4. Na literatura, tem algum escritor que você acha que consegue agradar qualquer leitor?
Acho que Machado de Assis. Minha filha de 16 anos está encantada com Machado. Transcende gerações.
5. Todos os anos milhões de jovens tem dúvidas sobre qual futuro seguir e são pressionados a escolher, precocemente, uma carreira na universidade que depois gere arrependimentos. Você tem uma experiência curiosa, de mestre em Física Nuclear a comunicadora. Como essa mudança ocorreu? Sentiu medo da mudança? Enfim, comente um pouco dessa reviravolta na sua vida.
Nunca me arrependi de ter feito Física. Formou meu caráter, meu raciocínio. Mas se a física como formação é soberba, como profissão não me pareceu promissora. Sempre gostei de escrever, por isso a transição não foi tão tensa. E o fato de ser física acabou dando um toque específico para o meu trabalho como escritora.
6. Como você vê a questão do fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo?
Para matérias não técnicas, como jornalismo, acho que basta ter um diploma, mesmo que não seja específico de jornalismo.
7. Quais as diferenças entre fazer humor na internet e na TV?
O humor que funciona na TV é o coletivo e na Internet, funciona mais o humor pessoal. O humor na Web é mais inovador, eu acho.
8. “A inconveniência é a alma do humorismo” é uma citação do William Maugham. Concorda?
O riso é quase sempre de escárnio, de humilhação, um riso zombeteiro, que aponta o dedo para o erro, para o diferente, para a exceção. Aqui no Brasil a base do humor é a chacota, é escarnecer do outro. Brasileiro acha engraçado encher o saco do vizinho, do primo, do torcedor do outro time, ver o outro se dando mal. A alma do humor inglês pode ser a inconveniência, mas a alma do humor brasileiro é a crueldade.
9. Uma vez, pude presenciar uma palestra sua e você comentou que, para escrever bem e fazer humor, precisa-se de muita teoria e muita opinião, e que o melhor lugar pra procurar por opinião crítica era com os amigos. Você sempre teve sucesso naquilo que escreveu ou penou no início?
A graça é uma criatura em busca de um habitat. Se você encontra o ambiente propício, a graça se desenvolve. Senão, a graça acaba ali mesmo. O grupo fortelece o humor, quando todos são coniventes. Pode ver, humor de trupe sempre dá certo, porque eles impõem a graça sobre os outros.
10. Qual o futuro da TV em formato e conteúdo?
A TV vai deixar de ser a Maria Antonieta. Vai conversar com a plebe, vai trocar ideias com os revolucionários, o povo. Em vez de oferecer brioches para os famintos, vai partilhar o arroz e feijão com ele. Ou isso, ou a rainha perde a cabeça.
1/2. Ser Roteirista é…
o verdadeiro sentido de sacrifício, o sagrado ofício.
A equipe Meia Palavra agradece a atenção de Rosana.
Adoramos a entrevista, muito boa mesmo e ela sempre dando sua opinião clara e objetiva, a resposta mais legal foi sobre como eh o humor no Brasil.
PS: Se voce nao nos conhece, somos o perfil no Twitter para reunir os fas, admiradores e QLs da @rosana!
eu, em minha vasta ignorância, não conhecia a rosana hermann. até que ela publicou uma matéria desancando uma tradução – a cabeça de steve jobs. foi muito interessante e penoso ver a reação corporativista e defensiva da maioria dos tradutores que se manifestaram em seu blog e em outros espaços. rosana estava certa (era o tipo de tradução por decalque, como a gente diz, que gera um texto um tanto “empedrado”). foi uma lição.